Se somadas todas as regiões que sofreram com queimadas em janeiro, o Brasil viu torrar 1 milhão de hectares, o equivalente a área de dez estados do Sergipe. Comparado com o mesmo período do ano passado, o índice chama ainda mais atenção. De acordo com os dados do Monitor do Fogo, do MapBiomas, o aumento foi de 3,5 vezes. Diferentemente de janeiro do ano passado, o deste ano ainda estava sob forte influencia do El Niño, fenômeno natural que acontece de cinco a sete anos em média, responsável pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. No Brasil, o fenômeno com nome de criança impediu a entrada das ondas frias e a formação de chuvas, deixando as temperaturas mais altas e secas desde julho do ano passado.
Em janeiro, a Amazônia foi o bioma mais afetado pelas queimadas, correspondendo a 91% do território nacional arrasado pelo fogo, com destaque para os estados de Roraima e Pará. Já o segundo ecossistema mais atingido foi o Pantanal. “É normal que a Amazônia lidere em disparada a área queimada no início do ano por conta da estação seca de Roraima acontecer justamente nesse período. Entretanto, esse ano teve o agravante da seca extrema, que retardou e diminuiu a quantidade de chuva, deixando a região ainda mais inflamável”, explica a Coordenadora do MapBiomas Fogo e Diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar.
O período de seca na Amazônia foi mais intenso e mais longo que o normal. A falta de chuva castigou a população. Em setembro, quase todos os municípios da região decretaram estado de emergência, devido a falta de água. Rios importantes para o transporte de carga e mesmo de pessoas ficaram sem condição de navegabilidade de grandes embarcações. Peixes e até golfinhos morreram pelo calor extremo. Quando chegou o período seco de Roraima, a atmosfera estava mais propícia a incêndios do que de costume.
Particularidades do clima de Roraima
Em janeiro, Roraima teve 413.170 hectares atingidos pelo fogo – um aumento de 250% em relação ao mesmo período em 2023. A proximidade com a Linha do Equador confere ao estado características climáticas e geográficas singulares, que fazem com que o período de queimadas aconteça no início do ano, não do meio para o final do ano, como as outras regiões da Amazônia. Essa particularidade ajudou para que Roraima represente 40% de todo bioma amazônico queimado. Em segundo lugar, em área queimada, vem o Pará que perdeu 314.601 hectares, seguido pelo Amazonas, com 95.356 hectares.
A pior seca dos últimos 17 anos
Em fevereiro a situação de Roraima se agravou. Nove municípios tiveram a situação de emergência reconhecida pelo Governo Federal, devido a seca mais severa dos últimos 17 anos. Os problemas se acumulam na região. Escassez de água e danos nas áreas agrícolas que afetaram produções e criações são alguns deles. Mais recentemente os incêndios invadiram regiões indígenas, deixando parte da população sem casa. Uma delas é a comunidade do Bananal, na Terra Indígena São Marcos.