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Caso Pesseghini: adolescente acusado de matar pais tinha doença mental, diz perito

Psiquiatra forense Guido Palomba afirma que Marcelo Eduardo, de 13 anos, assassinou família durante delírio e se suicidou por ver plano fracassado

Por Felipe Frazão 23 set 2013, 21h39

Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini – o adolescente de 13 anos suspeito de matar os pais policiais militares e de se suicidar em seguida – sofria de doença mental e tinha delírios que o faziam misturar a realidade com um mundo paralelo de fantasia. A conclusão é do especialista em psiquiatria forense, Guido Palomba, que assinou um laudo encomendado pela Polícia Civil. Palomba entregou o documento ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que deve encerrar a investigação e indicar que o garoto, de fato, foi o autor do crime no início de agosto.

De acordo com o DHPP, no dia 4 de agosto Marcelinho atirou no pai, o sargento das Rondas Tobias de Aguiar (Rota) Luís Marcelo Pesseghini, de 40 anos, na mãe, a cabo Andréia Bovo Pesseghini, de 36, na avó-materna Benedita de Oliveira Bovo, de 65, e na tia-avó Bernadete Oliveira da Silva, de 55. Na manhã do dia 5 de agosto, foi à escola. E voltou para casa, onde atirou contra a própria cabeça com a pistola .40 da mãe. Toda a família foi encontrada morta dentro de casa.

A doença mental e o “delírio encapsulado” de Marcelo Eduardo motivaram o crime. “A explicação é psicopatológica. Se você não admitir a doença, não vai compreender esse crime”, disse Palomba. “Ele cometeu esse crime por doença mental.”

Palomba afirmou que, quando criança, o adolescente teve uma lesão cerebral – encefalopatia – mais tarde associada a distúrbios de comportamento, à frieza e à insensibilidade afetiva. Por causa da encefalopatia, ele também teve delírios sistematizados – conhecidos por monomania e considerados “determinantes” no crime pelo perito.

A rotina de vida de Marcelo Eduardo – fã de jogos violentos e filho de um casal de PMs – influenciaram os delírios surgidos a partir da doença.

Marcelo Eduardo passou a perseguir o sonho fantasioso de abandonar a escola e sair de casa para se tornar um justiceiro. “Ele queria se tornar um justiceiro errante, sair a esmo para matar bandidos. Mas sem planos, era um ideal delirante”, explicou. “Para a explicação desse crime é importante a gente admitir a fusão da realidade com a fantasia. A realidade e a fantasia existem amalgamadas nas crianças.”

Origem – Durante três semanas, Palomba realizou uma perícia póstuma retrospectiva para traçar o perfil de Marcelo Eduardo. O psiquiatra forense fez entrevistas por conta própria, pesquisas no material escolar no menino, nos depoimentos prestados por familiares, professores e colegas de escola e analisou os laudos do Instituto Médico Legal (IML), dos peritos da Polícia Técnico-Científica e o inquérito policial.

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A causa encontrada para a doença mental foi uma falta de oxigenação no cérebro – hipóxia -, que ocorreu três dias antes de Marcelo Eduardo completar dois anos de idade, enquanto estava no Hospital Cruz Azul. Palomba disse que a médica Neiva Damasceno, que cuidava do adolescente, relatou o episódio. Ele nascera com fibrose cística, uma doença que impede a produção de enzimas essenciais para a alimentação e causa complicações respiratórias. “Ainda que minimamente, o cérebro ficou lesado”, disse Palomba. “Uma hora ou outra a doença iria se manifestar.”

Segundo Palomba, os delírios surgiram no início deste ano, época em que Marcelinho criou um “Clube dos Mercenários” com colegas da escola. Uma série de fatores influenciaram os delírios do menino: ele aprendera a dirigir e a atirar com arma de fogo, passara a jogar jogos de videogame violentos (com tiroteios e assassinatos), e na casa dele se conversava sobre morte, homicídios e matadores por causa da profissão dos pais. “A vida e a morte eram coisas do dia a dia para ele”, disse o psiquiatra.

https://youtube.com/watch?v=rfg-iSEXv0Y

Familiares – Palomba atestou que o menino assassinou os pais, a avó e a tia-avó por causa da superproteção deles – e não porque tivesse problema afetivo com a família. A postura dos pais era considerada, no delírio do garoto, um obstáculo ao plano de se tornar um matador. “Ele matou os pais porque a família era um entrave nessas ideias de se tornar um justiceiro e ele tinha que eliminar. Ele não matou porque tinha ódio dos pais.”

O especialista também afirmou que Marcelinho não contou seu plano para nenhum adulto – o que fez com que ninguém percebesse o delírio. “Uma característica do delírio circunscrito e sistematizado é que ele passa como se fosse inexistente até alguém tocar no assunto. Aí ele explode”.

O psiquiatra disse que Marcelo Eduardo tentou convencer amigos do colégio a aderirem ao plano fantasioso dele – sem sucesso. No domingo antes do crime, telefonou às 16 horas para um amigo avisando que mataria a família. E na segunda-feira, após atirar nos pais e ir à aula, relatou ter cometido o crime e chegou a mostrar as chaves do carro para que pudesse fugir. “Nenhum amigo deu trela para isso, acharam que era da boca para fora”.

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A falta de adesão ao plano de fugir dos que seriam os demais integrantes do “Clube dos Mercenários”, que frustrou o plano de Marcelo Eduardo, é vista como a causa do suicídio. Palomba deduziu que Marcelo Eduardo não sentiu remorso ou arrependimento de ter matado os pais. “Ele se suicidou por fracasso, porque nenhum amigo o seguiu. Com a mesma indiferença e simplicidade com que ele matou os pais ele se matou. A frieza está no encefalopata.”

O psiquiatra disse que os delírios não afetaram a inteligência, percepção, memória, raciocínio e o humor do menino.

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