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Augusto Nunes

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Todos juntos pela impunidade

Este inverno da desesperança nos traz dias secos em que todos se juntam para anunciar que farão o diabo para ficarem onde estão

Por José Nêumanne
Atualizado em 30 jul 2020, 20h22 - Publicado em 7 ago 2018, 07h22

José Nêumanne (publicado no Blog do Nêumanne)

A compra de voto sempre existiu, mas cresceu quando o Partido dito dos Trabalhadores (PT), para exercer o poder com “governabilidade” (kkkk), se aliou ao Partido Liberal (PL), que depois viraria Partido da República (PR) (snif), propriedade privada de Valdemar Costa Neto, o Boy. A compra de apoio das miríades de pequenas bancadas com representação no Congresso, equivocadamente alcunhada de mensalão, explodiu quando Roberto Jefferson, à época e até hoje presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em entrevista a Renata Lo Prete, da Folha de S.Paulo, expôs as entranhas de um Congresso apodrecido. E denunciou a compra dos próceres que se dizem “representantes do povo”.

Antes, o factótum de Lula, José Dirceu, propusera ao poderoso chefão uma aliança do PT com o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), já sob a batuta de Michel Temer. Mas o padim tinha outros planos, que não incluíam sócios poderosos, e preferiu alugar bancadas menores para somar seus votos em plenários fragmentados a ter sócios com mais cacife. Aí, criou-se a incorporação do “toma lá, dá cá” contemporâneo ao maquiavelismo renascentista do “dividir para reinar”. Realizado com a lavagem de dinheiro de campanhas publicitárias, aplicada pelo mineiro Marcos Valério a serviço do tucano Eduardo Azeredo em Minas, o esquema gerou as denúncias da polícia e os indiciamentos do Ministério Público, levados às varas da primeira instância e, mercê do envolvimento de poderosos criminosos de colarinho branco protegidos pela prerrogativa de foro, ao degrau mais alto: o Supremo Tribunal.

Essa história foi contada em detalhes pelo citado mandachuva do PTB, Roberto Jefferson, no livro Nervos de Aço, publicado em 2007. Nele o chefão petebista  afirma que o PT não queria compartilhar um projeto de poder e optou por comprar apoio fragmentado para ampliar a base do Congresso. No mensalão parlamentares foram alugados e pagos diretamente para a patota de Lula e Dirceu não ter de repartir o poder com sócios de organizações criminosas rivais. E para  compensar eventuais insatisfações José Dirceu e sua quadrilha criaram o esquema de repartição de recursos, como descreveu Jefferson no livro citado, leitura obrigatória.

O mesmo chefão da sigla fundada por Getúlio Vargas e, depois, presenteada pela ditadura à sobrinha-neta do caudilho, Ivete Vargas, relatou que o esquema das comissões parlamentares de inquérito (CPIs) é  sempre o mesmo: “Oferecem-se algumas cabeças à guilhotina e não se mexe nas estruturas viciadas da corrupção”. Os verbos estão no presente porque o esquema continua. No caso, as cabeças eram a dele e a de Dirceu.

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O causídico acendeu o pavio e ateou fogo no esquema de compra de votos, rompendo a blindagem que se mantinha antes sob a vigilância de Márcio Thomaz Bastos, à época ministro da Justiça de Lula. Não é razoável admitir que esse escândalo de compra de votos, com dinheiro indo de um lado para outro, não tenha sido descoberto pelo Ministério Público, pelo Banco Central, etc… E teria acabado em pizza, como sempre ocorrera antes, se não tivesse esbarrado com um grupo de ministros do STF sob a presidência de Joaquim Barbosa, que chegou ao ápice da carreira jurídica por indicação de Frei Betto e José Dirceu a Lula, encantado com a possibilidade de nomear um afrodescendente para a cúpula da Justiça. Mas não atendia aos esquemas negociados nos gabinetes oficiais por Márcio Thomaz Bastos, advogado do ex-sindicalista à época da ditadura militar.

Com a blindagem rompida, Márcio Thomaz Bastos passou a atuar como bombeiro. Livrou Lula e Luiz Gushiken e diminuiu a pena de Dirceu. E a culpa foi empurrada para o pelotão dos mercenários, que  tiveram suas penas turbinadas. Marcos Valério, até hoje preso, foi condenado a 40 anos de prisão e a banqueira bailarina mineira Kátia Rabello, que não tinha a menor noção do que se passava, a 16. Alguma carga do navio tinha de ser, afinal, jogada ao mar. No caso, o sacrifício foi dividido apenas entre os profissionais contratados. Marcos Valério, o “carequinha”, como o chamava Jefferson, foi atirado na cova dos leões. Sua condenação serviu de aviso aos navegantes: o bote salva-vidas do PT não tinha lugar para náufragos sem carteirinha do partido ou de sindicatos. Só que a condenação do chamado “operador” arrombou a caixa de Pandora, sem que eles percebessem. E de nada adiantou o poderoso chefão voltar ao plano original da aliança com o então PMDB, sacramentada na chapa vencedora de 2010 e 2014, Dilma-Temer, pois a aliança derreteu-se na Lava Jato.

Só os ingênuos mais tontos ou os que se fazem de bobos para se dar bem não perceberam naquela troca a permanência da única lei cujos efeitos nunca prescrevem na Justiça brasileira: a de que “quem tem padrinho não morre pagão”. Foi assim que, na Presidência, o poste de Lula, dona Dilma, indultou e, em seguida, o misericordioso clube do Batman do Cerrado perdoou os irmãos de opa. As condenações da dita Ação Penal 470 são os melhores exemplos da inutilidade e da iniquidade da lei e da ordem na República do faz de conta chamada Brasil. A banqueira bailarina e a fina-flor do mecenato cultural das lavanderias de dinheiro sujo ainda purgaram uns aninhos de pena no inferno prisional tupiniquim, mas nele o único que ainda apodrece ali é o “carequinha”. José Dirceu e Pedro Corrêa são exceções que confirmam a regra, de vez que cometeram a suprema arrogância de continuar as práticas criminosas morando na cadeia e nem o supremo cinismo de Dilma os inseriu na lista dos indultados. Logo, porém, interviria a mão grata do ministro do STF Dias Toffoli, que soltou, sem tornozeleiras, um condenado a 30 anos e meio de prisão, mostrando que seu José tem um figurão com um baita martelo à mão para chamar de seu.

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A sociedade do PT com o PMDB, que perdeu o pê, não impediu a entrada em cena da Operação Lava Jato, de Sergio Moro, que há quatro anos puxa o fio da meada desse esquema,  definido recentemente por Raquel Dodge como o maior escândalo de corrupção de que há notícia no Brasil – e, sem favor nenhum, um dos maiores da História mundial. Diante da mudança de parâmetro, com empreiteiros na cadeia, para a qual antes só eram mandados pretos, pobres e prostitutas, os mercenários adotaram as Leis de Murici, em que “cada um cuida de si” e “farinha pouca, meu pirão primeiro”, partindo para a delação premiada e, com isso, evitando a “valerização”.  Ou seja, o precedente de Marcos Valério ecoou no pelotão dos mercenários. Estes logo entenderam que teriam de evitar o efeito Orloff, aquele do “eu sou você amanhã”. No rastro do pioneiro Paulo Roberto Costa surgiram delações premiadas de Pedro Barusco, Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, Marcelo Odebrecht e tantos outros mais.

Esta é a história da nossa Realpolitik sem pudor, que hoje se mantém firme na coligação do “Centrão” com Alckmin e nas propostas de governo do PT de Lula.  Os petistas, com aquela cara lustrada a óleo de peroba, propõem: “Temos que caminhar para transformar o STF em efetiva Corte Constitucional, com competências limitadas ao controle de constitucionalidade das leis. Faz-se necessário instituir tempo de mandatos para os membros do STF (…). E revisar as leis aprovadas para combater a corrupção e o crime organizado”. O candidato do partido que assim pretende evitar voos de morcegos é o presidiário Luiz Inácio Lula da Silva, a transmitir sermões da cadeia para seus devotos. E é usado numa sórdida campanha de desmoralização das instituições do Estado de Direito. É de dar engulhos na estátua da Justiça à porta do STF!

E Alckmin agora assume o bastão na corrida da impunidade, com o maior tempo de TV e rádio da campanha, mercê da coligação de suspeitos e insuspeitos (de vez que já foram condenados) na Lava Jato, como relatou recentemente a Folha de S.Paulo num título-síntese: Farol do Centrão, Valdemar foi de FHC a Lula, do mensalão à Lava Jato.

Neste ano, o sonho nas noites de verão era o de que a eleição ungisse o profeta da faxina geral da República imoral. Mas nem um “santo” (codinome do candidato tucano na lista de propinas da Odebrecht) encontrará um pretendente comprometido em combater a corrupção como a Nação deseja. Aí a candidata da Rede, Marina Silva, tem razão ao alertar que todos sinalizam que farão “o diabo” para fechar a caixa de Pandora aberta pela Lava Jato o mais rapidamente que puderem. Ora, se o farão!

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