Só falta falarem… O incrível avanço das chamadas malas inteligentes
Elas já andam sozinhas, em extraordinário salto tecnológico
Sim, deve haver problemas modernos mais graves, mas nada se compara à terrível sensação de perder uma mala de viagem — cinco, dez, vinte minutos à margem da esteira e nada. É irritante, pode ser desesperador, e muitas vezes não há nada a fazer, a não ser reclamar, comprar paciência em um mercado volátil, ir para o hotel ou voltar para casa — e chorar. Todos os anos estima-se um total de 33,4 milhões de valises perdidas ou roubadas em todo o mundo, em estrago que pode custar às companhias aéreas algo em torno de 2 bilhões de dólares. A estatística é cruel: nas travessias internacionais há cinco vezes mais probabilidade de extravio do que nas domésticas. O que fazer? Pedir socorro para a tecnologia, em movimento que tem ganhado força nos últimos anos e que em 2026 dará salto extraordinário. Trata-se, enfim, de ir e vir com as chamadas malas inteligentes, e adeus ao romantismo de peças que valiam apenas pela durabilidade, adeus aos imensos baús a singrar mares e ferrovias da virada do século XIX para o XX. Adeus, enfim, a tudo o que anda por aí.
É um admirável mundo novo. No ano passado, em relação aos doze meses anteriores, o mercado das modernas bagagens cresceu 40% — encostou em 2,5 bilhões de dólares e deve chegar ao dobro em 2030. De tão eficientes, só falta os equipamentos falarem, porque já andam sozinhos. Sim, isso mesmo. Há modelos motorizados, com tecnologia e autonomia para acompanhar o viajante pelo saguão dos aeroportos. Batizadas de autônomas, essas malas se conectam ao smartphone do usuário via Bluetooth ou a uma pulseira especial, dependendo do modelo. Um sensor integrado rastreia a localização do dispositivo e o objeto passa a segui-lo a uma distância segura, geralmente entre 1 e 1,5 metro. Para garantir a segurança da bagagem, há ainda um alarme que dispara sempre que ela se distancia demais do dono.
Como em quase tudo que envolve eletrificação e inteligência artificial, os chineses estão na dianteira desses gadgets. É o caso da Cowarobot, startup que recentemente ampliou sua atuação ao transferir a tecnologia para outros equipamentos urbanos, como varredoras de rua e vans de entrega. O modelo da marca permite ainda que o dono rastreie a mala caso ela seja roubada ou se desvie no meio da multidão. Em períodos de aeroportos lotados, como o que se aproxima com as festas de fim de ano — quando são esperados 1,4 milhão de voos no mundo —, um localizador é especialmente útil.
Para quem não quer investir em uma mala inteligente, que pode chegar a 4 000 reais, sem contar a taxa de importação, cabe um parêntese, pois há alternativas como as tags de rastreamento, que custam entre 50 e 200 reais e podem ser acopladas a qualquer objeto. O Galaxy SmartTag2, por exemplo, funciona via Bluetooth e pela rede colaborativa da Samsung, o SmartThings, para rastrear itens de um celular Samsung. Em curtas distâncias, o rastreamento é feito por Bluetooth e tem um alarme sonoro de localização. A Apple também possui um dispositivo similar, vendido na mesma faixa de preço.
Entre as malas mais divertidas do mercado, as chamadas “tripuladas” chamam atenção onde quer que estejam — e chegam a despertar inveja, especialmente em aeroportos imensos, como o Rei Fahd, na Arábia Saudita. Na lateral da mala há um guidão embutido: basta puxá-lo para que ela se transforme em uma espécie de scooter. O proprietário senta na bagagem e sai dirigindo pelo saguão. O modelo da chinesa Uzouri custa cerca de 2 500 reais na Amazon. Antes de optar por uma mala desse tipo, é crucial verificar as restrições dos aeroportos, que variam bastante. Alguns exigem que a bateria seja retirada antes do embarque; outros simplesmente não permitem a circulação das malas tripuladas.
As diferenças não param por aí. “Na Europa, por exemplo, as companhias low cost determinam um tamanho de mala muito menor a bordo do que o permitido no Brasil”, diz a dentista Lilian Yumi, que comprou uma bomba de vácuo para comprimir a roupa e levar mais itens do que caberia normalmente. Vale quase tudo, porque o futuro já chegou. E caso dê tudo errado, nem mesmo a superioridade das malas espertas resolva, resta rir com uma espirituosa frase da humorista americana Erma Bombeck (1927-1996), que ironizava as modernidades: “Já percebeu que a primeira mala a aparecer na esteira nunca é de ninguém?”.
Publicado em VEJA de 5 de dezembro de 2025, edição nº 2973
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