Pulseira traduz gestos de mão em comandos de computador
Ferramenta desenvolvida pela Meta dispensa calibração demorada, um avanço significativo na interface entre humanos e aparelhos digitais

A Meta, por meio da sua divisão Reality Labs, desenvolveu uma pulseira com potencial para transformar de forma revolucionária a interação humano-máquina. Este dispositivo inovador traduz os sinais elétricos gerados pelos movimentos musculares do pulso e da mão em comandos para computadores. A motivação para essa pesquisa é superar as limitações de métodos tradicionais, como teclados e telas sensíveis ao toque, que podem ser restritivos, especialmente em situações de mobilidade prejudicada.
A equipe de cientistas liderada por Patrick Kaifosh e Thomas Reardon, que publicou artigo na revista Nature, focou na eletromiografia de superfície (sEMG), uma abordagem não invasiva que detecta a atividade elétrica dos músculos com alta relação sinal-ruído. O desafio central de interfaces baseadas em biossinais historicamente tem sido a necessidade de calibração personalizada para cada usuário ou sessão.
A inovação da Meta foi a coleta de grandes volumes de dados de treinamento de milhares de participantes, em alguns casos, mais de 6.000, utilizando uma infraestrutura escalável. Com essa vasta base de dados, eles empregaram aprendizado profundo para criar modelos de decodificação genéricos que funcionam com precisão para diferentes pessoas, eliminando a necessidade de calibração individual. A pulseira é altamente sensível, confortável, pode ser colocada e retirada em segundos, e utiliza 48 eletrodos banhados a ouro para detectar os sinais musculares.
O protótipo, que se comunica com um computador via Bluetooth, reconhece gestos em tempo real para diversas interações. As capacidades demonstradas incluem o controle contínuo de navegação (com o pulso), permitindo que o usuário controle um cursor. Também realiza a detecção de gestos discretos, como pinçadas ou deslizes do polegar, a uma taxa de quase um gesto por segundo.
Além disso, oferece entrada de texto por escrita manual no ar, alcançando velocidades de 20.9 palavras por minuto. Embora um teclado de celular atinja cerca de 36 palavras por minuto, o desempenho da pulseira é notável e se aproxima das taxas de erro da digitação móvel. A grande conquista é a generalização “pronta para usar”, permitindo que o dispositivo funcione para novos usuários quase instantaneamente.
Melhoria de desempenho
Apesar do avanço, os pesquisadores indicam direções futuras para o desenvolvimento em larga escala. A melhoria de desempenho ainda é necessária para equiparar-se a interfaces como trackpads ou controles de videogame. A personalização pode aprimorar significativamente a precisão, em até 30% para a escrita manual, com um pequeno ajuste adaptado ao estilo de movimento de cada indivíduo. Continuar a coletar conjuntos de dados mais amplos e diversificados é fundamental para o avanço dos modelos de decodificação.
Além disso, a tecnologia possui um enorme potencial para aumentar a acessibilidade para pessoas com deficiências motoras, como mobilidade reduzida, fraqueza muscular, amputações ou paralisia, permitindo interações de baixo esforço. Para acelerar a pesquisa colaborativa, a Meta está disponibilizando publicamente mais de 100 horas de gravações de sEMG de 300 participantes, juntamente com o código dos modelos.
Esta pulseira pode ser vista como um tradutor universal da “linguagem silenciosa” do corpo humano. Ela decifra os sinais elétricos minúsculos dos músculos, convertendo-os em comandos que qualquer computador pode entender, sem a necessidade de “ensinar” cada novo gesto. Isso abre caminho para um futuro onde a tecnologia responde aos nossos menores impulsos, quase como uma extensão da nossa própria mente.