Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Imagem Blog

Isabela Boscov

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

‘Judas e o Messias Negro’: um traidor no movimento Panteras Negras

Daniel Kaluuya e LaKeith Stanfield, companheiros em 'Corra!', brilham na trama baseada no caso de um ativista que foi passado para trás por seu discípulo

Por Isabela Boscov Atualizado em 4 jun 2024, 13h29 - Publicado em 26 fev 2021, 06h00

Pego fazendo-se passar por agente do FBI para roubar o carro de uns mal-­encarados de Chicago, o vigarista Bill O’Neal (LaKeith Stanfield) tem de dar explicações aos federais genuínos. Entre divertido e severo, o agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) explica que ele vai encarar alguns anos de prisão pelo carro, e outros mais por fingir-se de oficial da lei. Ou pode escolher a alternativa: já que é tão bom em interpretar papéis, fica livre do indiciamento se conseguir se infiltrar no ramo local dos Panteras Negras, cujo diretor, Fred Hampton (Daniel Ka­luuya), é uma liderança em rápida ascensão no ativismo negro em razão de seu carisma, de seu dom para a oratória arrebatadora e da intransigência de seus princípios. É a virada dos anos 60 para os 70 e o FBI está ainda sob a direção do tenebroso J. Edgar Hoover (Martin Sheen), que passou a última década e meia fazendo o possível e o impossível (além do ilícito, e às vezes o criminoso) para sufocar o movimento pelos direitos civis dos negros, com particular atenção às suas parcelas mais combativas — como os Panteras Negras. É claro que O’Neal escolhe infiltrar-se. E o que se passa a partir daí é o assunto de Judas e o Messias Negro (Judas and the Black Messiah, Estados Unidos, 2020), já em cartaz naqueles cinemas do país que estiverem em funcionamento.

+ Compre o livro sobre os Panteras Negras “Armadilha da identidade”

Hampton figura de passagem em outro filme recente, Os 7 de Chicago, mas o capítulo de sua história contido em Judas e o Messias Negro nunca foi recriado com a riqueza que o diretor e corroteirista Shaka King dedica a ele, nem com tanta compaixão e consternação. O encontro entre Hampton e O’Neal resultou em uma série de tragédias. No caso de Hampton, o Messias, elas vieram em curto prazo; para O’Neal, o Judas, se prolongaram por anos antes de atingir a culminação.

+ Compre o livro Racismo Estrutural

O’Neal conseguiu não apenas se aproximar dos Panteras, como ganhou a amizade de Hampton e galgou posições em sua confiança. Em meses, chegou ao posto de chefe de segurança do ramo de Chicago. Seu êxito se deveu em parte à pressão do agente Mitchell, que o lembrava sempre da ameaça da prisão ao mesmo tempo que o tratava com uma consideração que o ex-vigarista jamais esperara receber de um homem da lei branco, e que espontaneamente ele passou a retribuir em fidelidade. De outra parte, a ascensão de O’Neal resultou de uma reação química também ela espontânea: admiração, fascínio e respeito por Hampton, e encanto com o ativismo de seus novos pares.

O JUDAS - Stanfield, com Plemons: ou a prisão, ou trair a serviço do FBI -
O JUDAS - Stanfield, com Plemons: ou a prisão, ou trair a serviço do FBI – (Glen Wilson/Warner Bros./.)
Continua após a publicidade

Desde sua fundação, em 1966, como uma organização de resistência e eventual revide à violência policial, o Black Panther Party — esse era seu nome oficial — vinha se dedicando ativamente a programas comunitários de saúde e alimentação e de estímulo à escolaridade para as comunidade negras, com os quais respaldava o chamado a não abaixar a cabeça e a fazer a revolução. Nunca O’Neal imaginara ser possível alimentar aspirações como essas e, à medida que ele notava no agente Mitchell o desconforto deste com as decisões de Hoover, maior o terreno que essas aspirações ganhavam nele. Mais que dividir-se, portanto, suas lealdades antagônicas conviviam nele — ou conviveram, até o momento inevitável da colisão.

+ Compre o dvd de Corra!

Companheiros de cena também em Corra!, Kaluuya e Stanfield oferecem aqui interpretações nada menos que soberbas. Kaluuya equilibra com veracidade notável as facetas díspares de Fred Hampton: aos 20 anos de idade, ele em público tinha já uma firmeza e uma capacidade de inflamar que em nada ficavam a dever às de Martin Luther King ou Malcolm X — mas, no trato pessoal, podia ser de uma delicadeza tocante ao confortar a mãe de um companheiro morto, ou ainda de uma timidez enternecedora, como na corte à sua mulher, Deborah Johnson (Dominique Fishback). Já Stanfield é um assombro como o sobressaltado, nervoso, reativo e confuso Bill O’Neal, que sabe se colocar a serviço da traição máxima mas não faz ideia de como fugir a ela.

Somadas a esses desempenhos, a minúcia e a vividez com que King reconstitui o episódio resultam, num primeiro plano, em um documento histórico de qualidade notável. Tanto pela excelência como pela atenção aos dramas que se vão desencadeando no íntimo dos personagens, assim, o filme evoca sem artimanha nem proselitismo o quadro atual das relações raciais nos Estados Unidos: passados 55 anos, a mesma demanda que ocasionou o surgimento dos Panteras Negras — a violência policial sistemática — continua em pauta no #VidasNegrasImportam, tão urgente e necessária quanto antes.

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA de 3 de março de 2021, edição nº 2727

VEJA RECOMENDA | Conheça a lista dos livros mais vendidos da revista e nossas indicações especiais para você.

CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

‘Judas e o Messias Negro’: um traidor no movimento Panteras Negras‘Judas e o Messias Negro’: um traidor no movimento Panteras Negras
Continua após a publicidade

Panteras Negras “Armadilha da identidade”

‘Judas e o Messias Negro’: um traidor no movimento Panteras Negras‘Judas e o Messias Negro’: um traidor no movimento Panteras Negras
Racismo Estrutural
‘Judas e o Messias Negro’: um traidor no movimento Panteras Negras‘Judas e o Messias Negro’: um traidor no movimento Panteras Negras
Continua após a publicidade

Corra!

logo-veja-amazon-loja

*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.