Estoque ilegal de gás causou explosão no centro do Rio
Restaurante Filé Carioca usava clandestinamente botijões e cilindros. Saldo é de três mortos, 17 feridos e dezenas de estabelecimentos comerciais fechados
Por trás da tragédia do restaurante Filé Carioca, onde uma explosão deixou três mortos e 17 feridos na manhã desta quinta-feira, no centro do Rio, está uma ilegalidade: o estabelecimento, de acordo com o Corpo de Bombeiros do Rio, não tinha autorização para utilizar gás encanado, nem poderia estocar botijões e cilindros de gás. O resultado da infração, além das vítimas, está nas imagens de guerra que a TV mostrou momentos após a catástrofe. Destroços foram lançados sobre grande parte da Praça Tiradentes, recém-reformada pela prefeitura; o subsolo, visto pelos fundos do Edifício Riqueza, assemelha-se a um cratera escavada por um atentado terrorista. Uma câmera da CET-Rio registrou o momento da exlosão.
Horas após a explosão, foram retirados três botijões de 13 quilos de capacidade, dos escombros. Um funcionário contou ao Corpo de Bombeiros que o Filé Carioca estocava seis cilindros – ainda procurados pelos bombeiros. O restaurante passou por uma reforma recente.
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Pouco depois das 14h30, foi descartada a possibilidade de mais mortos nos escombros. A maior preocupação, até então, era com o risco de desabamento do prédio. O risco de um desabamento nas próximas horas está descartado, segundo informou o subsecretário de Defesa Civil do estado, Márcio Mota. “Estamos retirando entulhos, para avaliar o comprometimento dos pilares. Quando houve a explosão, houve necessidade de escoramento para as equipes trabalharem”, disse.
À tarde, ocupantes de salas comerciais e lojas no edifício Riqueza receberam autorização para retirar pertences. Mas não é permitido mais que passar alguns minutos no prédio.
Horário – Pela violência da explosão, o número de vítimas foi ainda pequeno. A explosão ocorreu por volta das 7h30, quando a rua está vazia, não há clientes no restaurante, o centro do Rio começa a receber os trabalhadores. No horário de funcionamento, o salão do Filé Carioca teria clientes e mais funcionários. A calçada estaria repleta. No início da noite, há o movimento em direção à Lapa, e forma-se uma fileira de ônibus naquela altura da rua.
O comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões, afirmou que o Filé Carioca, e todo o edifício Riqueza, não tinham autorização para usar gás encanado – e, portanto, não tinham ligação à rede da CEG. O uso de botijões, naquele tipo de construção, também não estava autorizado. “No conjunto de plantas entregue pelo prédio não aparecia o restaurante”, explicou.
Simões mostrou um laudo no qual se lê o seguinte resultado: “Edificação não foi aprovada para utilização de gás combustível, seja forma de clindro GLP ou canalizado de rua, não sendo admitido abastecimento de qualquer gás combustível, sem a prévia autorização”.
O síndico do edifício Riqueza lavou as mãos. Afirmou que o condomínio não tem responsabilidade, pois o dono do Filé Carioca alugava o imóvel diretamente com o proprietário e não pagava condomínio, tendo apenas entrada pela frente, sem acesso pelos fundos. “Não sabia que estava em situação irregular. Os seguranças do prédio impedem a entrada de botijões, mas o restaurante tem entrada independente”, alegou o advogado José Carlos Nogueira, 50, síndico há 10 anos.
Dois dos mortos eram funcionários do Filé Carioca. Severino Antônio, cozinheiro, e o sushiman Josimar dos Santos Barros foram lançados sobre a Praça Tiradentes. Funcionário de um banco na mesma rua, Matheus Maia Macedo de Andrade, 19 anos, passava pela calçada no momento da catástrofe, e também morreu.
Os feridos com maior gravidade são Igídio da Costa Neto, 46 anos, Daniele Cristina, 18 anos, e um homem identificado como Roberto, 30 anos. Ao todo, 17 pessoas ficaram feridas, a maior parte com escoriações.
Além das vítimas, há um rastro de prejuízos e destruição. Comerciantes do entorno não sabem como vão recuperar as instalações, produtos e o prejuízo de ter portas fechadas no início das vendas de Natal.
(Com reportagem de Cecília Ritto e Rafael Lemos, do Rio de Janeiro)