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#22 OS NERDS: Eles venceram

O comportamento dos jovens que fizeram nascer a revolução digital, alvo de bullying há pouco tempo, é o novo padrão

Por Fábio Altman Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 17h06 - Publicado em 21 set 2018, 07h00
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  • Bill Gates
    IRÔNICO - Bill Gates, em foto de 1977, aos 22 anos, detido por dirigir sem documentação (Albuquerque University/Reprodução)

    Em A Vingança dos Nerds, comédia de 1984, um grupo de jovens feiosos e um tanto estranhos, vítimas da agressividade e do bullying de colegas fortões e quase idiotas, decide ir para a revanche com um festival de estripulias bem-sucedidas. Ao som de We Are the Champions, clássico do Queen, eles celebram a vitória. O filme foi premonitório. Os nerds não deixaram pedra sobre pedra. Fizeram suas apostas e quebraram a banca. Na lista das pessoas mais ricas do mundo, há três deles nas cinco primeiras posições, todos pais e filhos da revolução digital: Jeff Bezos, da Amazon (112 bilhões de dólares), na primeiríssima colocação; Bill Gates, da Microsoft, no segundo lugar (90 bilhões de dólares); e Mark Zuckerberg, do Fa­cebook, no quinto posto (71 bilhões de dólares). Para efeito de comparação, em 1982, tempo em que os nerds ainda eram ridicularizados, a figura mais rica do mundo era o dono de um estaleiro naval (Daniel K. Ludwig) que fizera fortuna vendendo embarcações para a indústria de petróleo.

    Um olhar para os dois momentos, o de três dé­cadas atrás e o de agora, comprova como a economia mudou, e hoje isso soa óbvio. Menos óbvia é a constatação de que a cultura nerd venceu, e por ter vencido virou padrão. “Seja legal com os nerds, provavelmente você vai acabar trabalhando para um deles”, vaticinou Gates, não muito tempo depois da foto que ilustra esta página, de 1977, quando ele foi detido por dirigir sem documentos. A Microsoft acabara de nascer e, por trás daqueles óculos ­genuinamente nerds, brotavam um novo mundo e novas concepções do que é ser bacana. A ­aparente fragilidade de Gates era só aparência mesmo — e o leve sorriso irônico anunciava um salto destinado a dar um ctrl+alt+del nada metafórico em quem ainda achava possível andar ao modo da velha indústria.

    A atual hegemonia nerd é a prova, também, de que todo estereótipo é tolo. Foram sempre rotuladas como nerds as pessoas muito inteligentes, em geral tímidas, fisicamente muito magras ou muito gordas, que cismam com um tema e dele não saem — pode ser computadores, personagens de Star Wars, histórias em quadrinhos, qualquer assunto que venha a virar mania. Nenhum desses nerds que agora mandam e desmandam, os ricaços, cabe no batido preconceito. Bezos, inclusive, deu para fazer ginástica e está fortão, no avesso da imagem magrela que se esperaria de alguém com sua formação em tecnologia. Gates envelheceu com elegância, é campeão mundial de filantropia — o.k., Zuckerberg é a exceção que confirma a nova regra, eterno adolescente sem sal. Somos todos nerds — ou queremos ser, porque a força está com eles, ao menos a força econômica, e o que andava à margem, em quartos fechados e garagens, hoje virou padrão. Gates ficou bem na foto.

    Publicado em VEJA de 26 de setembro de 2018, edição nº 2601 

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