Em uma decisão pioneira no mundo, o Brasil autorizou o uso de um remédio emagrecedor para jovens. O aval estimula a discussão sobre o aumento estrondoso da obesidade juvenil, condição que foi reforçada com o prolongado confinamento obrigatório da quarentena.
Levantamento da Imperial College, em Londres, em parceria com a Organização Mundial da Saúde, mostrou que nos últimos cinquenta anos o índice de crescimento do problema entre os jovens saltou globalmente em 1027% — o dobro em relação aos adultos.
O composto imita uma substância natural do organismo, o GLP-1, o principal hormônio associado à sensação de saciedade e ao mecanismo de produção de insulina. O GLP-1 é sintetizado toda vez que o alimento chega à porção final do intestino delgado. Nesse momento, o hormônio ativa as células cerebrais de fastio e da fome e reduz os movimentos intestinais de contração, prolongando a satisfação alimentar.
Cerca de 70% da ingestão calórica de um garoto ou uma garota de até 12 anos acontece sob os domínios da família. Pais ocupados ou exaustos inúmeras vezes oferecem aos filhos macarrão instantâneo, nuggets de frango congelados e sucos de caixinha. Houve o breve interregno dos primeiros dias de quarentena, mas já passou. E, agora, retoma-se a linha evolutiva da história contada pelo que vai à boca — e que a propaganda alimentou.
A obesidade infantil, filha dessa postura desregrada, se não for tratada, é um gatilho para doenças crônicas e graves. “Sob o ponto de vista fisiológico, se fosse escolher a pior fase da vida para ser obeso eu diria que é na adolescência”, diz o nutrólogo Rauen. Um dos principais motivos: o número de células adiposas, que retêm gordura, conhecidas como adipócitos, é geralmente definido até os 20 anos. Depois dessa idade, nada é capaz de diminuir a quantidade de adipócitos, nem o mais drástico regime alimentar. Vale o sábio conselho que virou mantra entre os bons endocrinologistas: “A melhor forma de emagrecer é nunca engordar”. Cuidemos das crianças e adolescentes.