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Subir juros é desafio do novo governo

Sai nesta quarta-feira a 1ª decisão do Copom do governo Dilma. A tarefa está nas mãos de Alexandre Tombini, o novo presidente do Banco Central

Por Benedito Sverberi
19 jan 2011, 07h14

É a primeira vez que Alexandre Tombini dirige as reuniões do Copom, cuja composição ainda é a mesma da era Meirelles, seu antecessor

O início da noite desta quarta-feira será, ao que tudo indica, um momento típico dos cem primeiros dias de um novo governo, pois deverá representar um primeiro passo de um período de ajustes na economia. A medida aguardada é o anúncio, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, de um aumento na taxa básica de juros (Selic), que se encontra nos atuais 10,75% ao ano desde julho de 2010. A resolução, na opinião unânime dos economistas, marcará o início de um ciclo de alta que poderá perdurar alguns meses. Sua adoção tornou-se urgente por conta da ameaça de retorno da inflação e o papel de coordenador desta missão caberá à Alexandre Tombini, que está à frente do BC há dezesseis dias.

O ritmo de elevação dos preços, de fato, assusta. O dado oficial utilizado pelo BC como balizador de sua política de combate à inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, fechou 2010 com elevação de 5,91%. Foi a maior alta em seis anos. O resultado aproximou-se do topo da faixa de tolerância admitida pela autoridade monetária. É que o centro da meta de inflação para 2010 era de 4,5%, mas o BC considera como cumprida a tarefa de controlá-la se esta se situar dois pontos porcentuais acima ou abaixo daquele valor. As sinalizações para 2011 não são nada animadoras. Parte do problema no país deve-se à elevação de preços no exterior; a contaminação dos chamados preços administrados – aqueles que, por força de contrato, automaticamente sobem com base em índices passados -; e à própria força do consumo no país.

Um Copom da era Meirelles – Como presidente do Banco Central, é a primeira vez que Tombini dirige as reuniões do Copom – a primeira ocorreu na terça-feira. Nos últimos quatro anos, ele já se sentava à mesa de discussão, pois, como Diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro, integrava o comitê. Além do presidente, o Copom é composto por oito diretores: o de Normas; de Política Monetária; Política Econômica; Estudos Especiais; Assuntos Internacionais; Fiscalização; Liquidações e Desestatização; e Administração. Com sua indicação para o cargo máximo do órgão, Tombini viu sua antiga vaga ser acumulada por outro diretor, Luiz Awazu Pereira da Silva (de Assuntos Internacionais). Como não ocorreu nenhuma outra mudança, hoje ele discute os rumos dos juros no país com o mesmo Copom da “era Henrique Meirelles”.

Meirelles, que dirigiu o BC por oito anos, era um legítimo representante do mercado financeiro. Até 2003, quando foi convidado pelo ex-presidente Lula para o cargo, ele presidia a filial brasileira do BankBoston. Já a escolha de Alexandre Tombini marca a volta de um funcionário de carreira – ele foi incorporado aos quadros em 1998, e só se ausentou entre 2001 e 2005 – ao comando da instituição. O restante da equipe tem perfil semelhante: vários anos de BC e excelência técnica inegável. Mas isso pode mudar um pouco em breve. Dois membros já manifestaram o interesse em se aposentar e fontes dão como certa a escolha de, ao menos, outro nome do mercado para o órgão: a economista-chefe do RBS Global Banking & Markets, Zeina Latif.

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Sob o escrutínio do mercado – E será sob a marcação cerrada do mercado financeiro que o Copom “técnico” decidirá a taxa básica de juros nesta quarta-feira. A maioria dos economistas aposta que a decisão será de uma alta de 0,5 ponto porcentual, o que levará a Selic para 11,25% ao ano. A decisão, se confirmada, representaria compromisso com o combate da inflação, desde que conjugada com a outra promessa do governo Dilma de coibir a gastança do setor público.

Uma elevação mais modesta, de 0,25 ponto porcentual, por exemplo, não seria vista com a mesma complacência. Segundo analistas, uma decisão nesta direção mostraria tolerância excessiva com a escalada dos preços. Felizmente, não é a principal aposta porque o próprio BC, ainda na gestão Meirelles, subiu o tom no discurso pró-estabilidade. Tudo bem que deixou para o último momento. No Relatório de Inflação divulgado em dezembro de 2010, a autoridade monetária alertou para o risco de o IPCA atingir 5% em 2011 num cenário de juros e câmbio constante – portanto, acima do centro da meta que continua a ser de 4,5%.

Se o ajuste na Selic superar 0,5 ponto porcentual, atingindo 0,75 p.p. ou 1 p.p., o recado seria igualmente desastroso. Por um lado, acenaria forte empenho em controlar a alta dos preços; mas, por outro, abriria brecha para uma séria desconfiança. O mercado interpretaria que o BC escondeu a gravidade da situação nos últimos meses do governo Lula. Naquele período, as manifestações da instituição davam conta de uma inflação absolutamente sob controle, ainda que os preços estivessem subindo a olhos vistos. Logo, um dos pilares da política monetária, que é a crença na transparência do BC, ficaria abalada.

Sinais positivos – A boa notícia é que os primeiros dias de Tombini à frente da instituição reuniram indícios favoráveis. Logo em seu discurso de posse, no dia 3 de janeiro, defendeu que o centro da meta de inflação deveria ser corrigido “para baixo”. Em outras palavras, pregou um combate ainda mais feroz ao que já vem sendo feito. Na sua primeira entrevista coletiva, declarou que sua principal missão é assegurar o poder de compra da moeda brasileira. Arrematou dizendo que o “suposto dilema” entre inflação e crescimento – que no governo Lula tanto opôs desenvolvimentistas e fiscalistas – estaria superado no Brasil. “Essa troca (inflação por crescimento) não existe. A inflação baixa e controlada é condição para o crescimento”, afirmou.

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Conciliação – Além de sua elogiada experiência e formação acadêmica, o perfil conciliador de Alexandre Tombini foi, aliás, pré-requisito fundamental para sua escolha ao posto máximo do BC. A presidente Dilma Rousseff sempre quis alguém “de dentro”. Promover um diretor do próprio Banco Central – reafirmando a importância da instituição – seria essencial, na avaliação dela, num momento de sensibilidade do mercado e instabilidade da economia mundial. Sua escolha também transmitiria aos investidores a certeza de que não haveria “ruptura” na política econômica – uma preocupação da presidente desde a campanha.

Mas um dos pontos mais importantes para Dilma, talvez, o principal, era encontrar alguém para compor uma equipe afinada. Ela almejava botar uma pedra no passado de brigas palacianas – do chamada fogo amigo entre o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mantido no cargo. Eis que Tombini tem bom relacionamento com Mantega e, principalmente, com Luciano Coutinho, presidente do BNDES, outro membro da dita ‘ala desenvolvimentista’.

No início deste mês, quando questionado por jornalistas se haveria diálogo do BC com outros integrantes da equipe econômica (do ministério da Fazenda e do Planejamento), Tombini afirmou: “Existe e é intenso”, mas não sem pontuar que, às vezes, nesse diálogo, surgem posições contraditórias. “Mas isso faz parte do processo”, concluiu.

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