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“The Society”: nunca fizeram a própria cama, agora têm de arrumar o mundo

Série da Netflix sobre adolescentes deixados sós e completamente isolados na sua cidade rica e perfeita tem ideia promissora, apesar das falhas

Por Isabela Boscov 3 jun 2019, 18h37

West Ham, no estado de Connecticut, é uma dessas minicidades do subúrbio americano onde todos são ricos, todos os jardins são impecáveis e tudo é perfeito. Exceto pelo fato de que um cheiro muito ruim, de origem misteriosa, anda empesteando o local – e, portanto, os adolescentes na faixa dos 16 aos 18 anos estão achando oportuna a ideia da viagem de acampamento organizada pela escola. A viagem não se concretiza, porém: na metade do caminho, os motoristas dos ônibus avisam que eles terão de retornar devido ao mau tempo. E, na chegada à cidade, no meio da noite, os cerca de 250 adolescentes constatam algo incompreensível: todos os outros moradores sumiram. Não sobrou um pai ou uma mãe sequer para botar ordem na casa. As redes de água e energia continuam funcionando (como? por quê?), mas – e essa é a parte mais assustadora da coisa – todas as saídas da cidade agora terminam numa mata densa, que se estende até onde a vista alcança. Ao que parece, não existe mais mundo: só West Ham e sua população de teens mimados, que durante toda a vida deixaram a roupa suja largada no chão do quarto para a mãe recolher e, agora, terão de se governar. Pois é: isso não vai dar certo.

The Society
(Netflix/Divulgação)

Se o ponto de partida é ótimo, o desenvolvimento de The Society tanto imita o comportamento adolescente quanto fala dele: são muitos temas possíveis por explorar e a série quer abraçar todos, mas não consegue se concentrar de verdade em nenhum deles. Rivalidades fraternas, gravidez indesejada, rapazes relutantes em sair do armário, casaizinhos que optam pela virgindade, meninas vs meninos, nerds vs atletas, insegurança e excesso de confiança – são assuntos e personagens demais empilhados sobre a questão que de fato importa: como se estabelece (ou não) algum pacto que torne viáveis a convivência e a sobrevivência. Adolescentes não são conhecidos pela capacidade de planejar a longo prazo e de calcular consequências, nem tampouco por aceitarem de bom grado a autoridade. Cassandra (Rachel Keller), a líder nata, se indispõe com quase todos quando decreta regras básicas como escala de trabalho, racionamento de alimentos e economia de energia (o que obriga à formação de “repúblicas” nas casas maiores, que pertencem aos mais riquinhos e mais ciumentos das suas posses particulares). A hostilidade descamba para a violência. E quando Allie (Kathryn Newton), a irmã de Cassandra, assume o comando, a insubordinação e a violência passam a ser enfrentadas com mão de ferro: sem leis nem recursos como cadeias que permitam castigos intermediários, restam só as medidas mais drásticas e punitivas para qualquer infração, da mais leve à mais grave. Para efeito de comparação, passou-se do leninismo de Cassandra para o stalinismo de Allie. O descontentamento, agora, é geral, e começa a fermentar de maneira verdadeiramente perigosa.

The Society
(Netflix/Divulgação)

A ideia central de The Society foi tomada de empréstimo de um clássico da literatura publicado em 1954, O Senhor das Moscas, do inglês William Golding, sobre um grupo de meninos extraviados numa ilha e suas tentativas catastróficas de governarem a si mesmos. Isso não é demérito nenhum: o tema de Golding já se prestou a muitas variações, e deve se prestar a outras mais ainda. Aqui, é excelente a decisão de dar à trama uma moldura de ficção científica – e é bem menos excelente o fato de que a série às vezes esquece essa moldura por episódios a fio e só a retoma de verdade, e de maneira insuficiente, perto do final. Pelo jeito, o criador Christopher Keyser resolveu empurrar a coisa toda para uma segunda temporada que talvez venha a acontecer, talvez não. Espero que aconteça: apesar das deficiências do roteiro (uma tradição de Keyser em séries como O Quinteto, Tyrant e The Last Tycoon) e das atuações não mais do que medianas, The Society é intrigante e curiosa o suficiente para ser acompanhada sem dor, com algum prazer e bastante vontade de saber o quê, de fato, aconteceu em West Ham.

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