O Instituto Inhotim, maior museu a céu aberto do mundo, sediou na terça-feira, 7, o evento Inhotim ESG Summit para debater questões de impacto social, ambiental e econômico nos setores público e privado. Durante um dos painéis, a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que foi a chefe da delegação brasileira na negociação do Acordo de Paris, na COP21, afirmou que o mundo perdeu o interesse no Brasil dentro da agenda ambiental.
A avaliação da ex-ministra levou em consideração o contexto da COP26, que aconteceu durante a primeira quinzena de novembro em Glasgow, na Escócia. “O Brasil sempre teve o soft power, mas hoje não tem mais”, disse Teixeira. Para ela, o retrocesso político nas questões ambientais terá consequências no curto e no médio prazo. “A diplomacia toma nota. O Brasil pode esquecer [do que vem fazendo na área ambiental], mas o mundo não esquece. Essa situação será usada em outros momentos contra os interesses do Brasil”, afirmou.
Por mais que as discussões sobre o Artigo 6, que regula o mercado global de carbono, tenham chamado mais atenção durante a COP26, Teixeira defendeu que a verdadeira chave do Acordo de Paris está no Artigo 4, que fala sobre ambição. “Precisamos discutir mitigação e adaptação com o objetivo de alcançar resiliência. É preciso pensar em como construir soluções de desenvolvimento”, disse.
De acordo com ela, as negociações em Glasgow foram importantes para resolver o chamado livro de regras do Acordo de Paris e o resultado das duas semanas, o Pacote de Glasgow, colocou o ponto de partida para dar início à implementação e partir para a ação. Segundo a ex-ministra, a pandemia de coronavírus mostrou à sociedade o que é uma crise capaz de paralisar o mundo. “Frente à crise climática, a covid-19 foi um spoiler. As incertezas e vulnerabilidades da crise ambiental neste século definirão como viveremos”, afirmou.
Ao fazer um balanço sobre a COP26, Teixeira afirmou que Glasgow trouxe três pontos principais. O primeiro deles foi o movimento das ruas, que impacta no universo corporativo, pois os executivos e CEOs estão cada vez mais atentos para mostrarem que os seus produtos não estão atrelados ao desmatamento da Amazônia ou do Cerrado.
O segundo ponto é que a questão do uso da terra ganhou evidência. “Antes estávamos centrados na energia, como deveria ser, e agora entrou a agenda de uso da terra, que veio para ficar. O agro terá que evoluir, ser de baixo carbono e sustentável”, disse.
Por fim, a ex-ministra destacou a questão das florestas. Na COP26, foi anunciado um acordo assinado por 120 países com o objetivo de zerar o desmatamento até 2030. “Há uma estratégia enorme de proteção relacionada a direitos humanos”, afirmou. Enquanto a destruição da floresta continua a aumentar no Brasil, o recado na COP26 foi claro: é preciso acabar com o desmatamento.