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Dora Kramer

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No figurino do Andrade

Para virar Lula, Haddad abandona o melhor de sua personalidade

Por Dora Kramer Atualizado em 4 jun 2024, 16h58 - Publicado em 28 set 2018, 08h00

Haddad ou Andrade, para o PT tanto faz, desde que o pobre eleitor caia na impostura de que o candidato do partido à Presidência é Lula. Até aí, vamos, habituados que estamos com a boa receptividade dos engodos produzidos pelo ex-presidente cujo sucesso deriva exatamente da disposição de multidões a se entregar de bom grado ao logro. A troca de nomes não aflige os petistas. Não altera a escolha da opção “13” na urna eletrônica onde está a fotografia do ungido; até populariza e facilita a identificação com o personagem. Portanto, eleitores não petistas, parem de rir da confusão porque, de seu canto no comitê eleitoral da Polícia Federal em Curitiba, Lula anda rindo por último.

Haddad ou Andrade, do ponto de vista do eleitor do PT, não é essa a questão. O busílis reside no próprio em sua jor­nada de incorporação do impróprio. Isso, Fernando Haddad. Homem de formação acadêmica, por estilo pessoal e profissional comprometido com a responsabilidade social, a consciência, o intelecto e a lógica, agora se vê na contingência de incorporar o seu contrário. Abre mão do melhor de sua personalidade para mostrar-se ao país como uma encarnação do chefe.

Tem feito isso, não obstante careça de atributos naturais para tal. Pode até dar certo nesse breve período de campanha, mas não dará caso precise assumir a Presidência. Já adotou a orientação da chefia de responder ignorando o conteúdo das perguntas. Diz o que bem entende, independentemente do que foi perguntado, como fazia Paulo Maluf. Já adotou a prática de nunca assumir culpas, transferindo toda responsabilidade aos adversários, por mais que isso signifique mandar às favas os fatos e contradizer o que outro dia mesmo disse.

Já incorporou a prática da desonestidade de transformar qualquer ato ou fala do oponente em grave temporal, enquanto trata como meras brisas os escândalos efetivos de sua companhia. Já aprendeu a conveniência de esquecer o passado, ainda que recente. Dilma Rousseff, o desastre criado pelo celebrado “instinto” de Lula? Foi apagada da foto da história contada na propaganda eleitoral. Falta ainda bastante para completar a encarnação: jamais reconhecer qualidade alguma no adversário (ao passo que, se o oponente não exaltar as suas, é sinal de que se trata de intolerante incurável), entregar-se à indolência, à aversão a atividades do intelecto, à indisciplina e aos atrasos em quaisquer compromissos.

Falta não admitir ser contrariado, fugir de plateias críticas, adquirir vocação para a zombaria, abrir mão dos freios da consciência em nome da eficácia de seus objetivos, desenvolver afeição extrema pela promoção pessoal, atuar exclusivamente no mundo da propaganda, metáforas e slogans, incentivar a guerra dos brasileiros com opiniões divergentes. Ser, enfim, socialmente irresponsável e mentalmente desonesto. Quando, e se, completar a tarefa, terá incorporado o Lula, já não será Haddad e estará pronto para seguir a vida na persona do Andrade. Coi­sa para distorção de psique nenhuma botar defeito.

Publicado em VEJA de 3 de outubro de 2018, edição nº 2602

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