A Caatinga, que abrange todo o nordeste e parte de Minas Gerais, é o único bioma que ocorre exclusivamente no Brasil. Apesar de sua importância climática e riqueza endêmica, parte do território corre o risco de virar um deserto. Essa foi uma das conclusões de uma análise feita pelo MapBiomas.
Obtidos através de imagens de satélite da região entre os anos de 1985 e 2020, os dados mostram que 112 municípios da Caatinga (9%) classificados como Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD), com status “Grave” e “Muito Grave”, perderam 0,3 milhões de hectares de vegetação nativa — 3% de toda a vegetação nativa perdida no período.
Além disso, a superfície de água do bioma teve uma retração de 8,27%. Ou seja, a Caatinga está mais seca. O levantamento ainda mostra um decréscimo de 40% nos cursos de água natural que fluem pela região.
A Caatinga ainda teve uma perda de vegetação primária de 15 milhões de hectares, que representam 26,36%, na comparação entre 1985 e 2020. Apesar de registrar um aumento de 10,7 milhões de hectares de vegetação secundária, o saldo geral continua negativo.
Além do desmatamento e da perda de água, o bioma sofre ainda com queimadas, com destaque para a região da fronteira agrícola entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, sendo que 87,28% do total de área queimada ocorreu em territórios baianos, piauienses e cearenses.
Dois municípios da Paraíba chamam atenção para o problema de modo geral: Caturité, que tem perda da vegetação natural de 40%, além de 51,8% de diminuição da superfície de água e uma média de 26 hectares de área queimada por ano, entre 1985 e 2020; e São José da Lagoa Tapada, que teve perda da vegetação natural de 16%, com redução de 28% da superfície de água, e uma média de 411 hectares de área queimada por ano.
“Ambos os municípios, situados em áreas classificadas como de grave suscetibilidade aos processos de desertificação exemplificam o avanço desse processo na região”, explica Washington Rocha, coordenador da equipe de Caatinga do Mapbiomas. “Nessa fase inicial, a desertificação é um processo quase invisível, somente detectado por sensores como aqueles usados pelo Mabiomas [através de satélites] e seus efeitos deletérios somente se revelam nos estágios mais avançados quando não é mais possível realizar qualquer medida de controle.”
A Caatinga é um bioma que merece atenção daqueles que se preocupam com o clima e a biodiversidade. Mais de um quinto das plantas que vivem na região só ocorrem lá. Além disso, um estudo publicado na Scientific Reports, e conduzido pela equipe do pesquisador Bergson Bezerra, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, mostrou que a vegetação preservada do bioma é mais eficiente em absorver CO2 da atmosfera do que florestas úmidas como a Amazônia. Sua existência contribui para a amenização da crise climática do planeta.