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Alerta verde: os imensos desafios da COP27

A Conferência sobre Mudanças Climáticas, no Egito, proporá metas mais agressivas de redução de emissões de gases e terá o Brasil como um dos protagonistas

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h25 - Publicado em 4 nov 2022, 06h00

O mundo respira com ansiedade em torno dos resultados da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP27, que será realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito, de 6 a 18 de novembro. O encontro, simpaticamente batizado de “COP Africana”, marcará os trinta anos da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, assinada na Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, e os sete anos do Acordo de Paris. É, a um só tempo, um marco histórico, atrelado a efemérides, e um imenso desafio para a humanidade.

A COP27 proporá metas mais agressivas de redução de gases de efeito estufa, já que no ano passado, na conferência de Glasgow, na Escócia, as estabelecidas anteriormente foram consideradas insuficientes. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), maior autoridade científica global nesse campo, mostra que o planeta corre perigo e pede que as ações de mitigação e adaptação sejam implantadas ainda nesta década, sob pena de o aquecimento causar danos irreversíveis ​​ao clima. As emissões estão aumentando, com níveis atmosféricos de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso atingindo novos recordes em 2021. O resultado pode ser o aumento de temperatura global acima de 1,5 grau, rompendo, portanto, a meta estabelecida pelas autoridades ambientais.

BERLIM - Protesto contra o uso de combustíveis fósseis: preocupação global -
BERLIM – Protesto contra o uso de combustíveis fósseis: preocupação global – (Ean Gallup/Getty Images)

Existe alguma desconfiança do real sucesso da cúpula, premida por interesses do planeta em crise. A sueca Greta Thunberg, ícone jovem do ambientalismo, por exemplo, já avisou que não vai. Ela acusou o evento de levantar a bandeira ambientalista em vão, mero exercício de limpeza de imagem — o que, em inglês, ganhou o nome de greenwashing.

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Convém, contudo, prestar atenção no balé diplomático das próximas semanas — a dança entre as principais potências emissoras de poluentes, como Estados Unidos, e os grandes afetados, os países mais pobres, na lida com investimentos e distribuição de fundos de apoio. Nesse ambiente nervoso, calhou de o Brasil ter recuperado parte do protagonismo político que havia perdido durante o governo de Jair Bolsonaro, dada a coincidência da proximidade de datas com a eleição presidencial. Ao longo da campanha, amparado na figura de Marina Silva, eleita deputada federal, Lula fez questão de ressaltar os cuidados com a Amazônia e a busca por índice zero de desmatamento na região entre as prioridades de seu governo (leia mais na pág. 24). Nesse aspecto, o antagonismo a Bolsonaro foi como uma estrada livre de obstáculos. Não por acaso, no início da semana, o presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, convidou o petista e Marina a participarem da COP27.

O Brasil será representado em três frentes no evento: com um estande oficial, um da sociedade civil e outro, inédito, patrocinado pelos governos de nove estados amazônicos. Lula e Marina, aliás, foram convidados a integrar a comitiva desse grupo. Existe a convicção de que o tema das florestas e da diminuição das queimadas ganhe os holofotes, como há muito não ocorria. “Todos os países sabem que não há meio de se atingir as metas do Acordo de Paris sem a Amazônia”, disse a VEJA Alexandre Prado, da WWF Brasil, que estará no Egito. “Daí a importância de voltarmos ao jogo.” Noruega e Alemanha já anunciaram a retomada do financiamento do Fundo da Amazônia, em valores que podem atingir até 1 bilhão de dólares.

AUSÊNCIA - A jovem ativista sueca Greta Thunberg avisou que não vai: para ela, conferência não resolve nada -
AUSÊNCIA – A jovem ativista sueca Greta Thunberg avisou que não vai: para ela, conferência não resolve nada – (Erik Simander/TT News Agency/AFP)

O trabalho a ser feito, aliás, é colossal. Em uma atualização dos dados sobre uso e cobertura de terras de 1985 a 2021, a rede de controle ambiental MapBiomas mostrou que a região amazônica perdeu 12% da sua área de floresta ao longo desse período. Resultado: aumento dos extremos do clima, da temperatura e menor precipitação de chuvas. Em razão disso, o fluxo líquido de carbono do bioma está diminuindo. Há mais de três décadas, absor­via 1,5 tonelada do gás. Agora, esse fluxo é praticamente zero.

Apesar de todas as adversidades, o Brasil apresenta uma vantagem estratégica, pois pode cortar 44% das suas emissões de forma rápida e barata, evitando queimadas e desmatamentos. “Temos todas as ferramentas necessárias para isso”, diz Ricardo Galvão, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ressalve-se que nenhum outro país tem potencial tão grande em energia eólica e solar. “O Brasil tem de explorar essa vantagem estratégica”, diz Paulo Arta­xo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP). Pode-se dizer que, no Egito, haverá uma Copa do Mundo antes daquela do Catar — com a sonhada vitória de todas as nações.

Publicado em VEJA de 9 de novembro de 2022, edição nº 2814

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