Bolsonaro incita um linchamento público
Mandato protege o cargo de Barra Torres, mas não o blinda de ataques instigados pelo presidente nas redes pela liberação da vacina para crianças
O presidente Jair Bolsonaro não aceitou a decisão da Anvisa de aprovar a vacina da Pfizer para crianças com idades entre 5 e 11 anos, pouco importa o trabalho técnico por trás da liberação do imunizante. Sem ter como interferir na autonomia da agência ou demitir seu comando, o presidente acha válido ameaçar revelar os nomes de técnicos da agência responsáveis pela decisão.
O objetivo evidente por trás da ameaça do presidente é intimidar e expor individualmente as pessoas que assinam em baixo da liberação. Mesmo diante das declarações do diretor-presidente da agência, Antonio Barra Torres, apontando que esses mesmos profissionais já se tornaram alvos de violência e ameaças. E a consequência disso é óbvia: incitar um de linchamento virtual.
Não muito diferente do que Bolsonaro já fez em inúmeras ocasiões contra profissionais de imprensa que, no exercício da sua profissão, veicularam notícias que o desagradaram. Profissionais que se viram na mira do presidente já enfrentaram desde o vazamento de documentos pessoais de seus filhos até ameaças de morte. O mesmo se anuncia para os profissionais da Anvisa.
Esta foi a forma encontrada por Bolsonaro para dizer a Barra Torres que esperava dele um comportamento semelhante ao de auxiliares como Marcelo Queiroga ou Eduardo Pazuello. Na base do “um manda, o outro obedece”. Mas Barra Torres está protegido por seu mandato. O que não o protege, junto com os profissionais que integram sua equipe, de todo o resto.