Digitalização da saúde pode ajudar contra a síndrome pós-Covid-19
Sequelas continuam presentes mesmo depois de semanas ou meses de passada sua fase mais aguda da doença
A síndrome pós-Covid-19 tem se tornado um desafio cada vez mais presente entre as pessoas que se recuperam da doença. Trata-se de um conjunto de sequelas que continuam presentes mesmo depois de semanas ou meses de passada sua fase mais aguda – caracterizada por febre e falta de ar. Um estudo recente nos Estados Unidos, publicado em abril pela revista especializada Nature, avaliou 87 mil pessoas infectadas e concluiu que as sequelas do Sars-CoV-2 podem afetar quase todos os sistemas orgânicos do corpo. A digitalização da saúde poderia colaborar para que o tratamento dessas pessoas fosse de algum modo mais ágil e eficiente.
Os pesquisadores também avaliaram que 379 doenças encontradas nesses pacientes teriam relação com a contaminação pelo coronavírus. Entre todas essas doenças, eles citam: distúrbios do sistema nervoso e neurocognitivos; distúrbios de saúde mental (ansiedade e depressão, por exemplo), distúrbios metabólicos (colesterol alto, diabetes), doenças cardiovasculares, problemas gastrointestinais (diarreia), mal-estar, fadiga, dores musculares e nos ossos, anemia, trombose, insuficiência renal – a lista é longa.
Os pulmões, por exemplo, estão entre os órgãos mais duramente afetados pela doença, que deixa fibroses (que são como cicatrizes) que acabam por atrapalhar a respiração – e mesmo aquelas pessoas que sofreram da forma menos grave da Covid-19 podem vir a ter algum comprometimento da função pulmonar. São sequelas que podem prejudicar a vida da pessoa pelo resto da vida – não só porque isso limita a capacidade de desempenhar atividades físicas e afetar o desempenho profissional, mas também porque, exatamente por essas limitações, pode levar a estilos de vida mais sedentários, o que acarreta ainda mais comorbidades.
Não há por ora uma pesquisa tão a fundo semelhante para o Brasil, mas já se havia observado um aumento expressivo nos óbitos por doenças cardiovasculares em seis capitais brasileiras entre março e maio de 2020 – ou seja, logo nos primeiros movimentos da Covid-19 no Brasil –, segundo um levantamento feito por UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Hospital Alberto Urquiza Wanderley e SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia).
Como a vacinação no Brasil segue em ritmo extremamente lento – só 11% da população já foram imunizados com as duas doses – e as medidas de prevenção têm sido alvo de fortes resistências, a disseminação do coronavírus segue sem controle. Mais pessoas infectadas significam mais casos em potencial de síndrome pós-Covid, e a demora só fará aumentar a cada dia esse risco.
A digitalização poderia trazer ganhos de eficiência a nossos sistemas de saúde, de forma a aliviar o fardo de quem carregará essas sequelas por um tempo indeterminado. O choque de urgência que se fez sentir no Brasil com o impacto da Covid-19 tirou o país da condição de retardatário na adoção de novas ferramentas e tecnologias digitais. Sim, ainda será preciso avançar muito nesse campo – a regulamentação de que dispomos para a operação da telemedicina, por exemplo, ainda é temporária (vale enquanto durar a pandemia). Mas esse é um caminho sem volta. Os provedores de serviços de saúde aumentaram rapidamente as ofertas e estavam atendendo de 50 a 175 vezes mais pacientes por meio digital, alguns meses após o início da pandemia. Também foi preciso pensar em novos modelos de negócios, colaborações inesperadas e cronogramas acelerados para as organizações repensarem como operam. Muitas dessas mudanças provavelmente persistirão.
Considerando que quem já teve Covid-19 pode ser reinfectado, e que as variantes da doença são mais contagiosas, mesmo que a vacinação acelere, continuaremos a ter de usar máscara, higienizar frequentemente as mãos e manter algum distanciamento social. Porque a doença, ainda que não leve a pessoa a óbito, poderá acompanha-la por toda a vida na forma de uma sequela incapacitante. Não é um risco a que queremos nos expor.