A “utopia” de Rodrigo Maia pela união do centro em 2022
Ex-presidente da Câmara defende processo de escolha de candidato com regras e condições iguais aos nomes cogitados pelos partidos, semelhante a prévias

Expulso do DEM e com boa chance de se filiar ao PSD, como ele próprio afirma, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) vê a necessidade de um “fato novo” no chamado “centro democrático” em busca de alguma candidatura que represente alternativa à polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial de 2022. O ideal para Maia, que recentemente se reuniu com Lula no Rio de Janeiro, é o que ele descreve como um processo semelhante às prévias partidárias, em que os nomes cogitados como pré-candidatos moderados tivessem regras e as mesmas condições para se colocarem. O próprio deputado reconhece, contudo, que a unificação de partidos centristas “parece até utopia”.
“Não vejo outro caminho que não seja união, um movimento forte de três, quatro partidos – tudo isso parece até utopia na política brasileira –, com a criação de uma regra de que todos os pré-candidatos colocados, não apenas os do PSDB [que fará prévias em novembro], possam participar com as mesmas condições, para que aquele que não seja escolhido tenha as condições de apoiar o escolhido”, disse Rodrigo Maia a VEJA. “Acho que fora disso é muito difícil que a gente consiga derrubar a polarização.”
Com as pré-candidaturas do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) e do quarteto tucano formado pelo governador de São Paulo, João Doria, o do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, que disputarão as prévias do PSDB, o centro deu um primeiro passo nesta semana, com um almoço em Brasília. As conversas, que incluíram presidentes de DEM, PSDB, Cidadania, Podemos e PV, além de políticos do MDB e Solidariedade, ainda são muito embrionárias. O PSD, que deve receber Maia, também terá candidato, como garante o presidente da sigla, o ex-ministro Gilberto Kassab. O preferido dele é o presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco (MG), atualmente no DEM.
Se até conversas iniciais demoram a deslanchar, a organização de um processo como “prévias pluripartidárias” naturalmente teria obstáculos, observa Maia. “Na maioria das vezes, todos aceitam a regra olhando que será o beneficiado, e depois se cria uma desculpa para sair do jogo. Tem que ser uma coisa muito bem-feita, com a participação de presidentes de partido, dos principais líderes, para que o movimento possa agregar forças e no processo a gente não perca nenhuma das pré-candidaturas”, avalia o ex-presidente da Câmara.
Para Rodrigo Maia, as conversas devem incluir o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que já toca sua pré-campanha com a ajuda do marqueteiro João Santana, e não podem excluir Doria, em função do que ele vê como importância estratégica do Sudeste, e particularmente de São Paulo, no pleito de 2022. Apesar de ter como trunfo a vacina, João Doria tem hoje menos simpatizantes do que Leite e Tasso dentro da cúpula do PSDB e sofreu uma derrota recente dentro da sigla com o formato definido para as prévias, com pesos diferentes aos votos de tucanos com mandato e filiados. O governador de São Paulo também teve atritos recentes com o presidente do DEM, ACM Neto, após a filiação do vice-governador paulista, Rodrigo Garcia, ao PSDB.
“Todos vão precisar compreender que São Paulo é o ponto chave, estado chave do eleitor do nosso campo, não há como isolar Doria dessa articulação. Numa eleição onde o Centro-Oeste tende a votar em Bolsonaro, o Nordeste em Lula, o Sul no Bolsonaro, o grande campo de batalha do centro vai ser o Sudeste. E, com mais força no nosso campo, São Paulo”, diz Maia.
Embora se mostre disposto a participar das cada vez mais complicadas articulações por uma terceira via, Rodrigo Maia faz acenos a Lula. Ao lado do prefeito do Rio, Eduardo Paes, um de seus aliados mais próximos, o deputado participou de um almoço com o petista na semana passada. Maia conta ter se colocado à disposição para discutir com o ex-presidente programas de governo e os problemas do país. “Não tenho problema em dialogar com Lula, não vou me negar a dialogar com nenhum dos atores que eu considero que estão no campo democrático”, justifica.