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Opinião política baseada em fatos
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100 mil mortos: “não tenho nada a ver com isso, a culpa é de Bolsonaro”

Cumpre indagar até que ponto o que está ocorrendo nos levará a refletir sobre quem somos como sociedade

Por Alberto Carlos Almeida
Atualizado em 9 ago 2020, 11h47 - Publicado em 9 ago 2020, 11h35

É muito confortável transferir 100% da responsabilidade de algo muito ruim para terceiros, ainda mais quando essa figura chama para si símbolos de tudo que há de ruim quando o assunto é a falta de compaixão. Porém, as aparências não podem nos eximir de encarar os fatos de frente e vermos quem realmente somos como sociedade (sem nenhum complexo de vira-latas). Não cabe aqui apontar a culpa infinitesimal que cada brasileiro possa vir a ter na conta dos milhares de mortos, mas sim fazer dessa tragédia coletiva um momento de reflexão sobre o Brasil.

Em 2019 morreram no Brasil 41.635 por causa de crimes violentos, tratou-se de um número a ser comemorado, pois foi o menor desde 2007. Em 2018 na Argentina foram 2.821 homicídios. Neste mesmo país, em 2016, foi realizado um grande protesto nacional em função do estupro e assassinato de uma jovem de 16 anos na cidade de Mar del Plata. Há sim no Brasil manifestações por causa de assassinatos, lembremo-nos o que fizemos quando Marielle foi assassinada, mas nenhuma delas com a mesma abrangência e magnitude das várias já realizadas por nossos Hermanos. Quando fazemos a comparação entre a nossa SOCIEDADE e a deles, ambas formada por cada indivíduo que foi socializado e habita as respectivas nações, temos que admitir que o valor da vida é menor cá do que lá. É nesse sentido que todos somos responsáveis pelo que ocorre hoje no Brasil.

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Fico muito aliviado em pensar que Bolsonaro é o principal responsável, que o meu quinhão nas 100 mil mortes é infinitesimal. Mas ainda que tenha seguido todas as recomendações da ciência, que tenha protegido adequadamente a mim e a todos que me cercam, devo admitir que não tentei criar um movimento social tipo os Somos 70 porcento, só que voltado para deter, ainda que um pouco, a escalada de mortes. Publico artigos e gravo vídeos no YouTube de forma regular, nos dois casos não foi minha prioridade comentar as mortes tampouco registrar os marcos a cada 10 mil óbitos. Não fiz isso porque a audiência é maior quando os assuntos são outros, em particular quando comento ou falo da sucessão presidencial em 2022. O público, a sociedade, prefere que fale disso e não das mortes. Sou parte desta sociedade.

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Até onde a minha memória permite lembrar não creio ter havido nenhum panelaço nacional a cada 10 mil falecimentos, não vi nenhum partido político, sindicato ou organização social convocando para isso. Se não o fizeram é porque provavelmente sabem que fracassariam, que a sociedade não agiria coletivamente motivada por isso. No meu livro A cabeça do brasileiro, sempre atual, está demonstrada a natureza fatalista de nossa mentalidade predominante. Para a maioria, hoje, a morte é algo normal, natural, e grande parte do que está acontecendo está fora do controle dos homens, incluindo o presidente.

Bolsonaro não é uma figura à parte de nossa sociedade, ele é produto dela. A oposição a Boslonaro também não está descolada de quem somos como nação, é exatamente por isso que ela não consegue liderar uma ação coletiva que se oponha com vigor à triste marca dos 100 mil mortos. Caminhamos para a marca de 200 mil e nada será feito por você, por mim, pela oposição e por Bolsonaro para que isso seja evitado. O Brasil é assim, somos assim. Neste momento o melhor a fazer é admitirmos esta realidade, sob pena de não avançarmos em direção a uma maior valorização da vida.

 

 

Isso não faz o Brasil pior do que nenhum outro país, e aqui registro a minha já antiga postura anti complexo de inferioridade, anti-viralatismo. Como qualquer país do mundo temos virtudes e defeitos coletivos. Não se mede um país por um episódio histórico apenas, fosse isto não haveria hoje a admiração que há pela Alemanha. Sociedades, nações e países, são apenas diferentes entre si. E uma dessas diferenças pode estar na capacidade de reconhecer suas falhas coletivas, em vez de confortavelmente transferir a responsabilidade para este ou aquele indivíduo.

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