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Augusto Nunes

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Especial VEJA: Juscelino Kubitschek ─ A reeleição que nunca houve

Publicado na edição impressa de VEJA Havia seis candidatos a presidente em 1964. Todos, portanto, interessados em chegar até 1965. Ou seja, empurrar a crise até a próxima eleição presidencial. O mais interessado de todos era Juscelino Kubitschek (os outros candidatos eram os governadores Carlos Lacerda, Adhemar de Barros e Miguel Arraes; além do próprio […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h01 - Publicado em 20 abr 2014, 08h21

Publicado na edição impressa de VEJA

jk

Havia seis candidatos a presidente em 1964. Todos, portanto, interessados em chegar até 1965. Ou seja, empurrar a crise até a próxima eleição presidencial. O mais interessado de todos era Juscelino Kubitschek (os outros candidatos eram os governadores Carlos Lacerda, Adhemar de Barros e Miguel Arraes; além do próprio presidente João Goulart e seu cunhado Leonel Brizola, no caso de uma feitiçaria constitucional que os livrasse da inelegibilidade). As pesquisas de opinião já davam 37% dos votos para que ele voltasse à elegante cidade que havia criado do nada, deixando uma nada bela encrenca econômica, mas a imagem de político inovador nas realizações públicas e conciliador nas tratativas particulares. À véspera do golpe, conciliação era uma moeda em falta até mesmo no trato entre dois homens pouco sanguíneos como JK e Jango. A aliança política entre o PTB de Goulart e o PSD de Juscelino estava irreversivelmente deteriorada.

Em 1963, o presidente avisou o senador, eleito por Goiás, que ele não mais poderia contar com o apoio do PTB para sua candidatura presidencial. Em 15 de março, propôs ao Congresso mudar a Constituição e permitir a sua reeleição. “Ele passou dos limites. Saiu da legalidade que o sustentava”, reagiu Juscelino. Mesmo contra todas as evidências, na manhã de 31 de março Juscelino ligou para o Palácio Laranjeiras. Quando finalmente o atenderam, mandou chamar o oficial do dia e ditou: “Aqui está falando o senador Juscelino Kubitschek. Anote no seu livro de ocorrências que eu estou tentando telefonar para o presidente João Goulart há várias horas e ninguém atende”. Quando Jango retornou a chamada, JK apelou-lhe que interrompesse a marcha da insensatez. Suas palavras não surtiram efeito e, se surtissem, dificilmente mudariam o rumo dos acontecimentos.

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Quarenta minutos depois, Juscelino soube por José Maria Alkmin ─ que havia sido seu ministro da Fazenda e era casado com uma prima sua ─ que o golpe já estava em curso. Às 4 horas da tarde, Jango pediu a JK que o visitasse no já quase vazio Laranjeiras. Recebeu-o no quarto. Juscelino sentou-se em uma das camas e fez o apelo final: “Você tem de fazer dois manifestos. Um tranquilizando a nação em relação ao problema do comunismo. O outro, às Forças Armadas, em que você evoca para si o problema da Marinha e resolve tudo no respeito aos regulamentos e à hierarquia”. Como havia feito com todos os conselhos semelhantes, Jango se recusou: “Se eu fizer isso dou uma demonstração de medo, e um homem com medo não pode governar o país”. JK, que havia sobrevivido às próprias crises militares e aplicava só dosadamente a tática do confronto, tinha uma máxima mais realista: “No Brasil, elege-se pelo povo, mas governa-se com os olhos voltados para as classes armadas”.

Onze dias depois, JK votava no Congresso para que o general Humberto Castello Branco se tornasse o primeiro presidente do regime militar. Em pouco tempo, como todos os outros candidatos em potencial à eleição que nunca existiu em 1965, estava cassado e exilado. “Caí na armadilha do Castello Branco”, disse anos depois. “Caímos todos.” Menos o primo torto, José Maria Alkmin, que virou vice de Castello.

Colaboradores: André Petry, Augusto Nunes, Carlos Graieb, Diogo Schelp, Duda Teixeira, Eurípedes Alcântara, Fábio Altman, Giuliano Guandalini, Jerônimo Teixeira, Juliana Linhares, Leslie Lestão, Otávio Cabral, Pedro Dias, Rinaldo Gama, Thaís Oyama e Vilma Gryzinski.

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