No verão do Hemisfério Norte, a Europa enfrenta o que pode ser a pior seca dos últimos 500 anos no continente. Nos Estados Unidos, quase metade do país esteve sob os efeitos da estiagem ao longo deste ano. No México, dois terços do país enfrentam dificuldades para ter acesso à água e a escassez estimulou episódios de violência.
O cenário de eventos climáticos extremos é generalizado. A emissão desenfreada de gases de efeito estufa já aumentou a temperatura média do planeta em 1ºC e, caso nada seja feito para mudar esse padrão de comportamento, a tendência é que a Terra esquente cada vez mais. Os exemplos de crises ambientais em curso são uma amostra do que será considerado normal no futuro.
Em Estocolmo, na Suécia, durante um evento da Semana Mundial da Água, o chefe de Água e Saneamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Sérgio Campos, afirmou que “as soluções baseadas na natureza provaram ser eficazes na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas”, e que a magnitude da seca “sem precedentes” na segunda maior cidade do México mostrou que “muitos desses esforços não foram suficientes” e alertou que “as mudanças climáticas estão elevando a barra cada vez mais”.
No período entre 2014 e 2017, o estado de São Paulo enfrentou a pior crise hídrica da sua história. 8,8 milhões de paulistanos foram atingidos pela forte estiagem. Em julho deste ano, o Sistema Cantareira, um dos maiores reservatórios do mundo, entrou na faixa de alerta, operando com menos de 40% da sua capacidade.
Ao analisar as condições do Cantareira, o estudo “Até que ponto as soluções baseadas na natureza podem aumentar a resiliência do abastecimento de água frente às mudanças climáticas em uma das mais importantes bacias hidrográficas brasileiras?”, publicado em julho na revista Earth/MDPI (Multidisciplinary Digital Publishing Institute), mostrou como plantar árvores e melhorar a qualidade do solo são estratégias eficientes para aumentar a resiliência na produção de água. A pesquisa foi conduzida pelo projeto Semeando Água, do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ).
De acordo com a bióloga Letícia Duarte, primeira autora da pesquisa, “melhorar as práticas de manejo em áreas prioritárias para recarga hídrica ajuda a reduzir oscilações na disponibilidade hídrica ao longo do tempo. Já a restauração das áreas de proteção permanente melhora a qualidade da água e contribui também com o sequestro de carbono da atmosfera, estratégia para mitigar os efeitos das mudanças climáticas”.
Os resultados também mostram como a metrópole pode se preparar para o futuro, pois o nível do Sistema Cantareira mostra que uma nova crise hídrica está perto de acontecer. “O estudo salienta também que essas medidas devem ser combinadas com um esforço coletivo e intenso de redução das emissões de gases de efeito estufa, caso contrário, São Paulo poderá viver novamente eventos de crise”, destaca Duarte.
Depois do intenso verão no Hemisfério Norte, parte do aprendizado que ficou foi sobre a necessidade de adaptação para a mudança do clima que está em curso. Enquanto o Brasil tem lições do passado e observa o que também acontece em outros países, investir na recuperação da natureza é essencial para proteger a população e o meio ambiente.