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Como as cidades se transformam para neutralizar emissões de carbono

Mundo afora, estima-se que existam hoje cerca de 150 centros urbanos inteligentes e sustentáveis em diferentes estágios de planejamento e construção

Por Felipe Carneiro 22 out 2021, 06h00

Houve um tempo em que levar uma vida em harmonia com a natureza significava fugir das cidades em busca de um idílio no campo. Nada mais anacrônico. Hoje se sabe que a pegada de carbono das pessoas em centros urbanos pode ser muito menor do que nas áreas rurais, por motivos que vão do maior uso de transporte público e bicicletas a infraestrutura de gás, luz e esgoto mais eficiente. Desde que, claro, seu desenvolvimento seja ordenado e seguindo princípios de sustentabilidade. Em 2008, o emirado de Abu Dhabi anunciou com pompa um megaprojeto para criar a primeira cidade planejada verde do planeta: Masdar (“origem”, em árabe). A ideia é provar que os Emirados Árabes, cuja riquíssima economia é baseada na extração do sujíssimo petróleo, podem ensinar ao mundo como estabelecer comunidades com emissão neutra de carbono.

MODELO - Cidade de Masdar em Abu Dhabi: projeto de cidade eficiente em meio ao calor tórrido do deserto -
MODELO - Cidade de Masdar em Abu Dhabi: projeto de cidade eficiente em meio ao calor tórrido do deserto – (./Reprodução)

A cidade, que ocupa uma área de cerca de 6 quilômetros quadrados (o tamanho do bairro carioca de Copacabana), é um laboratório de soluções limpas. Toda ela foi construída em cima de uma plataforma, de modo que há acesso fácil e barato a toda infraestrutura de eletricidade, encanamento e telecomunicações. A elevação protege o lugar do calor tórrido e ainda dá espaço a um sistema de transportes subterrâneo — veículos elétricos individuais e autônomos. A energia vem principalmente de duas fazendas de energia solar e, em breve, de uma usina de processamento de lixo. Ambicioso, o projeto ainda está em estágio inicial e abriga apenas 1 300 moradores e 4 000 trabalhadores, contra os 50 000 previstos.

Na esteira de Masdar, a Arábia Saudita prometeu alocar 500 bilhões de dólares na construção de Neom, um centro urbano sustentável erguido no deserto. Na ilha de Singapura, um complexo batizado de Tengah está sendo erguido em uma área entre um lago e uma reserva ambiental para abrigar 42 000 famílias. O local terá corredores ecológicos que permitirão o deslocamento de animais na superfície, enquanto o transporte de pessoas, mercadorias e lixo será subterrâneo. Também há espaço para iniciativas privadas, como a Woven City, uma vila para 2 000 pessoas aos pés do Monte Fuji abastecida por energia de hidrogênio criada pela montadora japonesa Toyota para testar softwares e veículos sustentáveis. O gigante chinês Tencent e a coreana Samsung têm planos similares em seus países. Mundo afora, estima-se que existam hoje cerca de 150 cidades inteligentes e sustentáveis em diferentes estágios de planejamento e construção. Parece muito, mas um estudo da ONU mostra que os centros urbanos vão absorver mais 2,5 bilhões de pessoas até 2050, entre migrações e crescimento populacional natural.

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TRANSIÇÃO - Metrópole consolidada, Singapura tem investido em projetos ecológicos -
TRANSIÇÃO – Metrópole consolidada, Singapura tem investido em projetos ecológicos – (Zanettipix/Shutterstock)

O problema é que mais da metade do planeta, ou 4,5 bilhões de pessoas, já vive em cidades que estão aí. Quando é impossível planejar a infraestrutura do zero, o que fazer para tornar o ar mais respirável e a atmosfera mais fresca? Há vários caminhos. Bogotá, na Colômbia, atacou a cultura do carro com a destinação de 400 quilômetros de ruas para bicicletas. Somadas a uma reforma do sistema de transporte público, as iniciativas diminuíram em 392 horas por ano, em média, o tempo em que motoristas passavam queimando combustível no automóvel. Toronto, no Canadá, começou a exigir que telhados e terraços tenham jardins e hortas. E um grupo de cidades europeias e americanas estabeleceu datas na próxima década a partir das quais fica proibido alugar ou vender escritórios e salas comerciais com notas baixas em seus índices de eficiência energética. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, mais de 90% dos imóveis do centro de Londres e de Paris precisarão passar por reformas e 80% em Manhattan.

A China optou por uma via mais, por assim dizer, direta. Segunda no ranking mundial de poluidores do planeta, a superpotência apostou na construção de parques urbanos. Em um país de regime autocrata como o chinês, o desejo do governo é uma ordem: quando a desocupação de uma determinada área residencial é decidida, seus moradores são compensados com apartamentos em outras regiões — sem direito a protesto nem negociação —, e em questão de meses surge uma praça verde onde antes eram arranha-céus. Desde 2001, a área plantada nas cidades foi quintuplicada no país, e a emergência da Covid-19 fez esse ritmo aumentar. Apenas em 2020, a metrópole de Xangai abriu 55 parques — sempre delineados de modo que a vegetação impeça aglomerações que possam descambar em protestos. Em março, pela primeira vez o tema da qualidade do ar foi endereçado no plano quinquenal, onde consta o projeto de mais 600 áreas verdes na cidade até 2026. Se o homem se afastou da natureza, agora começa a trazê-la para perto de si.

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