Terras indígenas da Amazônia são essenciais para regime de chuvas do país
Pesquisa mostra que a região é responsável indiretamente por 80% do abastecimento de água nas regiões do agronegócio

Os territórios indígenas da Amazônia são as áreas mais preservadas do país. Nos últimos 38 anos, a devastação da região foi de 1%, enquanto que nas propriedades privadas chegou a 17%, de acordo as imagens de satélites do MapBiomas, que monitora o uso da terra no Brasil. Recentemente cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) descobriram que manter essa faixa de mata nativa longe da devastação e do interesse dos mais variados setores da economia é essencial para o regime de chuvas do Brasil. As terras indígenas indiretamente abastassem 80% das regiões do agronegócio.
O impacto é imenso. Para dar uma ideia de valor, as áreas beneficiadas pelas precipitações, em 2021, faturaram R$ 338 bilhões. Mais do que uma questão de meio ambiente, as terras indígenas ganham relevância econômica. Devastar a região pode sair mais caro ao país do que preservá-las. “O desmatamento e a degradação das florestas causam redução nas precipitações e coloca em risco a produção”, explica o hidrologista e autor do estudo Caio Matto, da UFSC.
O estudo foi realizado por um grupo de pesquisa em ecologia tropical do Instituto Serrapilheira, a partir do cruzamento de dados provenientes do MapBiomas, IBGE e Funai. De acordo com os resultados, 18 estados e o Distrito Federal encontram-se parcialmente ou totalmente em área de influência das terras indígenas amazônica. Por exemplo, estados como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Acre e Paraná, há regiões onde a chuva proveniente da reciclagem de água feita pelas matas indígenas chega a um terço do total anual. Em um ano em que o marco temporal voltou a ser discutido, ameaçando os direitos indígenas e a proteção dessas áreas, o estudo colabora para mostrar o que pode acontecer caso caiam a proteção dessas áreas.
COMO FUNCIONA
A Amazônia irriga quase todo o país através dos chamados rios voadores, nome dado a umidade formada na atmosfera que é exalada pelas árvores das terras indígenas amazônicas. A umidade pega carona nas nuvens para outras regiões, como o Centro-Oeste e o Sul, provocando chuvas.