Em todo o planeta, as populações de vida selvagem tiveram um declínio de 69% entre 1970 e 2018. Na América Latina, região que apresenta o maior declínio na abundância média da população de espécies, a redução foi de 94%. Os animais que habitam os rios de água doce registraram o maior declínio global: as populações foram reduzidas em 83%.
Os dados preocupantes fazem parte da 14ª edição do Relatório Planeta Vivo, elaborado pela ONG WWF, divulgado no dia 12 de outubro. O estudo analisou 32 mil populações de 5.230 espécies de todo o planeta.
Um infeliz destaque é o boto amazônico, que representou uma das espécies que mais diminuíram nas últimas décadas. A contaminação por mercúrio, a captura não intencional em redes e os ataques em represália pela danificação de equipamentos de pesca são alguns dos motivos que geram pressão sobre os botos.
Porém, uma das principais ameaças é a caça ilegal para usar a carne de boto como isca na pesca da Piracatinga. De acordo com o WWF, entre 1994 e 2016, a população de botos-cor-de-rosa na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no estado do Amazonas, diminuiu 65%.
De acordo com a gerente de Ciências do WWF-Brasil, Mariana Napolitano, “os botos têm grande capacidade de se aproximar e interagir com humanos, o que acaba gerando situações de conflito com a atividade pesqueira que, frequentemente, terminam com a morte de indivíduos da espécie”.
Além disso, por serem mamíferos, eles estão mais vulneráveis à contaminação por mercúrio. “Os altos níveis de mercúrio levam ao desenvolvimento de vários problemas de saúde e esta é uma condição compartilhada por botos e populações ribeirinhas”, disse.
As ameaças causadas pelo aquecimento global também terão grande impacto na biodiversidade. O relatório destacou que as alterações do uso do solo permanecem como o maior causador da perda de biodiversidade, e que os impactos em cascata das mudanças climáticas já têm impactos no mundo natural.
“Se não conseguirmos controlar o aquecimento para que ele não passe de 1,5°C, as mudanças climáticas provavelmente se tornarão a causa principal da perda de biodiversidade nas próximas décadas”, diz o documento.
Para o diretor-geral do WWF Internacional, Marco Lambertini, estamos enfrentando uma dupla emergência global provocada pelas ações humanas: a das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade, ameaçando o bem-estar das gerações atuais e futuras.
“O WWF está extremamente preocupado com esses novos dados que mostram uma queda devastadora nas populações de animais selvagens, em particular nas regiões tropicais que abrigam algumas das paisagens mais biodiversas do mundo”, afirmou.