Descobrir as razões físicas de um fenômeno climático é fundamental para análises e previsões mais precisas do tempo. Em 2021, uma nova interação entre o oceano e a atmosfera na região da Nova Zelândia e a Austrália foi identificada por uma equipe de cientistas internacionais. Tratava-se de um fenômeno com características parecidas com o El Niño, conhecido por aquecer as águas do Oceano Pacífico, a cada cinco anos, alterando correntes marítimas, capazes de virar o clima de cabeça para baixo em todo o planeta. A grande similaridade entre ele e o novo fenômeno está justamente na variação da temperatura da superfície da água e a pressão atmosférica, mas diferem no padrão e na localização. Só agora a mesma equipe conseguiu entender e provar o modelo batizado de Onda Número 4 do Padrão Circumpolar do Hemisfério Sul (SSW-4, sigla em inglês de Southern Hemisphere Circumpolar Wavernumber 4). Um feito importante que vai ajudar a melhorar a qualidade da previsão climática.
Interruptor do clima
A descoberta publicada esta semana no Journal Geophysical Research foi considerada pelo principal autor do estudo, o pesquisador Balaji Senapati, do Departamento de Meteorologia da Universidade de Reading, na Inglaterra, um “novo interruptor do clima”. A equipe sabia que esse fenômeno tinha influência no clima do Hemisfério Sul. Para provar a existência do novo padrão, foi desenvolvido um modelo climático, que combina componentes atmosféricos, oceânicos e de gelo marinho. A análise dos dados simulados levou às variações recorrentes. A temperatura nos oceanos muda de acordo com os ventos, criando áreas alternadas de ventos frios e quentes, criando oscilações de temperatura mais fortes e fracas, que se propagam em ondas.
O SSW-4 é totalmente independente do El Niño. Está localizado entre a Austrália e a Nova Zelândia e pode transportar ar aquecido e resfriado ao redor do planeta, ajudando na formação de chuvas. “Toda vez que melhora o entendimento da interação do oceano e atmosfera, há um avanço na qualidade da previsão do clima”, diz o climatologista Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. “Foi o que aconteceu na década de 1980, quando os pesquisadores começaram a explicar a física da formação do El Niño.” Ao estabelecerem um novo modelo, as previsões do tempo tornaram-se mais exatas.