Os Jetsons venceram: a nova geração de robôs domésticos
Eles incorporam sensores, mobilidade autônoma e inteligência artificial para, como no desenho animado, realizar as tarefas chatas do lar
No desenho animado Os Jetsons, um clássico do século passado, a temperamental robô Rosie faz a faxina da casa, tira as crianças da cama, ajuda os adultos a trocar de roupa e ocasionalmente resolve as encrencas em que algum deles se meteu. Embora não exista no mercado uma máquina tão qualificada quanto a inesquecível Rosie, o avanço tecnológico dos últimos anos levou ao surgimento de uma nova geração de robôs capazes de — ufa! — executar pequenas tarefas domésticas. Eles não dão aquele lustre nos objetos, não passam camisas nem preparam o almoço, mas ao menos oferecem certos préstimos que facilitam a rotina do lar. A era dos Jetsons ainda não chegou, se é que chegará algum dia, mas a tecnologia já abriu portas que pareciam intransponíveis.
O exemplo mais recente da nova fase é o robô Astro, apresentado há alguns dias pela americana Amazon. O aparelho, que ironicamente recebeu o nome do cachorro da família Jetson, possui sensores baseados em algoritmos que o tornam habilitado para aprender com a experiência, como se fosse um humano de verdade. Se o dono o ensina a enviar lembretes — pode ser o aviso de horário para tomar um remédio, por exemplo —, Astro jamais esquecerá a orientação. Graças a sua capacidade de desviar de obstáculos e ao seu conjunto de câmeras, ele se movimenta livremente pela casa e consegue até transportar pequenos objetos de um canto a outro, como uma desejada latinha de cerveja, ou levar petiscos para os cães.
Astro também é eficaz para monitorar ambientes. Enquanto o dono trabalha, o robô transmite ao vivo o que acontece dentro de casa e emite alarmes se houver algo errado. Sua inteligência artificial é a mesma que equipa a já consagrada assistente virtual Alexa. A exemplo dela, Astro interage com outros dispositivos eletrônicos, como smartphones, TVs e caixas de som — ele, portanto, faz e recebe ligações de áudio e vídeo, ajuda a escolher um filme no catálogo da Netflix e toca as preferências musicais da família em questão. Segundo a Amazon, o equipamento começará a ser vendido nos Estados Unidos ainda neste ano, por aproximadamente 1 000 dólares.
Se Astro, por assim dizer, não é muito chegado ao trabalho pesado, o robô Handy, da Samsung, tem um dote extraordinário: ele lava louças, o que talvez elimine muitas das disputas domésticas. Por enquanto, a sul-coreana não fornece detalhes do dispositivo, mas sabe-se que, além de esvaziar a pia, Handy coloca vinho na taça, arruma a mesa após o jantar e dobra a roupa lavada. Não há data certa para a sua chegada ao mercado, mas a expectativa é que seja em 2022.
Como não poderia deixar de ser, Elon Musk, um dos visionários de nosso tempo, tem um projeto ambicioso na área. Trata-se do Tesla Bot, um humanoide dotado da mesma inteligência artificial embarcada nos carros autônomos da marca. Com 1,72 metro de altura e 57 quilos, o Tesla Bot está sendo concebido para executar tarefas que muitos consideram chatas, como ir ao supermercado, ou repetitivas, como limpar janelas. Embora o preço oficial não tenha sido publicado, estima-se que o Tesla Bot custe 10 000 dólares. Os primeiros protótipos devem ficar prontos até o ano que vem.
Embora robôs aspiradores de pó tenham sido lançados no distante 1996, foi só recentemente que esse tipo de tecnologia virou tendência, o que se deve sobretudo às inovações na área de inteligência artificial. Os equipamentos desajeitados de outrora agora sabem se locomover com certa elegância e, graças ao número elevado de sensores, não esbarram o tempo todo nos objetos do lar. “O desejo do ser humano por dispositivos capazes de executar, de forma autônoma, as tarefas cansativas do dia a dia sempre existiu”, afirma Oswaldo Horikawa, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e especialista em engenharia mecatrônica. “Hoje em dia, dispomos de uma abundância de recursos tecnológicos cada vez mais compactos, eficientes, poderosos e baratos, que aproximam esse sonho da realidade.” A continuar assim, no futuro os Jetsons seremos nós.
Publicado em VEJA de 13 de outubro de 2021, edição nº 2759