Um estudo global mostrou o impacto da mineração industrial nas taxas de desmatamento de florestas tropicais. Ao analisar informações de 2000 a 2019 da base de dados da plataforma de monitoramento de florestas Global Forest Watch e de mais de 3.000 minas, pesquisadores concluíram que a atividade contribuiu diretamente com a perda florestal de 3.464 quilômetros quadrados. Deste total, 80% do desmatamento está localizado em quatro países: Indonésia, Brasil, Gana e Suriname.
Ao mesmo tempo, a mineração corresponde a cerca de 1% do desmatamento no Brasil e na Indonésia. No Suriname, a atividade corresponde a 11% da perda de vegetação. Contudo, além da derrubada de floresta motivada diretamente pela abertura de minas, há também a devastação em áreas próximas às mineradoras com a abertura de estradas, por exemplo. O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Economia e Negócios de Viena e da Universidade Clark, nos Estados Unidos, e publicado no periódico PNAS.
De acordo com o professor de Meio Ambiente e Sociedade da Escola de Pós-Graduação em Geografia da Clark University e autor correspondente do estudo, Anthony Bebbington, “considerando as crescentes demandas por minerais, em particular por metais para energia renovável e tecnologias de mobilidade elétrica, as políticas do governo e da indústria devem levar em conta os impactos diretos e indiretos da extração”.
Para ele, “enfrentar esses impactos é uma ferramenta importante para conservar as florestas tropicais e proteger os meios de subsistência das comunidades que vivem nessas florestas”. Os pesquisadores sobrepuseram as coordenadas geográficas das minas industriais em operação de 2000 a 2019 com dados de perda florestal do conjunto de dados Global Forest Change para o mesmo período. Os dados abrangeram 26 países representando 76,7% do desmatamento tropical total observado de 2000 a 2019.
A extração de carvão na província indonésia de Kalimantan Oriental impulsionou o desmatamento relacionado à mineração no país. O desmatamento da mineração de minério de ferro e ouro no estado brasileiro de Minas Gerais foi claramente visível nos dados de satélite, enquanto a mineração de bauxita e ouro foram predominantes em Gana e Suriname.
Além do desmatamento, a mineração carrega uma gama de danos ambientais associados às operações, como a destruição de ecossistemas, perda de biodiversidade, contaminação de fontes de água e produção de resíduos perigosos.
Segundo o principal autor do estudo e professor associado do Instituto de Economia Ecológica da Universidade de Economia e Negócios de Viena, Stefan Giljum, “a permissão do governo deve levar tudo isso em consideração; uma mina industrial pode facilmente perturbar paisagens e ecossistemas. A mineração industrial continua sendo uma fraqueza oculta em suas estratégias para minimizar os impactos ambientais”.
Pesquisas anteriores na Amazônia brasileira mostraram que reconhecer e fazer valer os direitos de propriedade coletiva dos povos indígenas e de comunidades locais é uma das formas mais eficazes de prevenir o desmatamento, pois a derrubada da floresta em seus territórios é significativamente menor do que em locais administrados por outros governos ou entidades privadas.
O mais recente relatório climático das Nações Unidas concordou: “apoiar a autodeterminação indígena, reconhecer os direitos dos povos indígenas e apoiar a adaptação baseada no conhecimento indígena são fundamentais para reduzir os riscos das mudanças climáticas e uma adaptação eficaz”.