Precisando de um refresco? 9 besteirois para ver (onde mais?) em casa
Na Netflix, na GloboPlay e no Prime Video, exemplos de filmes que acertam na, sim, finíssima arte de fazer bobagem
Trovão Tropical
Onde: Prime Video
Trovão Tropical começa com um punhado de trailers que apresentam os protagonistas da história: o rapper Alpa Chino (Brandon T. Jackson), que promove uma bebida energética batizada Booty Sweat, de tradução impublicável; Jeff Portnoy (Jack Black), que faz todos os personagens de uma franquia cômica sobre uma família obesa e vítima de flatulência grave; Kirk Lazarus (Robert Downey Jr.), australiano ganhador de cinco Oscar, que é visto como um monge gay apaixonado pelo noviço Tobey Maguire no trailer do drama O Beco de Satã, título de insinuação perfeitamente intencional; e Tugg Speedman (Ben Stiller), um astro de ação que cinco vezes seguidas salvou o planeta do superaquecimento com uma metralhadora numa mão e um bebê na outra. Speedman tentou ganhar credibilidade com o drama Simplesmente Jack, no papel de um deficiente mental, e virou motivo de troça. Trovão Tropical, um épico sobre a Guerra do Vietnã, é sua chance de tirar o pé do buraco, e ele não quer deixá-la escapar – nem quando o diretor é destroçado por uma mina (todos acham se tratar de um efeito especial) nem quando, largado na selva, o elenco vira alvo de narcotraficantes. Que, por um desses acasos, assistem a Simplesmente Jack todas as noites, e adoram o filme. Um bônus: a participação de Tom Cruise no papel de um chefe de estúdio que vomita torrentes de obscenidades. O resultado: uma comédia tão licenciosa quanto radiante
Superbad – É Hoje
Onde: Netflix
Três adolescentes, a duas semanas de terminar o 2º grau, começam a se desesperar com a perspectiva de chegar invictos ao fim de seu último ano letivo. Dois deles têm em vista candidatas com as quais gostariam de inaugurar sua vida sexual; o terceiro acaba de fazer uma carteira de identidade falsa. Se ela passar pelo crivo dos balconistas de lojas de conveniência, eles terão acesso a vodca e cerveja. Tem-se então uma equação perfeita: se na festa daquela noite (a primeira, em toda a sua carreira escolar, para a qual foram convidados) eles conseguirem embebedar as meninas, é possível que elas acabem na cama com eles. “Mulheres embriagadas erram. Nós podemos ser esse erro!”, sonha Seth (Jonah Hill), tentando persuadir seu melhor amigo, o certinho Evan (Michael Cera), a sonhar junto com ele. Seth, Evan e Fogell – que na carteira falsa aparece com o patético nome de McLovin – embarcam, então, na sua saga. Mesclando obscenidade e meiguice de maneiras improváveis, Superbad expõe em detalhes excruciantes o assanhamento do trio. Mas, se os hormônios ditam, os sentimentos é que inspiram: no fim, o que eles procuram em meninas como uma adorável Emma Stone em início de carreira é vivacidade, generosidade e perspicácia para compreender que, embora eles às vezes ajam como maníacos, não pode haver nada de tão errado assim com sujeitos que são amigos tão leais um para com o outro.
Eu Te Amo, Cara
Onde: GloboPlay
Nesta comédia tão grosseira quanto doce, Paul Rudd interpreta Peter, um sujeito que está ali pelos 30 anos mas, por temperamento e circunstância, nunca cultivou fortes – ou fracas – amizades masculinas. Como acaba de ficar noivo, essa lacuna vira um problema. Ele não tem um amigo a quem convidar para ser seu padrinho, nem conhecidos que possam fazer par com as madrinhas no altar. Sua noiva também se preocupa com a ideia de que ele venha a se revelar um marido grudento. Peter começa, assim, uma campanha para fazer um amigo. E, numa divertida paródia às convenções das comédias românticas, encontra aquilo que nunca teve: uma alma gêmea do mesmo sexo, o folgado Sydney (Jason Segel), que carinhosamente o ensina a fazer coisas “de homem”. É a celebração máxima de um tipo particular de paixão: o “bromance”, ou o amor intenso, não gay, mas com um lugar todo especial no coração, entre homens heterossexuais – tipo Ben Affleck e Matt Damon, ou Brad Pitt e George Clooney.
Zohan – Um Agente Bom de Corte
Onde: Netflix
Adam Sandler é um superagente antiterrorismo israelense que sonha, na verdade, ser cabeleireiro em Nova York (!!!). O filme tem momentos hilariantes, e outros (vários) em que falha de maneira estrepitosa. Mas, sempre que acerta na dose de infantilidade e de irreverência, é impagável. Sua sátira do conflito no Oriente Médio, por exemplo, é genial, como no serviço de atendimento telefônico do Hezbollah (“digite 1 para organizar um atentado, digite 2 para comprar explosivos”) e no comercial da cadeia de lanchonetes do superterrorista Phantom (John Turturro), que termina com o slogan “os Estados Unidos são o Grande Satã”. Quando é regressivo demais, é menos cativante – por exemplo, quando insiste, insiste e insiste mais uma vez ainda que coisas como homus (tanto a palavra, presume-se que por lembrar “homossexual”, quanto a pasta de grão-de-bico em si, por sua consistência) são engraçadíssimas. Na média? Duas horas em que se esquece tudo o mais.
Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola
Onde: Prime Video
A vida de pioneiro do Velho Oeste é uma droga, diz o fazendeiro covarde Albert: tudo que não é você quer matar você, a medicina é péssima, a higiene é precária, o entretenimento é atroz. Interpretado por Seth MacFarlane com roteiro de Seth MacFarlane e direção de Seth MacFarlane, Albert, claro, não é outro que não o próprio Seth MacFarlane – e o filme não é senão um esquete cômico em que um personagem de mentalidade contemporânea confronta os estereótipos do faroeste. No Arizona de 1882, Albert perde a namorada (Amanda Seyfried) por fugir de um duelo com um pistoleiro. Ela bandeia-se para o lado do almofadinha Foy (Neil Patrick Harris), que enriqueceu com seus tônicos para o bigode, símbolo máximo da macheza do homem da fronteira (para os muito novos: o bigode era item indispensável na toalete gay dos anos 1970). Como só um homem do século 21 se permitiria, Albert choraminga sem parar para o casal de amigos vivido por Giovanni Ribisi e Sarah Silverman – ele um inocente, ela uma prostituta que topa tudo exceto transar com o noivo. Mas se anima quando uma loira sensacional aparece na cidade e se enche de gratidão a Albert por ele acidentalmente salvar a vida dela. O que ele não sabe é que Anna (Charlize Theron) é a mulher fujona do bandido Clinch Leatherwood (Liam Neeson), que vai vir atrás do que é seu. A inspiração patente de MacFarlane é Banzé no Oeste, a genial sátira de 1974 do comediante Mel Brooks. É verdade que ele ainda vai ter de comer muito feijão até chegar lá. Mas, na falta de Banzé nas plataformas de streaming, é o que temos para hoje.
Ligeiramente Grávidos
Onde: GloboPlay
Benjamin (Seth Rogen) é rechonchudo, nem alto nem baixo, e tem um penteado desastroso. Sua voz é anasalada e ele gosta de falar sobre Star Wars, maconha e sexo – sendo que seu conhecimento do terceiro tema é repleto de lacunas. Como se não bastasse, Benjamin não trabalha. Há dez anos vive da indenização ganha por um acidente. Calcula que os 600 dólares restantes ainda possam durar dois anos, mas isso significa que ele não tem dinheiro para pagar um picolé a uma moça. Daí a surpresa quando a loira e linda Alison decide esticar a balada com ele. Sutil, a câmera não se aproxima de Benjamin: permanece a meia distância, deixando que o espectador observe, enlevado, a maneira como o rosto dele se ilumina. O problema é que Alison (Katherine Heigl) já bebeu demais. Bebeu tanto que, na hora H, nem percebe como Ben resolve a questão do preservativo: arrumando um baita problema – aquele descrito pelo título do filme. Como em O Virgem de 40 Anos e Superbad – É Hoje, o diretor Judd Apatow atinge aqui um equilíbrio quase impossível. Seu filme é vulgar e de uma obscenidade pueril; ao mesmo tempo, é de uma doçura imensa, além de uma compreensão sagaz dos seus personagens. As confusões de Ben e Alison lembram muito, no humor e nos desdobramentos, as “comédias abiloladas” dos anos 30 e 40, como Aconteceu Naquela Noite e Levada da Breca, nas quais os pares se obrigavam a rever seus conceitos do que seria ou não desejável num parceiro.
Fido – O Mascote
Onde: Prime Video
A humanidade quase se deu mal na Guerra dos Zumbis. Mas, graças à invenção de uma coleira domesticadora, não só saiu vitoriosa como ainda colocou os mortos-vivos a seu serviço – jardineiros, ajudantes domésticos, leiteiros, “animais” de companhia: eles fazem de tudo. O que acontece, porém, quando o zumbi levado para casa é mais cheio de vida que o chato do papai? Esta sátira, passada num subúrbio dos anos 50, é uma mistura improvável, mas muito criativa, de Madrugada dos Mortos e Lassie, com uma pitada dos melodramas de Douglas Sirk, o rei do gênero, para completar o tempero. Há que destacar a contribuição do elenco, com a encantadora Carrie-Anne Moss como uma dona-de-casa desesperada e o escocês Billy Connolly como o galante zumbi Fido.
Anjos da Lei
Onde: GloboPlay
A série Anjos da Lei hoje não resistiria a uma revisão, e só é lembrada por ter feito de Johnny Depp um astro. Começariam aí, portanto, os motivos para desconfiar desta refeitura. Em questão de minutos, porém, o filme cala essa e qualquer outra suspeita: divertida, doce, perspicaz e boca-suja, a comédia da dupla Phil Lord e Chris Miller (diretores da animação Tá Chovendo Hambúrguer e produtores da série How I Met Your Mother) inicia seus acertos por aí – por abordar pelo humor a premissa dramática do seriado, sobre jovens policiais que trabalham infiltrados em escolas. Jonah Hill faz mais uma versão do nerd rechonchudo que gagueja diante das meninas; Channing Tatum é seu oposto, o atleta bonitão com a inteligência de uma ostra. Oito anos após deixarem o colégio, eles se reencontram na academia de polícia, onde descobrem que suas habilidades são complementares. Mas o fiasco começa quando, já infiltrados numa escola, os dois vão parar em classes trocadas: Hill na dos alunos populares, Channing na dos crânios. Uma delícia. Evite, porém, a continuação Anjos da Lei 2, que erra em tudo que este primeiro filme acertou.
Motoqueiro Fantasma
Onde: GloboPlay
Nicolas Cage encabeça os créditos, mas está ausente de todas as grandes cenas de ação: é substituído, sem prejuízo, por um esqueleto em chamas, que pilota uma chopper dos diabos e despacha para o inferno malfeitores desta ou de outras dimensões. Essa é a forma que o personagem de Cage (e da Marvel), Johnny Blaze, assume na presença do mal, por causa de um pacto feito com Mefistófeles. E esse é o tipo de filme em que, já que tudo gira sobre duas rodas, Mefistófeles é interpretado por Peter Fonda (que morreu no ano passado e cuja fama, para quem é novo demais para pegar a referência, repousava sobre o longínquo mas estilosamente motorizado Sem Destino). O surpreendente é que Motoqueiro Fantasma é uma das coisas mais divertidas – e bagaceira, verdade seja dita – que Cage já fez. Com os cabelos e o rosto retocados ao ponto do bizarro, ele deixa que o filme aconteça à sua volta, um desinteresse do qual se aproveitam muito bem o sempre cativante Sam Elliott, que faz render seu pequeno papel como o zelador de um cemitério, e o diretor Mark Steven Johnson, que depois daquele Demolidor de 2003 com Ben Affleck aprendeu a não fazer drama e investir na paródia.