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Mortos que viram compostagem

Iniciativa de arquiteta usa o método para dizer adeus aos entes queridos

Por Marina Morelli
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h04 - Publicado em 7 jun 2015, 20h30

Na expectativa de criar mais espaços verdes, driblar a falta de terras para a construção de novos cemitérios (problema que afeta as grandes metrópoles) e dar um destino sustentável aos mortos de uma cidade, a arquiteta americana de 37 anos Katrina Spade criou o Urban Death. O projeto visa substituir as opções do enterro e da cremação – essa libera 272 milhões de quilos de dióxido de carbono (o CO2) na atmosfera todos os anos, contribuindo para as mudanças climáticas que afetam o planeta. Sim, isso mesmo, ela quer transformar em fertilizante os entes queridos. Parece bizarro. Mas, em entrevista ao site de VEJA, Katrina defende que isso é bom.

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O projeto é claramente mórbido. Quando a senhora percebeu que mesmo assim podia dar certo? Em julho do ano passado, quando recebi uma bolsa da organização Echoing Green, do setor de sustentabilidade, para viabilizar a iniciativa. Além disso, nos abrimos para doações e temos recebido apoio expressivo. Ou seja, a sociedade tem mostrado que meu projeto é promissor.

Como a senhora faz a compostagem dos mortos? É semelhante à compostagem de alimentos, em que a proporção adequada de nutrientes e materiais cria o ambiente propício para a proliferação de micróbios e bactérias benéficas para decompor a matéria orgânica rapidamente e, depois, servir para criar uma nova, como plantas. E tudo sem exalar mau cheiro. A compostagem é uma maneira de dar nova vida para materiais orgânicos mortos. O processo nos lembra que, apesar de toda a tecnologia inventada, continuamos a integrar ciclos essenciais, de vida e morte, da natureza. O que quero é transpor essa realidade para o ambiente urbano.

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Por que alguém toparia dar o próprio corpo, morto, para isso? Olha, a menos que sejamos cremados ou mumificados, nossos corpos irão se decompor depois que morremos. E ponto. O que proponho é facilitar essa decomposição, de forma que o organismo humano possa ser integrado à terra, e à natureza. Acho mais inteligente.

É também uma boa forma de lucrar? Não. O Urban Death é uma organização sem fins lucrativos, e por isso aceitamos doações. Cobramos em torno de 2 500 dólares para realizar a compostagem nos Estados Unidos, um custo menor que o de um funeral. Só que não é lucro.

Por que a senhora considera isso revolucionário? Todos são impactados pela morte. Mas moradores de áreas urbanas e os mais pobres são especialmente afetados. Pois há pouco espaço para enterros e, como efeito, é enorme o preço cobrado pelos métodos convencionais. Logo, seríamos a alternativa viável. Além disso, o método gera menor poluição, incentiva a agricultura e desenvolve espaços verdes em cidades. Ou seja, é econômico e sustentável.

No Brasil, em reflexo de uma sociedade altamente religiosa, o cemitério tem papel central na cultura. Como vencer essa questão? Cemitérios são lugares cheio de história e maravilhosos, é verdade. Um local para lembrar de entes queridos. Muitos também funcionam como viveiros, e podem ser ótimos para admirar, mesmo em um passeio. Só que uma hora temos de racionalizar e encarar os fatos. Em cidades, como noto nos Estados Unidos, estamos sem espaço. Seja para morar, montar empresas ou construir cemitérios. Temos de achar uma solução inteligente. A compostagem pode ser o caminho.

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