Terra gira mais rápido neste verão e pode afetar GPS e internet
Mudanças sutis na rotação do planeta vêm sendo observadas desde 2020 e mostram como fenômenos naturais e ações humanas podem influenciar até o tempo de um dia

Durante os meses de julho e agosto, a Terra tem girado ligeiramente mais rápido do que o normal. No dia 9 de julho, por exemplo, o planeta completou sua rotação em 1,3 milissegundo a menos do que o habitual. Para o dia 5 de agosto, a previsão é de um encurtamento de 1,52 milissegundo. Diferenças tão pequenas podem parecer irrelevantes, mas são registradas com extrema precisão por cientistas ao redor do mundo.
Embora a rotação da Terra desacelere lentamente ao longo dos séculos — efeito causado principalmente pela influência gravitacional da Lua —, desde 2020 os pesquisadores têm observado o movimento contrário: uma aceleração pontual. O fenômeno está relacionado a uma série de fatores naturais que alteram a distribuição de massa do planeta e, consequentemente, sua velocidade de rotação.
O que explica essa aceleração?
Entre as principais causas apontadas pelos cientistas estão a posição da Lua em determinados momentos do ano, que afeta mais intensamente os polos do que o Equador, e mudanças no núcleo e no manto terrestre. Também contribuem eventos atmosféricos, como o El Niño, e alterações na hidrosfera, como a extração de água subterrânea ou o derretimento de geleiras.
A ocorrência de terremotos também pode influenciar a rotação. Em 2011, o terremoto que atingiu o Japão encurtou o dia em 1,8 microssegundo e deslocou a ilha principal do país em mais de dois metros. Cada variação, por menor que pareça, interfere no cálculo exato do tempo, que é fundamental para o funcionamento de diversos sistemas tecnológicos.
Como isso afeta a tecnologia?
Mudanças na duração dos dias exigem acompanhamento contínuo por parte da ciência, especialmente porque muitos sistemas — como o GPS, redes de telecomunicações e missões espaciais — dependem de uma sincronização precisa com o tempo atômico. Em um milissegundo, um sinal de fibra óptica pode percorrer 300 quilômetros, o que mostra o potencial impacto de variações tão sutis.
Para evitar erros de navegação ou falhas em operações sincronizadas globalmente, cientistas utilizam relógios atômicos e, quando necessário, fazem ajustes conhecidos como “segundos intercalares” no Tempo Universal Coordenado (UTC), mantendo-o alinhado com a rotação real do planeta.
Ainda que imperceptível para as pessoas no cotidiano, a aceleração no giro da Terra tem implicações reais. Um pequeno desvio no tempo pode afetar desde a estabilidade da internet até o cálculo exato do pouso de uma espaçonave. Com base nos dados mais recentes, especialistas seguem monitorando a rotação do planeta com atenção — e milissegundos de antecedência.