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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Mortes na pandemia alertam para lapso no atendimento primário de saúde

Com a pandemia, muitas pessoas adiaram a visita ao médico por medo de se contaminarem, mas diagnóstico tardio para doenças crônicas tende a agravar condição

Por Claudio Lottenberg
19 jul 2021, 19h00

Os óbitos causados por Covid-19 em pacientes com comorbidades representam parcelas significativas do total de mortes, o que mostra a dificuldade que existe no país para fazer a atenção primária em saúde chegar a todas as pessoas. Para ficar em dois exemplos bastante representativos em meio às doenças crônicas que afetam os brasileiros: entre os óbitos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19, 112.242 pessoas tinham cardiopatia e 80.488, diabetes. Os números representam, respectivamente, 21,8% e 15,7% dos mais de 512 mil óbitos registrados até 28 de junho, e constam do boletim epidemiológico especial mais recente do Ministério da Saúde.

Cardiopatias e diabetes, com alta prevalência entre os brasileiros, são doenças para as quais já existem tratamentos conhecidos. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgada em novembro do ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que mais de 38,1 milhões de brasileiros com 18 anos ou mais sofria de hipertensão – o que representa 23,9% da população dessa faixa etária. Já o diabetes atinge 7,7% (ou seja, 12,3 milhões) dos brasileiros.

Com a pandemia, muitas pessoas adiaram a visita ao médico por medo de se contaminarem. Mas o diagnóstico tardio para doenças crônicas tende a agravar a condição do paciente – que, quando finalmente vai ao hospital, por vezes já apresenta um quadro mais sério. O que poderia ter sido uma situação mais bem administrada acaba se tornando algo que só um tratamento mais intensivo pode servir. Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 300 mil pessoas sofrem infarto agudo do miocárdio a cada ano e até 2040 isso deverá crescer 250% no país. Quando um paciente com Covid-19 e alguma comorbidade chega a ser entubado em uma UTI, o risco de óbito é mais alto que em pacientes sem doenças pré-existentes (embora o número de óbitos entre estes venha aumentando).

Cardiopatias e diabetes são só duas de tantas doenças crônicas detectadas em pessoas vítimas da Covid-19: o boletim epidemiológico do governo federal ainda aponta os casos de óbitos de pacientes que tinham doença renal (2,56% do total), obesidade (3,8%) e doenças do pulmão (2,3%), entre outras. São todas condições para as quais a atenção primária e a estabilização de pacientes crônicos certamente faria grande efeito positivo. Ainda que não para todas as doenças, a telemedicina encontraria aí ampla aplicação.

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É preciso fazer com que cada vez mais a população tenha acesso e procure o atendimento primário. Muitas demandas podem ser resolvidas nesse contato. No Reino Unido, por exemplo, 90% dos atendimentos são resolvidos já na atenção primária. Uma das vantagens é que isso desafoga os prontos-socorros e reduz a pressão nos hospitais (que, como vimos nesta pandemia, atingiu proporções dramáticas). Outro benefício, de mais longo prazo, é que o atendimento primário contribui para a prevenção: com a prevalência alta de doenças cardíacas e diabetes, uma população que fizesse consultas regulares, adotasse melhores hábitos de alimentação e fosse menos sedentária seria muito mais saudável.

A telemedicina encontrou espaço no país e deve caminhar para sua consolidação. A jornada digital dos pacientes, na rede privada ou na pública, também deverá se tornar mais difundida. A atenção primária, com atendimento por médicos de família, já existe, mas tem de ser ampliada e focada em prevenção de doenças, em estimular o indivíduo a procurar a rede para cuidar da saúde em vez de só buscar tratamento para as doenças. Esse é o esforço que precisa ser intensificado no Brasil e que poderia evitar a triste marca de morte deixada pela pandemia de Covid-19 e suas mais de 542 mil vidas já perdidas.

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