Grande parceiro da saúde, a tecnologia foi fundamental para avanços significativos. Alguns marcaram pelo poder revolucionário, como a descoberta do raio-X que, em 1895, possibilitou observar, pela primeira vez, partes internas do corpo sem a cirurgia exploratória. Na maioria dos casos, no entanto, a tecnologia ajudou – e ajuda – a aperfeiçoar o que já está aí, exames e procedimentos estabelecidos, melhorando eficiência e custo. Diante dessa perspectiva, a biomédica Ana Carolina Borges Monteiro, de 29 anos, resolveu mergulhar na Engenharia Elétrica e da Computação para vencer um desafio: aumentar a acessibilidade aos hemogramas, exame de sangue fundamental para o diagnóstico de várias doenças, como a dengue, transmitida pela fêmea do mosquito Aedes aegypti (quando também infectada).
Atualmente, a alta de casos de contaminação levou a maior cidade do Brasil, São Paulo, a decretar estado de emergência, na última segunda-feira (18). Além dos sintomas físicos, o vírus é detectado pela baixo número de plaquetas, células de defesa do organismo, verificado no hemograma. O novo exame chega em boa hora.
Em um curso de pós-graduação da Unicamp, Ana Carolina desenvolveu o processo digital, onde o patologista precisa apenas da mostra do sangue do paciente, um celular acoplado a uma lente de microscópio e um laptop. “A ideia faz o custo cair para menos da metade”, diz a biomédica. Atualmente os laboratórios usam o analisador hematológico, uma espécie de contador automatizado de células, que custa em média 50 mil reais. O resultado de cada mostra de sangue sai em até dois minutos. O tempo cai para 5 segundos com a tecnologia digital. Mas o grande pulo do gato é a facilidade com que o equipamento pode ser transportado para regiões distantes, como comunidades ribeirinhas, entre outros rincões do Brasil, que não possuem estrutura laboratorial.
No primeiro método usado nesse tipo de análise de sangue, quem fazia a contagem das células era o patologista, com o auxílio do microscópio. Tratava-se de uma técnica bem demorada, cansativa e mais propensa a erros de diagnóstico. A contagem automática foi um grande passo. Agora, a digital simplifica ainda mais o processo. O sistema é até bem básico. Ana desenvolveu um banco de algorítmicos com imagens de amostras de sangue disponíveis na internet. Essas informações são cruzadas com as fotos das células do paciente e o sistema consegue disponibilizar a tipagem.
A contagem é pré-programada para reconhecer os padrões de células. A programação rotula e coloca um número em cada uma das imagens do sangue do paciente, para que o profissional biomédico analise e tire dúvidas quando necessário. Quem dá o laudo final é o patologista, que tem a liberdade de acrescentar alterações. A metodologia não exclui o profissional, pelo contrário, é um aliado. E pode ajudar muito, quando estiver no mercado, não apenas no diagnóstico da dengue, hoje, uma questão nacional, mas também no diagnóstico de outras doenças, como o câncer. Uma ideia simples, barata e de grande impacto na saúde.