A Amazônia não parou de queimar ao longo do ano. Entre janeiro a agosto, a região concentra praticamente metade dos focos de incêndios que surgiram no país. Até os gaúchos, sentiram o impacto da fumaça nesse mês, porque ela se espalhou pelo país. De Manaus e Porto Alegre, um corredor atmosférico carregou os poluentes das queimadas da Amazônia, do Pantanal e da Bolívia para 11 estados brasileiros, isso só de acordo com o registro do dia 22 de agosto, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Mas é fato que esse fenômeno atmosférico se repetiu em outros dias. Isso se deve a um sistema climático comum na América do Sul, chamado de “rios voadores”.
Tratam-se de corredores de transporte de água atmosféricos formados por massas de ar carregadas de vapor de água sobre a Amazônia, que são impulsionados pelos ventos a leste da Cordilheira dos Andes. A corrente viaja por mais de três mil quilômetros sobre outras áreas do continente, onde produzem chuvas. Com as queimadas fora de controle na Amazônia, porém, além do vapor d’água, os “rios voadores” transportam partículas suspensas na atmosfera, produzindo verdadeiros corredores de fumaça.
Estados vizinhos têm queda da qualidade do ar
No fim de semana passado, a fumaça das queimadas do interior paulista também se dispersou em direção a outros estados, como Goiás. Na segunda-feira, 26, depois de três dias de fogo intenso espalhado em 200 municípios de São Paulo, Brasília acordou com o céu encoberto. Isso significa que mesmo os brasileiros que estão fora da área de desastre ambiental sentem o impacto das queimadas, que pioram muito a qualidade do ar em todo o país, em uma época de baixa umidade e chuvas, propícia a doenças respiratórias.
As queimadas em território nacional tem a ver com uma combinação de fatores, como desmatamento, aumento da temperatura global, períodos de seca mais longos que o de chuvas. Além do desequilíbrio climático, o grande gatilho é a ação humana. “A região onde se concentra a fumaça que detectamos em agosto coincide com o chamado Arco do Desmatamento -que inclui o norte de Rondônia, o sul do Amazonas e o sudoeste do Pará. Isso indica que além das mudanças climáticas e do El Niño, que atuou no clima no ano passado, as mudanças de uso da terra produzidas pelo ser humano têm um papel central no aumento das queimadas”, diz Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil.