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As semelhanças da atual pandemia com os quadrinhos da Marvel

Em ambos a humanidade tem de aliar a ciência e a heroica missão de preservar vidas e, assim, salvar o planeta Terra

Por Marcus Bolivar Malachias
Atualizado em 11 Maio 2020, 16h40 - Publicado em 11 Maio 2020, 16h34

Mentor governava a lua Titã, satélite de Saturno, em clima de paz e avançada tecnologia. Seus filhos Eros e Thanos tinham habilidades e ambições antagônicas. Eros aproveitava a vida sem preocupações, apurando os sentidos e estimulando os centros de prazer dos seres vivos. Já Thanos, cujo nome fora inspirado em Thanatos – o deus grego da morte, dotado de elevada força e habilidade tática, almejava ardilosamente a conquista do reino assim como o amor de Lady Chaos.

Thanos se rebelou contra o próprio pai Mentor, ao qual restou recorrer a Kronos, que por sua vez criou Drax, o Destruidor, na expectativa de que pudesse defender o reino. Mas o Destruidor falhou e se rendeu a Thanos, que conquistou o trono de Titã e como prova de amor a Chaos, também chamada Senhora Morte, prometeu exterminar metade da população do Universo.

A história dos quadrinhos e dos filmes da Marvel guarda semelhanças e diferenças com a atual pandemia do Covid-19. Embora em ambos os casos a Terra esteja em risco, na vida real, em vez de um titã louco, forte e de elevada estatura, nosso inimigo atual é um vírus de 125 nanômetros, só visualizado à microscopia eletrônica. Ao contrário de uma manopla, contendo as seis joias espirituais – espaço, tempo, mente, poder, alma e realidade, nosso vilão possui uma forma esférica com numerosas espículas proeminentes que formam uma coroa, o que lhe rendeu a alcunha de Coronavírus, um rei coroado e dotado de seis titânicos poderes – difusão, replicação, mutação, invasão, infecção e inflamação.

Curioso pensar que as mais ricas e poderosas nações se armaram para a defesa de suas divisas e populações investindo maciçamente na ampliação do contingente de seus regimentos e na expansão de seus potenciais bélicos, que de nada adiantam para conter a invasão do invisível assassino atual.

No campo de guerra, sobram bases anti-aéreas e faltam hospitais, há tanques mas não leitos de terapia intensiva, há mísseis mas não dispomos de respiradores, há armas nucleares mas faltam vacinas e remédios eficazes, os mais treinados exércitos são incapazes de mitigar o devastador efeito de uma simples tosse ou da ingênua proximidade de alguém atingido em combate pelo inimigo.
Nem o conjunto de todos os líderes do planeta – presidentes dos poderosos países e CEOs das grandes corporações, com seus super-poderes políticos e econômicos, têm sido capazes de apontar estratégias definitivas de enfrentamento da dramática situação. Entre alterativas divergentes, a melhor tática parece ser o afastamento do campo de batalha e o recolhimento em “bunkers” domiciliares.

No atual conflito, enquanto a população e seus generais se isolam, nossos vingadores mais capacitados a enfrentar os exércitos contrários não são homens-de-ferro, mas sim mulheres-e-homens-de-branco – médicos, cientistas e profissionais de saúde, que, como super-heróis também se paramentam, mas ao contrário de coloridas vestimentas de titânio, vestem-se com frágeis aventais e máscaras cirúrgicas, com as quais enfrentam o exército inimigo de forma destemida, sem escudos metálicos e martelos mitológicos, movidos apenas pelo compromisso juramentado em favor da saúde.

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Ao mesmo tempo, cientistas de áreas até então estranhas e esquecidas – como epidemiologia, imunologia, patologia, infectologia, entre outras, se debruçam em pesquisas para descobrir contra-ataques biológicos, assim como para explicar e prever o mecanismo de difusão viral.
Interessante pensar que, em plena era da biotecnologia, da inteligência artificial e da imunofarmacologia, as mais efetivas armas contra o vírus-titã sejam as ancestrais técnicas de higiene, assepsia e isolamento – preconizadas por Semmelweis no século XIX, fármacos à base de quinino, já utilizados pelos incas peruanos no século XIV – como a cloroquina e anticorpos do soro de sobreviventes – como testado na gripe espanhola de 1918, assemelhando-se ao poder das antigas joias do infinito na ficção.

Enquanto pesquisadores se concentram para encontrar armas biológicas capazes de quebrar a invulnerabilidade do rei-vírus, como no cinema, a humanidade começa a despertar para a necessidade de união. Apesar de ainda existirem insensíveis e radicais, emerge um exército solidariedade entre pessoas de todas as profissões, idades, nacionalidades, ideologias, credos, classes sociais, que unidos em comunhão, mesmo que à distância segura, esquecem as suas milenares desavenças e arraigadas opiniões como nunca se vira, aprendendo a lição maior de que todas as demais questões não têm relevância diante da premente necessidade de defesa da saúde e da sobrevivência.

Mais uma vez, como na ficção, o conhecimento será capaz de suplantar a força, a esperança vencer o medo, a resiliência suplantar a tristeza e a união de ideias e ideais de toda a humanidade, aliando ciência e a heroica missão de preservar vidas, deverá salvar o planeta Terra.

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