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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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TSE, WhatsApp, Twitter: grandes derrotados nas eleições

Tanto o tribunal eleitoral quanto as redes sociais prometeram conter a disseminação da boataria e das fake news. Nada fizeram de eficaz

Por Filipe Vilicic 29 out 2018, 16h43

Era de se esperar que o TSE, o Facebook (dono ainda de WhatsApp e Instagram) e o Twitter tivessem evoluído após as eleições presidenciais de 2016 nos EUA (a que elegeu Donald Trump) e de outras ao redor do planeta, como na França. Mentiras, notícias forjadas (as fake news), memes, vídeos virais poluíram o pleito nesses países, influenciando na disputa eleitoral – ainda se estuda em que medida e dimensão. Porém, não houve esse progresso, como demonstrou o andar da carruagem das eleições brasileiras que se encerraram ontem (confira detalhes do cenário do pleito das falácias em reportagem de VEJA assinada por mim e pelo repórter André Lopes). E isso nada tem a ver com que ganhou ou perdeu na votação.

Para controlar os efeitos das fake news nas eleições, o TSE fez uma penca de promessas. Começou em 2017. Por exemplo, em novembro daquele ano, o tribunal eleitoral anunciou a criação de um Conselho Consultivo sobre a Internet. Em 18 de dezembro, aprovou as resoluções que guiariam as ações nesse sentido. Em resumo, girava em torno de remover conteúdo falacioso na internet e identificar e proibir propaganda política impulsionada nas redes sociais.

Em janeiro de 2018, o tal conselho ainda afirmou que trabalharia em parceria com Facebook, Google e Twitter nesse tópico. Pouco depois, prometeu-se ainda que a Abin (a Agência Brasileira de Inteligência) iria ativamente monitorar as redes sociais com o mesmo fim. Na prática, nenhuma dessas iniciativas tiveram êxito. Pelo contrário, caíram no esquecimento.

O ministro Luiz Fux, então à frente do órgão, chegou a declarar, em evento de VEJA: “O artigo 222 do Código Eleitoral prevê que, se o resultado de uma eleição qualquer for fruto de uma fake news difundida de forma massiva e influente no resultado, pode ter inclusive a anulação”. Como evidencia a reportagem de VEJA destacada no primeiro parágrafo, a da edição extra pós-eleição, muitas mentiras foram difundidas sobre, por exemplo, Fernando Haddad e Jair Bolsonaro (em benefício especialmente de um deles). Mas o TSE fez vista grossa.

As poucas ações de fato executadas pelo tribunal só ocorreram já próximo do fim das eleições, após o primeiro turno. Por exemplo, em 11 de outubro, atrasadíssimo, lançou-se um site com função de desmentir os boatos. Contudo, na prática, enquanto o TSE tentava apagar uma mentira de uns 3 meses antes, da qual os eleitores já tinham até esquecido, outras trocentas novas já circulavam pelo WhatsApp.

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Facebook, WhatsApp, Twitter também prometeram agir nas eleições. “Há uma grande eleição no Brasil. Pode apostar que estamos muito comprometidos em fazer tudo o que pudermos para garantir a integridade dessas eleições no Facebook”, afirmou Mark Zuckerberg em março. Em maio, a companhia anunciou parcerias com agências brasileiras para checar fatos (ou embustes) na internet.

No WhatsApp e no Twitter, as inciativas de contenção das fake news foram completamente fracassadas. O Twitter, que prometeu usar uma inteligência artificial para, por exemplo, deletar bots e perfis falsos, foi, na real, palco principal da ação desses bots e dos perfis falsos. O WhatsApp, que apresentou medidas como a de limitar o número de compartilhamentos executados por um mesmo número de celular, foi vencido por artimanhas de marqueteiros, apoiadores dos políticos, empresários e candidatos.

Para ser justo, o único que se sobressaiu foi o próprio Facebook. Todavia, isso apenas se contar apenas o cenário em seu site principal – não no WhatsApp ou no Instagram. A rede de Mark Zuckerberg realmente apagou contas que disseminavam as mentiras. Também lançou, mesmo que com atraso (já durante o segundo turno), uma ferramenta que oferece o contexto (por exemplo, se tem origem em uma fonte confiável, tradicional) de cada conteúdo compartilhado pela rede. Números preliminares provam que se reduziu a disseminação de fake news pela página.

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Só que tem um porém. Não se sabe se essa redução foi realmente por consequência direta das ações da empresa. Pode ser que ocorreu tão-somente pelas pessoas estarem usando mais o WhatsApp para espalha as fake news. Ou, ainda, há a chance de representar uma soma de fatores. Como ficou mais difícil espalhar a boataria pelo Facebook, migrou-se para o WhatsApp.

O que se tem certeza é que a mentira correu solta durante as eleições, talvez afetando a decisão de eleitores. Nisso, saíram todos derrotados: TSE, Abin, WhatsApp, Twitter, Facebook e nós, que votamos.

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