O último reduto de suporte a Dilma Rousseff começa a ruir.
Depois da carta-desabafo do vice Michel Temer, da derrota do governo na votação da comissão do impeachment na Câmara dos Deputados e da escolha de Ciro Gomes – haja desespero! – para ajudar a salvar o mandato presidencial, o Senado não é mais o mesmo.
Senadores da base aliada confessam nos bastidores, segundo o Valor, que avaliam o momento de abandonar o Titanic dilmista.
Os do PMDB se aproximaram de Temer; e alguns estão baixando o tom na defesa do governo porque já consideram que a batalha caminha para uma nova derrota da mulher sapiens.
“Sobre Ciro eu nem discuto. Jamais serei coordenado por ele”, disse ainda seu adversário Eunício Oliveira, líder do PMDB no Senado, a Globo News.
Fico contente que o governo tenha conseguido irritá-lo.
Se Ciro continuar dando entrevistas como a que deu para uma rádio do Rio Grande do Sul, o Senado poderá ruir ainda mais depressa.
Horas depois de jantar com Dilma no Palácio da Alvorada, ele incluiu Temer no que chamou de “lado quadrilha do PMDB”:
“Hoje, o Michel Temer é homem do Eduardo Cunha”, “é parceiro íntimo nas práticas e nas coisas erradas do Eduardo Cunha”.
O Eliseu Padilha, que pediu demissão do ministério da Aviação Civil, “era o homem que, no governo do Fernando Henrique, era chamado pela crônica política de Eliseu Quadrilha. Então, a Dilma tem um erro: botou esse homem dentro, indicado pelo Michel Temer. Mas esse é homem do Michel Temer.”
Felizmente, Temer sabe que Ciro é homem de Dilma e fala barbaridades em nome dela.
Felizmente também, o vice circulou com desenvoltura, segundo o Valor, tanto entre os senadores da base aliada como da oposição, no jantar oferecido por Eunício na última quarta-feira, dia 9.
É por essas e outras que Dilma depende mais do que nunca de Renan Calheiros.
Pessoas próximas ao presidente do Senado, no entanto, disseram ao jornal que “a mais nova cartada do peemedebista, que busca garantir na Justiça a última palavra sobre o afastamento” de Dilma, “não deve ser vista como um aceno definitivo à petista”. “Na verdade, asseguram, ele joga para aumentar seu cacife na arena que definirá o futuro do governo.
Se Renan conseguir emplacar a tese que defende no Supremo Tribunal Federal (STF), o Senado se tornará a trincheira definitiva para a permanência ou não de Dilma no cargo e, ele, por consequência, a peça mais importante no xadrez político.”
O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) disse que Renan age como “líder do governo” querendo mudar a regra do impeachment aos 45 do segundo tempo: “Acredito que o STF não vá concordar com essa tese esdrúxula”.
Renan, relembro, responde a cinco inquéritos no STF e, embora vá negociar com os dois lados até o último momento, ainda tem esperanças de ser salvo pelo PT.
Dos 81 integrantes do Senado, aliás, pelo menos 31 respondem a inquérito ou ação penal na mais alta corte do país, segundo o Congresso em Foco, sendo quase a metade (14) do PT e do PMDB.
É compreensível, portanto, que o Senado seja o último reduto de suporte ao governo. Mas quando a pressão se avoluma, até esse dá sinais de que a qualquer momento pode desabar.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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