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Para ambientalistas, Lula tira o país do papel de “pedinte”

Discurso do presidente na ONU traz protagonismo ao país, mas expõe contradições entre ações e metas

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 set 2024, 01h08 - Publicado em 25 set 2024, 21h46
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  • O meio ambiente foi um dos temas esperados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no discurso de abertura da 79ª Assembleia Geral da ONU, nesta última terça-feira, 24. Com a mudança climática em curso, o governo não se furtou de falar sobre os graves problemas que atingem o país, como as queimadas que consomem os principais biomas. O Brasil dobrou o número de focos de incêndio este ano, quando comparado ao mesmo período do ano passado, aumentando a emissão de carbono para o mundo.

    Também falou da destruição do Rio Grande do Sul, com as grandes enchentes provocadas pelas chuvas. Lula emocionou os ambientalistas, muito mais pelo tom do discurso, que mostrou altivez e determinação, mas preocupou ao deixar escapar nas entrelinhas contradições e algumas ressalvas em relação às medidas que tomará sobre a diminuição no aquecimento. “No governo de Jair Bolsonaro, o Brasil virou vítima e se transformou em pedinte global, de pires na mão, para atrair recursos para salvar a Amazônia”, disse Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa. “Lula se colocou no lugar de protagonista.”

    Emoção à parte, os ambientalistas estavam atentos para saber o que o presidente iria falar sobre a chamada NDC (sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Deternimada), que é um plano de ação climática estabelecido por cada país com objetivo de reduzir a emissão de gases do efeito estufa. O presidente se comprometeu que “será apresentada ainda este ano, em linha com o objetivo de limitar o aumento da temperatura do planeta a um grau e meio”. A NDC é um conjunto de normas que possuem efeito praticamente de leis.

     Boa notícia

    O presidente sinalizou que o país buscará estar entre os primeiros a submeter suas metas para 2035 à Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC). “Ele está engajado com a Missão 1.5 que lidera juntamente com outros países da Troika (Emirados Árabes e Azerbaijão, presidência das COPs 28, 29 e 30), mas não convocou os demais países a embarcar também”, diz Natalie.

    Há meses que o setor reclama sobre a falta de notícias da NDC. Nos bastidores, há uma insatisfação dos especialistas e entidades mais representativas não serem convocadas para as reuniões que já estão em andamento. O governo vem decidindo tudo a portas fechadas, enquanto que o caminho desejado é o da audiência pública.

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    Exportação de petróleo é uma contradição

    O discurso de Lula foi um tanto generalista e deixou expostas algumas contradições. Se de um lado falou em “desmatamento zero”, de outro insistiu em tornar-se menos dependente da energia de combustíveis fósseis, o que não garante segurança ao mundo. Lula não falou em transição energética, que deveria ser pensada em escalas, começando pelos transportes públicos, segundo especialistas. Até agora não existem política públicas que diminuam as barreiras para a população começar a substituir a frota atual de carros. Isso sem contar outros setores, como a agricultura, que tem grande papel no aquecimento global.

    “É muito importante alinhar as ações ao discurso e rever posicionamentos internos, que estão levando o Brasil a subir no ranking dos maiores emissores globais dos gases que estão sufocando a vida no planeta”, diz Mauricio Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil. De fato, existem contradições. Uma delas tem a ver com os vultuosos investimentos para transformar o país em grande exportador de petróleo, o que vai na contramão das metas de um mundo mais sustentável. Enfim, não adianta limpar o quintal de casa e jogar a sujeira na casa do vizinho.

     

     

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