Mourão enquadra o capitão
“Quem vai proibir a eleição?”, quis saber o vice-presidente no meio desse dia tenso. E a pergunta tem endereço certo: Bolsonaro
O vice-presidente Hamilton Mourão chamou o presidente Jair Bolsonaro na chincha nesta quinta-feira, 22. Sendo curto e grosso, o general colocou o capitão em seu lugar. Já que a nova crise foi criada pela caserna, que segundo o jornal o Estado de S.Paulo, ameaçou o presidente da Câmara, Arthur Lira, de que não haverá eleições no ano que vem se o voto impresso não for aprovado, um general de quatro estrelas entrou em ação.
“É lógico que vai ter eleição. Quem é que vai proibir eleição no Brasil? Por favor, gente, isso aí… Nós não somos república de banana”, disse o vice-presidente-general após meses nos quais Bolsonaro insiste com uma teoria conspiratória de que, sem uma auditagem nas urnas eletrônicas, as eleições brasileiras podem ser fraudadas.
Não esqueçam que o presidente chegou a dizer dias atrás que isso já ocorreu. No caso, em 2014. Segundo Bolsonaro, Aécio Neves teria ganho no lugar de Dilma Rousseff. Já se passou bem mais de um ano também do dia em que o presidente disse que a eleição de 2018 teve problemas, e que ele, Bolsonaro, teria vencido no primeiro turno. Até hoje, nada de nada. Necas de pitibiriba, xongas, lhufas – uma prova sequer.
Nesta quinta, 22, o Estadão informou que a ameaça contra Lira, a que cito no primeiro parágrafo desta coluna, teria vindo do ministro da Defesa, Braga Netto. Lira postou uma mensagem afirmando que “a despeito do que sai ou não sai na imprensa, o fato é: o brasileiro quer vacina, quer trabalho e vai julgar seus representantes no ano que vem através do voto popular, secreto e soberano”.
Ou seja, ele negou, mas o assunto ficou no ar. Mesmo que não tenha acontecido, é fato que os quartéis se contaminaram pela política desde 2018. De Braga Netto a Eduardo Pazuello. De Fernando Azevedo e Silva a Luiz Ramos. E a lista podia continuar.
Outro fato incontestável é que Bolsonaro nos ameaça dia sim, dia não nesta jovem democracia. Por isso, foi bom – muito bom, aliás – que um general, um vice-presidente, um Mourão, desse esse “chega pra lá” em Bolsonaro. E porque não dizer nos colegas generais da caserna. Mourão as vezes tem feito bem ao Brasil.