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Governo pode impedir a interrupção de remédio contra o alcoolismo no país

Dissulfiram foi descontinuado pela Sanofi Medley, desamparando milhares de usuários em tratamento contra a dependência ao álcool

Por Ronaldo Laranjeira
Atualizado em 3 jul 2020, 16h12 - Publicado em 3 jul 2020, 11h54

Alarmante: assim é a situação que recentemente se abateu sobre milhares de pacientes em recuperação do alcoolismo. O medicamento mais efetivo, barato e acessível para tratar a doença parou de ser comercializado no Brasil. Trata-se do Dissulfiram, que era produzido pela farmacêutica Sanofi Medley no país e tinha preço médio de menos de R$ 10 a caixa.

Em outubro de 2019, a empresa protocolou na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a descontinuação definitiva da fabricação da substância. Em nota divulgada em seu site, a “Sanofi informa que existem alternativas terapêuticas disponíveis”. Porém, isso infelizmente não é verdade. O Dissulfiram é, dentre todas as substâncias estudadas para tratamento do alcoolismo, a que se mostrou mais efetiva e eficaz no combate à doença, não existindo similares ou genéricos à venda no mercado.

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Como ele funciona?

Popularmente conhecido como Antietanol, este medicamento é usado desde a década de 50 para o tratamento do alcoolismo, com enorme sucesso. De uma forma simples, o Dissulfiram tem uma ação restritiva, inibindo o metabolismo do álcool pelo organismo, provocando reações adversas que fazem com que o usuário não consuma a substância.

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Aprovado nos Estados Unidos pelo respeitado órgão Food and Drug Administration (FDA), o medicamento é o único que demonstrou tamanha eficácia tanto na redução do consumo de álcool por parte dos usuários, quanto nos danos decorrentes do uso. O consumo excessivo provoca diversos males ao organismo (como hipertensão e diabetes) e também funciona como gatilho para o uso de outras drogas, como o cigarro e a cocaína. O Antietanol, então, causa um “efeito cascata” positivo ao usuário.

O que assusta é que a produção do Dissulfiram não foi interrompida por problemas com o composto e sim por uma decisão de mercado. Podemos até discutir os motivos que levaram a empresa a parar com a fabricação, porém, uma situação se torna preponderante: milhares de pacientes em recuperação, de todas as classes sociais, viram-se da noite para o dia sem um de seus principais e mais acessíveis recursos no combate à doença. E sem qualquer ação de órgãos públicos para impedir que isso ocorra.

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Inclusive, a Anvisa, em resposta a um ofício de um Procurador da República de São Paulo, reconheceu que autorizou tal paralisação e que não existem no mercado outros medicamentos com o mesmo princípio ativo que o Antietanol. A Anvisa também reconheceu que existem outros dois remédios registrados para a mesma indicação terapêutica, mas com composição e mecanismos de ação diferentes, que não substituem o Dissulfiram. Ressalto ainda que o Antietanol é recomendado pelo Projeto Diretrizes para o Tratamento das Dependências de Álcool e de Cocaína, criado pelas associações Médica Brasileira, Brasileira de Psiquiatria e Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas.

Com a pandemia de Covid-19 pela qual passamos hoje, a situação torna-se ainda mais desesperadora. Fatores como o isolamento social, agravamento da condição econômica, solidão e estresse são poderosos gatilhos para o aumento ou iniciação do consumo de álcool. Diante de tantas evidências, as comunidades médica e científica, usuários do medicamento e também suas famílias estão unidos por um objetivo em comum: a retomada da produção do Dissulfiram no Brasil. Não existem mais estoques ou sequer similares à disposição. Pior – sua importação torna o tratamento de difícil acesso à maioria dos usuários. Cada comprimido importado custa aproximadamente o mesmo que a caixa com 20 unidades, vendida anteriormente por aqui.

No momento, um recurso administrativo referente ao caso corre no Ministério Público Federal, representando uma oportunidade para que o governo brasileiro e suas instituições tomem medidas urgentes, para que uma decisão empresarial não deixe milhares de pessoas desprovidas de um dos principais recursos em sua luta contra o alcoolismo. Capacidade técnica e condições para impedir esse desastre o Brasil tem, inclusive para assumir a produção do Dissulferam. O que falta, no momento, é ação. Afinal, este caso não se resume a uma questão mercadológica. Trata-se de uma questão de saúde pública.

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(Ricardo Matsukawa/VEJA)
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