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As acusações contra o líder do MST que coordena a reforma agrária em Goiás

Agressões, ameaças e até sequestro: o histórico do petista José Valdir Misnerovicz, conhecido como 'Valdir do MST'

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h09 - Publicado em 21 jul 2023, 06h00

O Ministério do Desenvolvimento Agrário tem um coordenador em cada um dos estados. É uma espécie de embaixador, alguém encarregado de supervisionar alguns dos principais programas da Pasta, da assistência técnica ao financiamento de famílias assentadas dos projetos oficiais de reforma agrária — um cargo estratégico que exige de seu ocupante determinadas habilidades. Em Goiás, o governo escolheu para o posto o petista José Valdir Misnerovicz. A indicação foi mal recebida pelos produtores rurais. Conhecido como “Valdir do MST”, Misnerovicz liderou violentas invasões de fazendas na região. Ele, porém, garante que sua prioridade agora é outra. “Nossa missão será estimular acordo para um grande processo de transição agroecológico”, disse a VEJA. Vindo de quem vem, é um compromisso alvissareiro.

Em 2016, Misnerovicz ficou preso durante cinco meses. O petista foi acusado de agredir e torturar funcionários de uma fazenda na cidade de Santa Helena de Goiás. De acordo com depoimentos prestados na época, ele liderou um grupo do MST que invadiu a propriedade, ordenou que os donos abandonassem as terras, confiscou máquinas e ergueu uma barricada de pneus ameaçando atear fogo na sede. Durante o ataque, um dos funcionários foi derrubado da cabine de um trator e ameaçado com um facão. “Nós vamos picar o Toninho”, repetiam os invasores, enquanto empurravam o rapaz de um lado para o outro, esfregando a lâmina da arma em seu rosto. Toninho era o dono da fazenda. Um segundo funcionário ainda relatou que os sem-terra dispararam cinco tiros contra ele, antes de obrigá-lo a sair correndo do local.

Quando esse episódio aconteceu, os métodos de Misnerovicz já eram conhecidos — e temidos — na região havia algum tempo. Em 2001, o líder foi acusado pelos próprios sem-terra de agir com extrema violência. Coordenador financeiro do MST, Joviniano José Rodrigues procurou a Polícia Federal e contou que se recusou a cumprir uma ordem de Misnerovicz para invadir uma fazenda e confiscar catorze novilhas. Como conhecia um dos funcionários, disse que não participaria do ataque. A retaliação não tardou. A casa dele foi derrubada a machadadas, a esposa agredida e a filha, de 1 ano, sequestrada. “Mais de 200 pessoas cercaram e destruíram meu barraco, quebraram tudo que tinha lá dentro”, conta Joviniano, que foi expulso do assentamento de Palmeiras de Goiás, o mesmo em que Valdir Misnerovicz morava junto com mais 400 famílias.

RETALIAÇÃO - Joviniano (à dir.): casa destruída e expulsão após se recusar a invadir pasto
RETALIAÇÃO - Joviniano (à dir.): casa destruída e expulsão após se recusar a invadir pasto (MST-GO/Divulgação)

A criança foi devolvida com parte de um dedo decepada. Na época, Joviniano denunciou o caso também ao Incra. Ele contou que os companheiros sem-­terra confiscaram 200 galinhas que ele criava e oitenta sacas de milho que havia colhido. O ataque, segundo ele, foi ordenado por Valdir. “Vi outras coisas terríveis lá dentro. Um cara foi cortado com uma motosserra, botaram fogo no corpo e jogaram no Rio dos Bois”, disse a VEJA. Depois das denúncias, Joviniano foi reassentado em outra cidade e diz que até hoje vive com medo. “Fomos perseguidos por muito tempo por causa desse caso. Nos sugeriram até mesmo trocar as identidades”, lembra.

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Depois da invasão da fazenda em Santa Helena, em 2016, Valdir Misnerovicz foi indiciado pelos crimes de ameaça, usurpação, constrangimento ilegal, sequestro, cárcere privado e organização criminosa. Em 2018, foi condenado a seis anos de prisão por organização e esbulho, recorreu, conseguiu a anulação do primeiro crime e aguarda uma decisão sobre o segundo. A VEJA, o líder sem-terra rebateu as acusações e afirmou que foi usado como instrumento contra o MST. “Nessa época, já estava sendo construída uma estratégia da direita para criar um ambiente para poder criminalizar a luta social. Fui uma das vítimas”, ressalta. Sobre as acusações do ex-coordenador financeiro do grupo, diz que recorda “vagamente”. “Lembro desse episódio, porque fui chamado para evitar que o pior acontecesse. O pessoal estava indignado, porque tinha um problema de desvio de dinheiro e isso revoltou as famílias”, diz. É fato que o passado às vezes condena, às vezes ensina, às vezes condena e ensina e, em muitos casos, nem condena nem ensina. Misnerovicz é o quinto dirigente do MST nomeado para um posto importante no governo Lula.

O MST NO PODER
Apesar das recentes invasões de terra, o movimento continua conquistando espaço no governo Lula

Kelli Mafort
Kelli Mafort (./Reprodução)
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Kelli Mafort
Líder de invasões de fazendas em São Paulo, a coordenadora nacional do MST comanda a Secretaria de Diálogos Sociais da Presidência

Milton Fornazieri
Milton Fornazieri (@milton_fornazieri/Instagram)

Milton Fornazieri
Coordenador do movimento, ocupa o cargo de secretário de Abastecimento do Ministério do Desenvolvimento Agrário

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Alexandre Conceição
Alexandre Conceição (./Reprodução)

Alexandre Conceição
O coordenador nacional do MST foi nomeado no mês passado como assessor especial do Ministério do Desenvolvimento Agrário

Marina Viana
Marina Viana (Luciana Nassar/ALEMS/.)
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Marina Viana
Coordenadora do MST em Mato Grosso do Sul, assumiu também a coordenação do Ministério do Desenvolvimento Agrário no estado

Publicado em VEJA de 26 de julho de 2023, edição nº 2851

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