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A urgência do diálogo

As organizações multilaterais que atuam hoje foram fundadas há setenta anos e precisam ser reformadas para melhorar a vida

Por Klaus Schwab*
Atualizado em 4 jun 2024, 17h06 - Publicado em 21 set 2018, 07h00
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  • Desde a II Guerra, e sobretudo nos últimos trinta anos, conectamos a humanidade entre cidades, estados, continentes e culturas digitalmente, financeiramente e por meio do comércio e de cadeias de valor integradas. Isso resultou em um mundo de nível mais elevado e mais amplo de desenvolvimento humano do que em qualquer outro momento da história, com redução da mortalidade infantil e materna, maior expectativa de vida, menores níveis de pobreza e maiores oportunidades. As Metas de Desenvolvimento Sustentável, acordadas na ONU em 2015, até chegaram a contemplar a erradicação da pobreza.

    Fizemos tudo isso por meio da globalização, da liberalização do comércio e dos fluxos de capital e do compartilhamento, em grande escala, de informação, conhecimento e opinião. Levamos o modelo ao seu limite e agora estamos experimentando uma reação negativa. Temos agora indivíduos privilegiados em detrimento da comunidade; e priorizamos os mercados sobre o contrato social. Muitas pessoas estão insatisfeitas.

    Existe um grande contraste entre a escala da economia global e as diferenças profundas em nossa sociedade mundial. O senso de comunidade perdeu força e o número de pessoas que reconhecem a necessidade de buscar programas comuns para avançarmos em nossos interesses coletivos é muito menor. O atual sistema de governança global está abalado: as organizações multilaterais atuais foram criadas setenta anos atrás para enfrentar os desafios de um planeta muito diferente. Apesar de essas organizações ainda serem fundamentais, sua reestruturação é essencial. Como consequência da rápida evolução e da complexidade do mundo moderno, estamos preocupados com a gestão de crises em vez de atentarmos em como podemos influenciar o futuro de um modo mais construtivo.

    Tal quadro intensificou as tensões nacionalistas e tem causado ondas de migração forçada. Isso contribui para os desafios enfrentados pelos governos representativos, que formaram a ordem internacional no século XX. A cooperação global e uma ordem internacional baseada em regras estão sob pressão em economias avançadas e no mundo em desenvolvimento. Da mesma forma, na medida em que a população da Terra cresceu de 3 bilhões, em 1960, para 7,6 bilhões, atualmente, com pessoas urbanizando-se, viajando, fabricando, consumindo e desperdiçando mais do que nunca, estamos desestabilizando a biosfera e testando os limites do planeta, causando fortes alterações no clima e nos oceanos.

    A Quarta Revolução Industrial — a transformação mais profunda do cenário tecnológico em mais de dois séculos — está alterando estruturas sociais, modelos de negócios e a condução de guerras, desafiando Estados e governos em todo o globo. Na próxima década, essa revolução transformará o emprego e a educação e confrontará nossas sociedades com questões sobre a natureza do conhecimento e o significado do trabalho e da identidade humana.

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    Precisamos criar um novo sistema e uma estrutura de cooperação nacional, regional e global que preserve os sucessos alcançados e resolva os desafios que enfrentaremos no futuro. Temos de fazer isso com urgência, antes que uma perversa combinação de insatisfação social, populismo e protecionismo acabe em tragédia.

    Esse novo cenário de cooperação global precisa refletir que a Terra passou de um sistema unipolar para multipolar — e também de um mundo uniconceitual para multiconceitual. Isso significa que a nova estrutura deve ser capaz de integrar diferentes sistemas políticos, econômicos e sociais, ao mesmo tempo em que reconhece os valores básicos essenciais para uma convivência harmoniosa. Mais: ela deve integrar as preocupações dos segmentos da população que estão se sentindo deixados para trás.

    “Nossa missão não será fácil. Novas ordens regionais ou globais geralmente só são construídas após grandes guerras”

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    Precisamos reduzir a desigualdade aguda, criar oportunidades de crescimento social e construir redes de segurança social para as pessoas que não podem ser reeducadas para as profissões que devem surgir dos novos modelos econômicos. Devemos transformar a educação e o treinamento para viabilizar a mobilidade horizontal e promover o ensino durante a vida toda, construindo capital social e coesão para poder compartilhar responsabilidades. Globalmente, é importante buscar mais cooperação para combater o terrorismo, o extremismo violento e o crime organizado, e fomentar a segurança cibernética. Devemos restabelecer a justiça e a vitalidade dos regimes de comércio internacional para evitar o deslocamento das cadeias de valor globais, o que reduz o crescimento e aumenta as tensões geopolíticas.

    Nossa missão não será fácil. Novas ordens regionais ou globais geralmente só são construídas após grandes guerras. As reuniões em Bretton Woods e São Francisco são um exemplo. Mas precisamos de um sentido renovado de interesses e de valores comuns para incentivar as pessoas e os Estados a aceitar regras em suas interações. Precisamos de acordos para enfrentar os desafios dos bens globais. Em um planeta multipolar, esses acordos não podem ser impostos por meio de processos políticos tradicionais. Para garantirem eficácia e legitimidade, eles devem ser bem concebidos e cocriados. Precisamos de diálogos inclusivos entre todas as partes interessadas — governo, empresas, sociedade civil, academia, juventude e mídia — para propor uma estrutura global desejável que reflita as perspectivas de cada sociedade nacional e atenda à rápida transformação do mundo.

    O objetivo do Fórum Econômico Mundial, e especialmente da próxima Reunião Anual em Davos, é iniciar um entendimento abrangente e o desenvolvimento de uma nova estrutura de cooperação global. O Fórum, a maior plataforma mundial para múltiplas partes interessadas e reconhecido como Organização Internacional para a Cooperação Público-Privada, tem a capacidade e a responsabilidade de coordenar esse diálogo. O Fórum também é um catalisador de novas ideias através de suas redes científicas e acadêmicas. Isso requer envolvimento e acompanhamento para alinhar posições e produzir resultados acionáveis. O Fórum está preparado para fornecer o “sistema operacional” para esse esforço global durante os próximos anos.

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    Após a II Guerra, os líderes de todos os setores da sociedade se reuniram para estabelecer as estruturas globais necessárias para a convivência, dentro de um ambiente de paz, segurança e prosperidade contínuas. Eles criaram as organizações e processos institucionais que eram essenciais para alcançar essa meta. No entanto, o planeta mudou muito desde então. Precisamos de uma nova abordagem, na qual — todos juntos — criaremos nosso próprio futuro global por meio de um compromisso para melhorar o mundo.

    * Klaus Schwab é fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial

    Leia mais: O GLOBALISMO

    Publicado em VEJA de 26 de setembro de 2018, edição nº 2601

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