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Por dentro do 190 de Israel contra ataques de hackers

País é pioneiro em criar sistemas pelos quais qualquer um pode pedir auxílio contra assaltos digitais. VEJA visitou a central de monitoramento

Por Filipe Vilicic, de Tel Aviv
Atualizado em 29 jan 2020, 10h03 - Publicado em 29 jan 2020, 10h00
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  • Já recebeu por WhatsApp aqueles links suspeitos, com promoções imperdíveis que nem soam verdade – e não são? Ou ainda e-mails elaborados, que pareciam enviados por um colega de trabalho, todavia contendo arquivos estranhos cheios de bugs? Aí quando clicou no link, ou no arquivo, de repente trava tudo no computador ou no smartphone, sendo que poucos depois se descobre que se caiu na armadilha de um hacker.

    Como é de costume no mundo virtual, usualmente essas situações elevam de patamar, em gravidade, em questão de minutos. Não demora a se revelar que de repente o invasor digital já está utilizando o cartão de crédito da vítima. O que fazer nessas situações? Para quem pedir socorro?

    No Brasil, não há muito a ser feito. Na melhor das hipóteses, o banco restitui algum valor roubado, mas se acaba com um celular, ou notebook, contaminado e inutilizado. Além disso, o hacker se safa, sem punição. Pois Israel criou uma solução ousada para o problema.

    Trata-se do 119. Um número de emergência para vítimas de crimes digitais – de qual tipo for, dos mais leves (como spams) aos gravíssimos (como quando um executivo de uma instituição financeira percebe um problema nos e-mails da companhia). Além desse recurso, dispõem-se de ferramentas ainda mais avançadas para lidar com situações emergenciais.

    VEJA visitou ontem (28) o centro dessa operação, na cidade histórica de Be’er Sheva, localizada no deserto do Neguebe e na qual o governo israelense, em parceria com o setor privado e com acadêmicos, constrói um novo hub tecnológico, um tanto inspirado no Vale do Silício californiano – e já com investimentos que superam a dezena de bilhões de dólares. A região é altamente vigiada e militarizada. O próprio CERT (a tradução da sigla seria algo como Time de Resposta Cibernética Emergencial), no qual se situa a central do 119, é composto principalmente por veteranos da unidade 8200, parte do Corpo de Inteligência das Forças de Defesa de Israel, e cuja missão é captar sinais digitais estranhos e decifrar códigos, em meio à guerra virtual entre nações e corporações.

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    No prédio que serve de central para o serviço, e no qual trabalham 80 profissionais, concentra-se o que o governo chama de operação de resiliência. Diferentemente das unidades militares, como a 8200, a função do CERT não é ingressar ativamente no conflito digital entre países. Lá o foco é prevenir e, quando se detectam ações de hackers, reagir.

    “Temos de ser mais rápidos que os caras maus”, resumiu Lavy Shtokhamer, responsável por chefiar o CERT e que recebeu a reportagem no local. Engenheiro e ex-militar, membro do 8200 – cuja fama repercute em Israel; ainda mais pelos altos salários que os veteranos ganham após deixar o Exército –, Shtokhamer lançou o atendimento 119 há seis meses. “Não começamos ainda uma divulgação ampla, mas já recebemos uma média de 120 ligações diárias, sendo que vinte se tratam de incidentes reais”.

    Há, portanto, diversas chamadas que acabam por se revelar como frutos de impressões irreais do cidadão que liga – normalmente, acha que o smartphone foi invadido, mas não foi. Algumas histórias são surreais. “Já ligaram dizendo que havia um extraterrestre na casa, assim como teve outro que tinha certeza que o ar-condicionado havia sido dominado por um hacker e estava prestes a ‘atacar’”, compartilha Shtokhamer.

    Depois de receber a ligação, o que é feito? Os profissionais orientam o indivíduo a como agir para limpar a máquina infectada pelo vírus, ou como se livrar de um spam. Em casos complexos, a operação dispõe de cinco times em campo, que pode ir até o local, resolver o problema. Quando necessário, aciona-se a polícia para iniciar uma investigação para prender o criminoso.

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    Entretanto, o 119 só funciona como telefone de emergência. No CERT há também uma série de sistemas preventivos, especializados em detectar e combater ataques em setores críticos da sociedade. Por exemplo, criou-se uma rede social, a Cybernet, pela qual 1000 proprietários de ações ou alto-executivos de empresas israelenses podem pedir socorro, ou ainda avisar de ameaças detectadas em suas corporações – ambiciona-se ampliar o serviço, contemplando também parceiros de países de língua inglesa. Denúncias podem ser feitas de forma anônima. “Isso porque muitas companhias não querem revelar que foram comprometidas por um hacker, o que acabaria por afetar os negócios”, explica Shtokhamer.

    Existem ainda duas ferramentas desenhadas para atender setores específicos. Uma delas procura prevenir e reagir a agressões virtuais a instituições financeiras. Todos os bancos atuantes em Israel, além de diversas agências e instituições estrangeiras – incluindo órgãos como o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (conhecido como Homeland Security) –, integram esse sistema. Noutra sala, instalou-se um recurso de meta similar, porém especializado na área de telecomunicações.

    “Não é uma defesa infalível, mas fundamental, pois aposto que nos próximos anos presenciaremos verdadeiras calamidades iniciadas por hackers, em países que não se protegem”, opinou hoje (29) o ministro de Energia de Israel, Yuval Steinitz, durante a conferência Cybertech, que ocorre nesta semana na cidade de Tel Aviv, a cerca de 100 quilômetros do prédio do CERT. “Nos últimos meses, chegamos a flagrar e barrar uma complexa tentativa de comprometer e controlar todo o sistema de fornecimento de energia do país”.

    Nas salas do CERT em Be’er Sheva, telas de computadores exibem, em tempo real, atividades de criminosos virtuais, de acordo com a localização no planeta detectada como origem primária do assalto. “Nota-se que a maioria parece vir dos EUA”, pontua Shtokhamer, ao apontar pontos coloridas na tela. “Mas não é bem isso. Os hackers se escondem atrás de métodos que mascaram onde eles realmente estão; nessas situações, todos são de fora dos EUA”.

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    Um dos mapas da tela parece algo saído de um videogame. É cheio de ícones, acompanhados de números ao lado. Um deles chama atenção: o símbolo de um alvo, com um “3” colado a ele. Ao ser questionado sobre, o chefe da divisão fala, de forma bem calma: “São três mísseis disparados contra Israel agora”. Como assim? “É normal, não se preocupem. Lidamos com isso diariamente e não há problema. Graças ao Domo de Ferro (o avançadíssimo dispositivo de defesa antiaérea daquela nação)”.

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