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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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A política no WhatsApp: parece a 25 de Março no auge

Em continuidade à história dos disparos de WhatsApp favoráveis a Bolsonaro, a Folha afirmou que se usou o CPF de idosos para tal. Isso parece um mercadão

Por Filipe Vilicic 2 dez 2018, 11h59

A manchete da Folha de S.Paulo de hoje (2): “Fraude com CPF alimentou uso eleitoral de WhatsApp”. Em VEJA e neste blog demos detalhes de como funcionou o disparo (no mínimo irregular; pode ser ilegal, a depender dos próximos capítulos da novela) de mensagens de WhatsApp por campanhas de políticos nas últimas eleições. Folha ainda afirmou antes que empresários teriam pago a agências para realizar ações ilegais em favor da campanha do presidente eleito Jair Bolsonaro. O que todas essas evidências apontam? Que o WhatsApp está cada vez mais parecido com a 25 de Março em seu auge.

Para quem não é de São Paulo, vale contar que a 25 é uma rua conhecida pelo fuzuê. Hoje é menos badalada do que fora até a década de 2010. Lá na 25 “rola de tudo”. Certa vez, há mais de 10 anos, fiz uma reportagem para a Veja São Paulo que evidenciava como naquele mercado de tudo se vendiam DVDs piratas, celulares roubados, toda sorte de produtos ilegais, incluindo… informações verdadeiras ou fraudulentas de cidadãos, como registros de CPF.

Na reportagem de hoje, a Folha apontou que as agências de disparo de mensagens políticas no WhatsApp contavam com um banco de CPFs de idosos como base para a tática. Ao registrar números de celulares com os documentos (uma tática antecipada por este blog; mas sem os mesmos detalhes), as empresas, a exemplo da Yacows, conseguiam burlar bloqueios do próprio WhatsApp e assim operar na campanha dos políticos – cita-se, além de Bolsonaro, nomes como Henrique Meirelles; contudo, as evidências apontam para o uso disseminado da estratégia.

A lógica é a mesma, mesmíssima, da 25 de Março. No comércio popular, compram-se CPFs para bases irregulares de serviços de telemarketing, para servir a fraudes etc. Na internet, se faz o mesmo para alimentar operações escusas. A exemplo das que promoveram políticos nas últimas eleições.

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Não só nisso o WhatsApp se parece com a 25. No aplicativo de mensagens também é comum a troca de links com séries e filmes piratas; na 25, vendem-se os DVDs. No app, a gritaria é imensa, só que a maioria parece perdida, sem rumo; na 25, o mesmo. Pelo celular se recebem spams dos mais variados, com propagandas igualmente diversas; no seu auge do passado, a 25 era lotada de panfletos e homens-placa. No WhatsApp por vezes se é alvo de tentativas de golpes na linha “clique aqui e participe dessa promoção incrível” (a verdade seria algo como “clique aqui e nos dê sua senha do banco”); também na 25 é preciso ficar atento à carteira no bolso.

Assim como no WhatsApp há obscuras campanhas políticas. Na 25, lá no pico da década passada, proliferavam-se cabos eleitorais, partidários ou mesmo gente querendo comprar o voto dos eleitores (oferecendo para tal um churrasco grego com suco feito com água da pia do boteco ao lado).

Todavia, há uma diferença (imensa!) entre WhatsApp e a 25. Na rua, era bem mais fácil distinguir a balela da real, pouca gente tinha tempo para dar atenção à gritaria, e normalmente quem ia lá só estava afim mesmo de comprar algum brinquedo de Natal com um belíssimo desconto (ou algo do gênero).

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Já na internet o povo parece não se importar em gastar horas e mais horas percorrendo boatarias, notícias artificialmente fabricadas (as fake news), memes etc. E muita gente leva tudo extremamente mais à sério na rede do que nas avenidas.

Ah, claro, e tem a questão da dimensão: na 25, essa zoeira se estende a, no máximo (em época de Natal), 1 milhão de possíveis eleitores; já no WhatsApp, são mais de 120 milhões de brasileiros (e aqui nem cito estadunidenses e russos).

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