Opinião: Cristiano Ronaldo teve 2016 perfeito – sem jogar bem
Nas estatísticas, o português do Real Madrid foi o melhor do ano. Mas se limitou a ser “apenas” uma máquina de gols
Cinquenta e cinco gols em 57 jogos, títulos da Liga dos Campeões e da Eurocopa e mais uma Bola de Ouro para a conta. Como discordar que Cristiano Ronaldo foi o melhor jogador de futebol do mundo em 2016? Impossível. Aos 31 anos, o atacante do Real chegou ao ponto mais alto de sua carreira. Isso não significa, porém, que Cristiano tenha sempre feito partidas primorosas. Por sua impressionante capacidade de finalização, fruto de horas e horas diárias de sacrifício, o camisa 7 chegou a um ponto em que, mesmo quando joga mal, é decisivo. A final do Mundial de Clubes deste domingo foi basicamente um resumo de seu ano.
Cristiano Ronaldo não jogou bem diante do Kashima Antlers. Sua atuação na primeiro tempo chegou a ser constrangedora: tropeçou na bola ao tentar driblar, tomou decisões erradas, foi individualista ao extremo. No segundo, seguia sem inspiração até marcar o primeiro de pênalti. Na prorrogação, recebeu duas bolas de frente para o goleiro japonês e marcou em bonitos chutes de esquerda – ele nasceu destro na Ilha Madeira, mas adquiriu uma bomba nas duas pernas com muita dedicação nos treinos. Marcou três e foi eleito o melhor do torneio. Seu parceiro Karim Benzema, que acertou praticamente todas as jogadas, mas marcou “apenas” um gol no jogo, não ficou nem entre os três candidatos.
Marketing? Gols!
Há mais de uma década, os críticos de Cristiano associam seu sucesso em campo à sua figura pública: vaidoso, polêmico, bonito, é o produto perfeito para os publicitários. As propagandas de cueca podem até tê-lo ajudado ao longo dos anos, mas não fizeram diferença alguma em 2016. O trintão Cristiano teve um ano espetacular simplesmente por que não falhou nas horas decisivas. E, até quando esteve ausente, teve a estrela dos campeões.
Não há como negar: a sorte esteve ao lado de Cristiano. Real Madrid e Portugal escaparam das principais pedreiras da Europa para conquistar seus troféus. O time espanhol passou, sem brilho, por Roma, Wolfsburg e Manchester City, antes da vitória diante do rival Atlético de Madri na decisão. Cristiano só fez maravilhas diante dos alemães. Mas marcou 16 gols no torneio, um recorde. Sentindo dores, o português não jogou bem a decisão em Milão. Mas cravou o gol do título na decisão por pênaltis. No tempo normal, também de pênalti, o francês Antoine Griezmann, que poderia brigar pela Bola de Ouro, teve sua chance, mas errou.
Na Eurocopa, o destino também jogou a favor de Cristiano. Portugal se classificou com três empates em um grupo que tinha Islândia, Áustria e Hungria. Depois, vitórias sobre Croácia, Polônia (nos pênaltis) e País de Gales. Cristiano foi fundamental, ainda que sem brilho. Só na decisão Portugal encontrou uma potência do continente, a anfitriã França. E perdeu seu capitão logo aos oito minutos de partida. Mesmo lesionado, Cristiano fez as vezes de auxiliar técnico e maestro à beira de campo e Portugal venceu de forma inédita, épica e surpreendente, com gol do desconhecido Eder. Sem jogar, Cristiano voltou a ser herói e capa de todos os jornais.
Metamorfose
Cristiano Ronaldo não foi sempre assim. Durante os primeiros anos, no Sporting de Lisboa e no Manchester United, jogava pelas pontas e chamava atenção por sua habilidade e facilidade para driblar. Sempre gostou de fazer gols, mas era mais generoso e se destaca nas assistências. Desde sua chegada ao Real Madrid, em 2009, porém, Cristiano assumiu a grande área como seu habitat natural. E se tornou uma máquina de fazer gols.
Dos 571 gols marcados por Cristiano na carreira, 380 foram pelo Real Madrid, segundo números do site FutDados, o que faz dele o maior artilheiro da história do clube mais vitorioso do mundo. As estatísticas, porém, mostram uma leve queda em seu rendimento em 2016. O (excepcional) número de 55 gols foi o seu menor desde 2010. Cristiano, porém, não deve estar muito preocupado com isso.