Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Como será a vida em 2500 se metas do Acordo de Paris não forem atingidas

Afetado pelo aquecimento global, em cinco séculos o planeta será terra arrasada. E o homem, um alien dentro da própria casa

Por Cilene Pereira Atualizado em 29 out 2021, 10h04 - Publicado em 29 out 2021, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Em filmes de ficção científica cujas histórias se passam na Terra em futuro distante, é comum ver o ser humano tentando sobreviver em meio a ambientes hostis e tendo como inimigos criaturas de outros mundos que tentam dominar o que sobrou. Mas, independentemente do enredo, o homem continua senhor do planeta. Os invasores são os outros. É mesmo difícil imaginar um tempo no qual a espécie humana seja ela própria a estranha no planeta. Porém, segundo a previsão de um grupo internacional de cientistas, caso a humanidade não alcance as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris, no ano 2500 seremos nós os aliens. Até lá, as condições climáticas terão se modificado tanto que não permitirão a vida humana tal qual ela é conhecida hoje. Para continuar habitando o globo, o homem precisará recorrer a várias formas de adaptação, exatamente como faz um visitante fora de casa, porém em uma dimensão absolutamente brutal.

    Publicidade
    IMENSIDÃO ESTÉRIL - A Amazônia seria uma das regiões onde as temperaturas poderão subir a mais de 38 graus durante metade do ano. Toda a riqueza desse ecossistema se perderia -
    IMENSIDÃO ESTÉRIL – A Amazônia seria uma das regiões onde as temperaturas poderão subir a mais de 38 graus durante metade do ano. Toda a riqueza desse ecossistema se perderia – (Christopher Lyon Et al/.)

    O panorama está descrito no artigo publicado na recente edição da Global Change Biology, periódico científico especializado na divulgação de estudos que versam sobre alterações ambientais e impactos nos sistemas biológicos existentes. Os autores são cientistas das universidades canadenses McGill e de Montreal, das inglesas Sheffield, Leeds e Oxford e da americana Universidade de Nova York. A pluralidade de acadêmicos envolvidos na pesquisa ajuda a entender sua importância do ponto de vista planetário e a urgência na produção de conhecimento sobre os fenômenos pelos quais o mundo poderá passar. Os resultados obtidos, aliás, chegam em um momento decisivo. No domingo 31, começa em Glasgow, na Escócia, a COP26, reunião realizada pela Organização das Nações Unidas tida por estudiosos como a última chance da humanidade para impedir a catástrofe climática.

    Publicidade

    Em geral, projeções do futuro do mundo, a se manter as transformações no clima, chegam ao ano 2100. E elas já são assustadoras. O time decidiu ir além exatamente para vislumbrar o que pode acontecer muito depois se a queima de combustíveis fósseis e a emissão de gases do efeito estufa forem mantidas ao ritmo atual. A premissa, no entanto, foi a de que a humanidade resistirá até lá. “Presumimos que os humanos existam e mostramos os ambientes nos quais eles podem ter de aprender a viver e as tecnologias de que precisarão”, disse a VEJA Christopher Lyon, pesquisador na universidade McGill, cientista visitante na Universidade de Leeds e autor principal do trabalho.

    ROBÔ HUMANO - Roupas e recursos tecnológicos capazes de proteger o ser humano do calor extremo podem vir a ser indispensáveis à sobrevivência. Na Índia, as poucas áreas cultiváveis teriam pouca presença humana em razão do aquecimento excessivo e da necessidade de uso de equipamentos especiais -
    ROBÔ HUMANO – Roupas e recursos tecnológicos capazes de proteger o ser humano do calor extremo podem vir a ser indispensáveis à sobrevivência. Na Índia, as poucas áreas cultiváveis teriam pouca presença humana em razão do aquecimento excessivo e da necessidade de uso de equipamentos especiais – (Christopher Lyon Et al/.)

    As projeções basearam-se em três cenários, considerando o grau de mitigação das mudanças climáticas a ser empreendido daqui por diante. O primeiro contou com a obediência aos objetivos colocados pelo Acordo de Paris. Assinado em 2015 por 195 nações, o trato determina a manutenção do aumento da temperatura entre 1,5 e 2 graus em relação aos níveis pré-industriais. Neste caso, as temperaturas seriam similares às atuais e nada de muito diferente ocorreria. Os outros dois tomaram por princípio o não atingimento das metas. Se isso acontecer, em cinco séculos a temperatura estará 5 graus mais alta. Em algumas regiões, poderá ser pior. “O aquecimento no Ártico está ocorrendo duas vezes mais rápido do que isso”, alerta Lyon.

    Publicidade

    Pelo modelo, a maior parte da África, da Amazônia, da Península Arábica, do Sudoeste da Ásia e o norte da Austrália passarão metade do ano registrando temperaturas acima de 38 graus, nível a partir do qual já ocorre o chamado stress por calor, condição fisiológica que, a depender da intensidade, é fatal para os seres humanos. Hoje, essas áreas experimentam mais de 38 graus em níveis que vão de zero a 25% do ano, caso da Península Arábica. Portanto, as consequências das alterações seriam impressionantes. Se esse cenário se confirmar, ecossistemas riquíssimos como o amazônico ficarão estéreis. Os espaços para a agricultura serão reduzidos e o cultivo se concentrará nas áreas próximas aos polos. Roupas e recursos tecnológicos capazes de proteger o ser humano serão imprescindíveis para viabilizar a vida. É desesperador, como mostram as ilustrações gráficas que acompanham as projeções. Ainda dá tempo de impedir tamanha tragédia. Mas é preciso correr.

    Publicado em VEJA de 3 de novembro de 2021, edição nº 2762

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.