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As muitas conexões entre a hipertensão arterial e o câncer

Apesar de serem grupos distintos de doenças, o câncer e a hipertensão compartilham muitas causas comuns, como envelhecimento e genética

Por Marcus Malachias
Atualizado em 10 dez 2018, 14h49 - Publicado em 10 dez 2018, 13h43

O conjunto das doenças cardiovasculares e os vários tipos de câncer representam, respectivamente, a primeira e a segunda maiores causas de morte no Brasil e no mundo. Esses grupos distintos de doenças que crescem a cada dia, compartilham, contudo, muitas causas comuns, como o envelhecimento e o aumento de peso da população, alimentação inadequada, tabagismo, poluição, hereditariedade, genética, estresse, entre outros.

A hipertensão é o principal fator de risco para as mais graves complicações cardiovasculares, como infartos e derrames cerebrais, acometendo mais de 30% da população geral.  A relação entre câncer e hipertensão tem se tornado cada vez mais estreita em função dos tratamentos utilizados para uma que, frequentemente, pode induzir a outra doença.

Quimioterapia eleva a pressão

A maioria dos tratamentos contra o câncer eleva a pressão arterial. Cerca de 33% dos pacientes em tratamento oncológico anteriormente normotensos, passam a apresentar hipertensão, muitas vezes resistente. As maiores incidências de hipertensão são observadas em pacientes com câncer renal e gástrico. Há também tumores, como os glândula supra-renal, que produzem potentes hormônios indutores de hipertensão.

Muitos quimioterápicos estão diretamente relacionados ao desenvolvimento ou piora da hipertensão pré-existente, como os agentes alquilantes (ciclosfosfamida, cisplatina), os inibidores do fator de crescimento endotelial (como o bevacizumabe) e inibidores da tirosino quinase (sunitinibe, sorafenib, pazopanib). Além disso, tratamentos adjuvantes preconizados para os pacientes com câncer podem também elevar a pressão arterial, como corticóides, antiinflamatórios, analgésicos, eritropoietina e a radioterapia. Muitos quimioterápicos podem também causar insuficiência cardíaca, arritmias e outras complicações cardiovasculares. 

A hipertensão induzida ou agravada pela quimioterapia pode ocorrer desde a introdução do tratamento até bem tardiamente. Por isso, é fundamental a monitorização da pressão arterial durante o tratamento contra o câncer. Há até situações em que a ocorrência e o grau de hipertensão é indicativo da eficácia terapêutica do antineoplásico. Mesmo assim, é imperativo controlar a hipertensão com tratamentos específicos, uma vez que a escolha adequada de anti-hipertensivos não interfere na eficácia da terapia contra o câncer.

Anti-hipertensivos e o risco de câncer

Mais recentemente tem sido descrita a possibilidade de que o inverso também ocorra, ou seja, que os medicamentos utilizados para o tratamento da hipertensão possam aumentar as chances de surgimento do câncer.

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu recente alerta sobre a  hidroclorotiazida, um diurético amplamente utilizado no tratamento da hipertensão, que pode aumentar a sensibilidade da pele e dos lábios à exposição solar, favorecendo o surgimento de câncer de pele não-melanoma. Muitos outros anti-hipertensivos têm sido investigados sobre a possibilidade de estimularem tipos específicos de câncer. Inibidores da enzima de conversão têm sido associados ao câncer de pulmão.

Antagonistas dos canais de cálcio já foram incriminados quanto ao maior risco de câncer de mama. Além disso, impurezas cancerígenas foram detectadas em fármacos anti-hipertensivos genéricos e similares, fabricados e distribuídos em vários países. Mas robustas análises recentes têm demonstrado que os benefícios para a saúde do controle da hipertensão superam enormemente qualquer risco de câncer.

O outro lado da moeda

Há, por outro, alguns estudos favoráveis em relação aos anti-hipertensivos além da prevenção cardiovascular, como os que apontam que betabloqueadores podem melhorar a evolução de pacientes com câncer de mama e de ovário. Da mesma forma, bloqueadores dos receptores angiotensina podem potencializar a resposta ao tratamento oncológico contra tumores sólidos, como os de pâncreas e mama. O tratamento cirúrgico de tumores como o feocromocitoma, Cushing e o aldosteronoma podem até curar a hipertensão por eles causada.

O importante é lembrar que, assim como ninguém deve abandonar o tratamento do câncer devido aos potenciais efeitos colaterais dos medicamentos, a hipertensão, embora silenciosa, também deve ser tratada continuamente para a preservação da saúde e prevenção de suas complicações. Toda ação terapêutica pode incorrer em efeitos colaterais, mas o câncer e a hipertensão são notadamente mais perigosos que qualquer risco de efeito adverso. A orientação médica deve dirimir dúvidas e apontar as melhores escolhas de tratamento em cada caso.

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Marcus Malachias

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