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Acórdão, acordão e acordo: sem hífen

A norma culta da língua portuguesa é conhecida por poucos no Brasil. Na escola, optam substituir a língua de Camões pela variante que os alunos já dominavam

Por Deonísio da Silva
25 fev 2018, 13h58

Deonísio da Silva

Faz diferença você pedir um copo de leite ou um copo-de-leite. Sem hífen, receberá o recipiente com o líquido tão nutritivo. Com hífen, dar-lhe-ão ai, ai, ai, a mesóclise! uma flor.

A flor chamada copo-de-leite é conhecida também por outros nomes: palma-de-são-josé, açucena, flor-da-imperatriz, lírio-branco e lírio-encarnado, entre outras. Os índios denominavam urucatu e tuquirá algumas destas espécies. Os dicionários Aulete e Aurélio optaram por tuquira (sem acento), mas o Houaiss preferiu tuquirá (com acento).

Mas por que o hífen? Hífen é palavra que veio do Grego e passou pelo Latim, de onde chegou ao Português. Tem o significado de traço de união. Tanto que no Francês é trait d’ union, e no Italiano é trattino.

Os estudos sobre o hífen motivaram a concessão do Prêmio Antenor Nascentes, outorgado este ano pela Academia Brasileira de Filologia a José Carlos Gentili pelo livro A infernização do hífen.

A cerimônia de entrega deu-se na Embaixada de Portugal, em Brasília, na noite de quinta-feira passada, dia 22 de fevereiro, com um auditório lotado para prestigiar o romancista e filólogo que deixou o Rio Grande do Sul há várias décadas, radicando-se na capital federal.

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José Carlos Gentili é o que podemos chamar de botânico e jardineiro da língua portuguesa, pois que é autor também de romances, contos e poemas, com destaque para a prosa de Lagoa dos Cavalos.

O livro que o premiou é um longo acervo de documentação sobre o hífen, este traço de união que tornou-se pomo de discórdia do Acordo Ortográfico, que, aliás, teve outro ponto alto de controvérsia na semana passada, em Portugal, como tem sido frequente ocorrer entre nossos irmãos portugueses que, entre os legados relevantes a nosso País e a outras nações lusófonas, deixaram um recurso poderoso de expressão, entretanto repleto de complexas sutilezas na hora da escrita.

Por que acontece isso? No caso do Brasil, por uma razão muito simples. Somos mais de duzentos milhões de falantes do Português, mas sua norma culta é conhecida por uma minoria. E o lugar onde ela deveria ser ensinada e aprendida tem-se tornado terreno minado, uma vez que, mesmo entre os que ensinam a disciplina, há quem defenda a substituição da língua de Camões, de Eça de Queiroz, do Padre Antônio Vieira e de Machado de Assis, entre outras referências solares de bem escrever, pela variante que os alunos já dominavam ao chegar à escola.

Provavelmente os idealizadores e executores do Acordo Ortográfico não esperavam tantas polêmicas. Em Portugal, uma das principais referências do Acordo Ortográfico é João Malaca Casteleiro, professor e pesquisador da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e membro da Academia das Ciências de Lisboa. No Brasil, um de seus livros mais apreciados é A arte de mandar em português, publicado pela Editora Lexikon, em que se ocupa das diversas formas de dar ordens em português, sem usar o modo imperativo, mas recorrendo a outros recursos em que o verbo aparece em outros modos.

No Brasil, a figura referencial do Acordo é o professor e linguista Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, que sucedeu ao filólogo Antônio Houaiss na tarefa de coordenar os esforços pelo Acordo e cuidar de sua aplicação.

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Era necessário um novo Acordo Ortográfico para a língua portuguesa? O Árabe tinha cerca de catorze grafias, foi unificado e tudo indica que os usuários das diversas variantes acharam a padronização necessária e agora utilizam o modelo sem a polêmica que nos acompanha na língua portuguesa há quase trinta anos.

O livro de José Carlos Gentili certamente ajudará a entender uma das principais controvérsias da grafia do Português depois do Acordo Ortográfico, se ele, de fato, continuar sendo aplicado no Brasil, pois, ao que parece, sua adoção poderá ser revista.

Ainda que isso pareça improvável, o Brasil jamais deixa de surpreender a si mesmo e ao mundo. Ou, na verve do humorista Apparício Torelly, o Barão de Itararé, “de onde menos se espera, dali é que não sai nada”.

*Deonísio da Silva
Diretor do Instituto da Palavra & Professor
Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

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