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Augusto Nunes

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J.R. Guzzo: No picadeiro

Quando o cidadão ouve alguma figura pública brasileira dizer que prevaleceu o bom-senso, pode ter certeza de que estão lhe batendo a carteira

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h57 - Publicado em 15 abr 2017, 15h17

Publicado na edição impressa de VEJA

Os brasileiros não param de ouvir, já faz um certo tempo, advertências informando a todos que é preciso tomar muito cuidado com o que estão ouvindo por aí. Essa história de dizer que os políticos são uma completa desgraça em sua conduta e em seus resultados, por exemplo, é um perigo. Segundo os autores dessas recomendações de cautela, não se podem desmoralizar os políticos, pois isso desmoraliza as “instituições”, e aí vai tudo para o diabo — sem eles e sem elas, como ficaria o país? O Judiciário, então, é um tema mais delicado ainda: por mais absurdo que esteja se tornando o Brasil que constrói passo a passo com as suas decisões, como fazer pouco dos nossos mais altos magistrados? Além dos políticos e dos juristas, é preciso prestar muita atenção, também, antes de falar mal dos partidos, das lideranças nacionais e dos homens públicos em geral. Por piores que sejam, não há democracia sem a presença de todos eles – a única solução, portanto, é aguentar. Tudo bem, mas os personagens desse elenco fazem o possível e o impossível para despertar contra eles, como diria o ex-deputado Roberto Jefferson, os instintos mais primitivos da população. Fica difícil desse jeito.

Seu último prodígio, uma obra de autoria coletiva que soma os esforços de juristas, políticos e partidos, é o que poderia se tornar conhecido como “o Caso da Chapa”. A assinatura oficial da obra é da “Justiça Eleitoral” – uma das peças mais notáveis do acervo em exibição no Museu de Horrores do Estado Brasileiro, com o seu Tribunal Superior Eleitoral, os 27 tribunais regionais, mais de 20 000 funcionários e funções desconhecidas em qualquer democracia bem-sucedida do mundo, onde jamais se julgou necessário criar uma “justiça eleitoral” para fazer eleições. O Tribunal Superior Eleitoral, como se sabe, está examinando desde o fim de 2014 um processo para decidir se a chapa vencedora das eleições presidenciais, de Dilma Rousseff e Michel Temer, recebeu dinheiro ilegal na campanha. É um fenômeno: esse delito tornaria “inelegível” uma chapa que já foi eleita dois anos e meio atrás, deporia de novo do cargo uma presidente que já foi deposta e mandaria para a rua o presidente atual, que termina o mandato já no ano que vem — o que obrigaria o Brasil a ter mais um presidente aleijado e de vida breve, o terceiro de 2015 para cá. Para piorar ainda mais a qualidade da charada, o relator do processo julgou necessário escrever um relatório de 1 032 páginas sobre o caso — mais que isso, só a Bíblia. Na semana passada, sempre na esperança de fazer esse disparate desaparecer pelo cansaço, ou pela sua própria falta de nexo, o TSE resolveu deixar tudo do jeito que está.

Depois de todo o tempo que já passou desde o começo do caso, os ministros acharam que seria preciso dar ainda mais uns dias aos advogados de Dilma para que apresentassem sua defesa; para garantirem que nada aconteça, resolveram também que as partes ainda podem chamar testemunhas — enfim, acabaram de adiar tudo de novo, e o caso, que ninguém já levava a sério, entrou definitivamente na área da palhaçada. Mais uma vez, como vem ocorrendo nos últimos 500 anos, “prevaleceu o bom-senso”, como observou um dos marechais de campo da tropa política de Brasília. Nem é preciso avisar: quando o cidadão ouve alguma figura pública brasileira dizer que prevaleceu o bom-senso, pode ter certeza de que estão lhe batendo a carteira. O que prevaleceu, mesmo, foi o interesse de cada um. Ninguém gosta do presidente, ou diz que não gosta, mas todos querem que o presidente fique. O PT finge que está em guerra com o governo: na rua, os militantes gritam “Fora, Temer”, na conversa para valer, os chefes do partido dizem “Fica, Temer”. O PSDB, que começou a ação para anular a chapa Dilma-Temer, reduziu sua cobrança pela metade: como Dilma já foi, quer que Temer fique. O senador Renan Calheiros, ninguém menos que ele, se transformou de vinho em água e todo dia requisita os jornalistas para dizer-lhes que é agora um homem da oposição, aliado de coração do ex-presidente Lula e inimigo mortal de Michel Temer. Ninguém, enfim, quer o que diz — nem o TSE quer julgar coisa nenhuma. Estão todos pensando, apenas, em como tirar proveito do que pode acontecer em 2018, e em permanecer fora do xadrez até lá. É o circo marambaia.

Se você não percebeu quem os políticos, ministros de tribunais, gênios dos partidos etc. escolheram para fazer o papel de palhaço nesse picadeiro, pense um pouco. Em menos de um minuto vai ver que o palhaço é você.

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