Desenvolvimento não sustentável continua sendo o lema da maior cidade do Brasil. Mais uma vez a prefeitura da capital é questionada pelo Ministério Público por autorizar a supressão de áreas verdes importantes para o meio ambiente. Há pouco mais de um mês, a construção de um prédio na zona sul, que pretendia derrubar um bosque com árvores de Mata Atlântica, foi suspensa pelo órgão. Agora o o alvo é um túnel, planejado para ligar as Avenidas Sena Madureira e Ricardo Jafet, principal saída da cidade para a Rodovia dos Imigrantes, que leva à Baixada Santista. A viabilidade da obra depende da remoção de 170 árvores nativas grandes, aprovada pela prefeitura. Na última quarta-feira, 30, o Ministério Público abriu investigação sobre a construção do túnel, que tem história pregressa cheia de pontas soltas.
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A destruição implícita no entorno da obra fez com que moradores da região saíssem às ruas com cartazes nas mãos, o que chamou a atenção da Justiça. Localizado na Vila Mariana, um dos bairros recentemente escolhidos pelas construtoras para colocar abaixo casarões antigos e subir prédios desproporcionalmente altos, agora a população teme a real possibilidade de árvores nativas grandes sumirem. Segundo especialistas, elas formam um corredor verde, para a passagem dos animais entre os Parques do Ibirapuera e Aclimação. Além disso, na região onde será necessário escavar existe a nascente do córrego Embuaçu, que está documentado em mapas da cidade da década de 1930. Mesmo assim a prefeitura aprovou a remoção, por não reconhecer o local como Área de Proteção Ambiental (APP).
A obra ainda vai desalojar duas comunidades pequenas encravadas no bairro há pelo menos quatro décadas. A Souza Ramos e Luiz Alves abriga 150 pessoas, que não sabem para onde vão. Se não bastasse a questão ambiental e habitacional, a construtora Galvão Engenharia, responsável pela obra, foi alvo da operação Lava-Jato. Na época, o ex-presidente da empresa, Dario Queiroz Galvão Filho declarou ter pago R$ 1 milhão para Gilberto Kassab, na época que foi prefeito da cidade. O Supremo Tribunal Federal investigou, mas não encontrou provas. E, Kassab negou.
O túnel foi encomendado em 2011, na gestão Kassab, e tinha o prazo de um ano para ficar pronto, mas o projeto não saiu do papel. O prefeito seguinte, Fernando Haddad, sabiamente, deixou para lá a obra polêmica. No mês passado, no entanto, Ricardo Nunes desenterrou o “defunto”. Ele foi discutido na Câmara e aprovado pelo Tribunal de Contas do Município. Vai custar R$ 531 milhões, 140% a mais que no tempo do Kassab. Todos esses pontos serão investigados pelo MP.