A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na China acabou adiando os planos das empresas que estão no país para firmar acordos comerciais. Muitas tratativas que já estavam encaminhadas tiveram de esperar porque os executivos avaliam que anúncios que “peguem carona” no encontro entre Lula e o presidente chinês, Xi Jinping, teriam maior repercussão.
O adiamento da visita, no entanto, deu espaço para que novos tratados de cooperação comecem a ser estudados. Uma das principais áreas de interesse é a a agenda verde. Embora haja o entendimento geral de que os dois países são complementares também nesse ponto – a China é o maior emissor de carbono do planeta, enquanto o Brasil tem uma matriz energética bastante limpa – ainda não está claro que tipo de arranjo poderia beneficiar os dois lados.
Um modelo, porém, já começou a ser desenhado. Empresas brasileiras estão interessadas em vender crédito de carbono para o gigante asiático. Como o país responde por quase um quarto das emissões mundiais, por ter sua geração de energia atrelada principalmente ao carvão e aos derivados de petróleo, é praticamente consenso que a China não irá conseguir migrar para uma economia de baixo carbono sem aumentar consideravelmente a compra desse tipo de título.
Os créditos funcionam como uma espécie de moeda de troca. Empresas ou países que conseguem implementar medidas que reduzem as emissões passam a negociar esse ganho como se fosse um ativo. Os compradores não deixam de emitir carbono, mas passam a fazê-lo “compensando” financeiramente essa emissão. Estima-se que apenas a preservação da floresta amazônica possa gerear ganhos no valor de 10 bilhões de dólares por ano ao Brasil.
“imagine o entendimento entre um país com a maior biodiversidade do planeta [Brasil], que decidiu enfrentar o desmatamento e as invasões das terras indígenas, fazendo um acordo com um país que deve ter o maior mercado de carbono do mundo. A China está trabalhando nisso há mais de vinte anos, há uma ação forte para fazer compensação”, diz Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, a agência responsável pelas exportações.
Um dos setores que está mais de olho nesse tipo de iniciativa é o de papel e celulose. Como a plantação de árvores é esencial na cadeia produtiva, as empresas conseguem capturar do ambiente mais carbono do que emitem. O potencial pode ser usado para aproximar a China de páises europeus, que no atual momento se alinham aos Estados Unidos na guerra comercial contra o gigante asiático.
“França e Alemanha são mais pragmáticos e têm altos níveis de exigência ambiental. A China tem interesse em manter essas relações e se aproximar, cada vez mais, das demandas desses países”, diz José Carlos Fonseca Júnior, presidente da Indústria Brasileira da Árvore, que congrega empresas que tem o florestamento como principal atividade econômica.
A China colocou o combate às mudanças climáticas como um dos assuntos prioritários no 14° plano plurianual que está em curso nesse momento. A Vale já tem explorado esse mercado vendendo um minério de ferro agregado que derrete mais rápido, durante a fabricação do aço, e reduz o consumo de energia em até 40%. “As empresas podem se posicionar como desenvolvedoras de soluções energéticas com o objetivo da descarbonização”, diz Alexandre D’ambrosio, vice-presidente de Assuntos Corporativos e Institucionais da companhia.